domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Feliz Natal e Tal: 1ª Temporada – Uma série que peca em sua originalidade

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Em fevereiro deste ano, a Netflix anunciou que trabalharia em uma nova série original possivelmente antológica a ser lançada nas semanas antecedentes ao Natal e ao Ano-Novo. Pouco depois, o  showrunner Tucker Cawley, conhecido por seu incrível trabalho em produções como Everybody Loves Raymond e Parks and Recreation, foi contratado para dar vida a uma nova história que ficaria conhecida como Feliz Natal e Tal – e o resultado, apesar de funcionar mais como uma cópia de qualquer outra investida de final de ano, funciona dentro de suas limitadas propostas e basicamente conta com a habilidade de envolvimento de seu elenco.

O enredo segue à risca as estruturas de uma sitcom e gira em torno de Emmy (Bridgit Mendler, voltando para as telinhas anos depois de ter estrelado ‘Boa Sorte, Charlie!’), uma jovem executiva que está retornando para a Filadélfia a fim de passar os feriados com sua gigantesca – e um tanto quanto desconexa – família. Mais do que isso, ela deseja introduzir aos parentes o namorado Matt (Brent Morin), que luta praticamente a temporada inteira para causar uma boa impressão e ser aceito como novo membro do núcleo protagonista. E é óbvio que, em se tratando de um show de comédia romântica, o casal irá passar por poucas e boas até que suas resoluções se completem e caminhem para um final feliz (e hilário, é claro).



A princípio, Matt é confrontado pela dura personalidade de Don (Dennis Quaid), pai de Emmy e a materialização do estereótipo superprotetor da figura patriarcal que deve “reclamar” seu posto principalmente depois da morte da esposa. Como se não bastasse, ele é conhecido por toda a cidade, ainda mais por trabalhar como chefe da delegacia local – então as coisas caminham muito bem. Além disso, o personagem de Morin também conhece outras figuras um tanto quanto contraditórias quanto ao jeito de se portar e explosivas (muito explosivas). Temos, de um lado, a otimista e vibrante Patsy (Siobhan Murphy), que é tão receptiva que chega a assustar os mais desavisados; do outro lado, o fanfarrão Sean (Hayes MacArthur) e sua esposa Joy (Elizabeth Ho), que nutrem de uma apaixonante química explorada ao longo dos oito episódios.

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Mas, de fato, é Ashley Tisdale quem nos rouba a atenção como a rebelde e confusa Kayla, que termina com seu marido dias antes das celebrações natalinas apenas para entrar numa crise existencial que culmina num emotivo coming-of-age. A atriz, conhecida por seu papel como Sharpay Evans em High School Musical, voltou para a vida performática depois de ter lançado seu terceiro álbum de estúdio e mostrou que ainda trabalha para trazer temas importantes para as produções contemporâneas – não é surpresa que ela seja uma personagem presa nos convencionalismos sociais que se assume lésbica depois de conversar com Matt.

Diferente de obras como One Day at a Time, que conseguem usufruir das restrições cênicas das sitcoms para algo novo e que oscila entre a tragédia, o drama e a comédia, ao mesmo tempo que contempla temas necessários para contemplação social, Feliz Natal e Tal é mais comedida quanto a esses assuntos. É certo dizer que a série, comportada dentro de uma caixinha confortável, almeja apenas a construir uma trama bem fechada que, mesmo não isenta de furos de roteiro, cumpre com o que promete e nos deixa uma sensação de completude.

Apesar disso, não podemos fazer vista grossa para a multiplicidade de fórmulas que exala do narrativa: os primeiros capítulos, a despeito de funcionarem como introdução ao enredo, são movidos por diálogos frenéticos e artificiais, beirando um preciosismo desnecessário. Essa “falsidade”, por assim dizer, estende-se até o terceiro episódio e depois dá um salto significativo em direção à fluidez, construindo alguns arcos coadjuvantes intrincados e que conseguem se sustentar até o season finale.

Cawley e sua equipe também não se preocupam em sair do jogo campo e contracampo no tocante à estética imagética. Como mencionado alguns parágrafos acima, o show é fiel ao extremo às convenções do gênero que traz para as telas e, por isso mesmo, permite se levar pela praticidade técnica. Entretanto, esse aspecto é colocado em xeque quando até mesmo as quebras de expectativa violam máximas de credibilidade e transformam a coesão em uma série de ocasionalidades condescendentes e impossíveis.

Feliz Natal e Tal merece crédito pela performance de seu elenco, mas perde muitos pontos no quesito de originalidade. Ao passo que tenta fornecer uma nova perspectiva às clássicas rom-coms seriadas dos anos 1990 e 2000, ela se apega muito à nostalgia e deixa de lado elementos cruciais para criar comoção – com exceção de uma ou duas investidas pontuais.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Crítica | Feliz Natal e Tal: 1ª Temporada – Uma série que peca em sua originalidade

Em fevereiro deste ano, a Netflix anunciou que trabalharia em uma nova série original possivelmente antológica a ser lançada nas semanas antecedentes ao Natal e ao Ano-Novo. Pouco depois, o  showrunner Tucker Cawley, conhecido por seu incrível trabalho em produções como Everybody Loves Raymond e Parks and Recreation, foi contratado para dar vida a uma nova história que ficaria conhecida como Feliz Natal e Tal – e o resultado, apesar de funcionar mais como uma cópia de qualquer outra investida de final de ano, funciona dentro de suas limitadas propostas e basicamente conta com a habilidade de envolvimento de seu elenco.

O enredo segue à risca as estruturas de uma sitcom e gira em torno de Emmy (Bridgit Mendler, voltando para as telinhas anos depois de ter estrelado ‘Boa Sorte, Charlie!’), uma jovem executiva que está retornando para a Filadélfia a fim de passar os feriados com sua gigantesca – e um tanto quanto desconexa – família. Mais do que isso, ela deseja introduzir aos parentes o namorado Matt (Brent Morin), que luta praticamente a temporada inteira para causar uma boa impressão e ser aceito como novo membro do núcleo protagonista. E é óbvio que, em se tratando de um show de comédia romântica, o casal irá passar por poucas e boas até que suas resoluções se completem e caminhem para um final feliz (e hilário, é claro).

A princípio, Matt é confrontado pela dura personalidade de Don (Dennis Quaid), pai de Emmy e a materialização do estereótipo superprotetor da figura patriarcal que deve “reclamar” seu posto principalmente depois da morte da esposa. Como se não bastasse, ele é conhecido por toda a cidade, ainda mais por trabalhar como chefe da delegacia local – então as coisas caminham muito bem. Além disso, o personagem de Morin também conhece outras figuras um tanto quanto contraditórias quanto ao jeito de se portar e explosivas (muito explosivas). Temos, de um lado, a otimista e vibrante Patsy (Siobhan Murphy), que é tão receptiva que chega a assustar os mais desavisados; do outro lado, o fanfarrão Sean (Hayes MacArthur) e sua esposa Joy (Elizabeth Ho), que nutrem de uma apaixonante química explorada ao longo dos oito episódios.

Mas, de fato, é Ashley Tisdale quem nos rouba a atenção como a rebelde e confusa Kayla, que termina com seu marido dias antes das celebrações natalinas apenas para entrar numa crise existencial que culmina num emotivo coming-of-age. A atriz, conhecida por seu papel como Sharpay Evans em High School Musical, voltou para a vida performática depois de ter lançado seu terceiro álbum de estúdio e mostrou que ainda trabalha para trazer temas importantes para as produções contemporâneas – não é surpresa que ela seja uma personagem presa nos convencionalismos sociais que se assume lésbica depois de conversar com Matt.

Diferente de obras como One Day at a Time, que conseguem usufruir das restrições cênicas das sitcoms para algo novo e que oscila entre a tragédia, o drama e a comédia, ao mesmo tempo que contempla temas necessários para contemplação social, Feliz Natal e Tal é mais comedida quanto a esses assuntos. É certo dizer que a série, comportada dentro de uma caixinha confortável, almeja apenas a construir uma trama bem fechada que, mesmo não isenta de furos de roteiro, cumpre com o que promete e nos deixa uma sensação de completude.

Apesar disso, não podemos fazer vista grossa para a multiplicidade de fórmulas que exala do narrativa: os primeiros capítulos, a despeito de funcionarem como introdução ao enredo, são movidos por diálogos frenéticos e artificiais, beirando um preciosismo desnecessário. Essa “falsidade”, por assim dizer, estende-se até o terceiro episódio e depois dá um salto significativo em direção à fluidez, construindo alguns arcos coadjuvantes intrincados e que conseguem se sustentar até o season finale.

Cawley e sua equipe também não se preocupam em sair do jogo campo e contracampo no tocante à estética imagética. Como mencionado alguns parágrafos acima, o show é fiel ao extremo às convenções do gênero que traz para as telas e, por isso mesmo, permite se levar pela praticidade técnica. Entretanto, esse aspecto é colocado em xeque quando até mesmo as quebras de expectativa violam máximas de credibilidade e transformam a coesão em uma série de ocasionalidades condescendentes e impossíveis.

Feliz Natal e Tal merece crédito pela performance de seu elenco, mas perde muitos pontos no quesito de originalidade. Ao passo que tenta fornecer uma nova perspectiva às clássicas rom-coms seriadas dos anos 1990 e 2000, ela se apega muito à nostalgia e deixa de lado elementos cruciais para criar comoção – com exceção de uma ou duas investidas pontuais.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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