segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Crítica | Filhas de Eva – Bela série da Globoplay com Renata Sorrah traz o poder da Sororidade

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Stella Fantine (Renata Sorrah) está organizando a festa de celebração de cinquenta anos de casada com Ademar Fantine (Cacá Amaral). Rica, mãe de Lívia Caldas (Giovanna Antonelli) e avó de Dora (Débora Ozório), ela se dá conta de que passou a maior parte da vida dedicando seu tempo e energia para cuidar da vida e da carreira do marido. E agora quer dar um basta: na frente de todos, no meio da festa, anuncia que quer o divórcio. A partir daí, a história dessa família vira de ponta cabeça.



Em doze episódios que variam entre quarenta minutos e uma hora de duração cada, a série original Globoplay criada por Martha Mendonça, Jô Abdu, Adriana Falcão e Nelito Fernandes foca o cerne de sua história no núcleo feminino, e no quanto a vida das mulheres, em diferentes classes sociais e idades, é impactada pela estrutura patriarcal e machista da sociedade brasileira. Através de personagens bem marcadas na trama – a esposa do empresário corrupto, a mulher pobre e amante do cara rico, a jovem pseudo-revolucionária, a esposinha do lar que se esconde para que o marido brilhe, a mãe que prefere acreditar em mentiras do filho homem do que no valor da filha mulher, a idosa solteira que nunca quis ter filhos – ‘Filhas de Eva’ joga luz sobre as muitas camadas opressoras que as mulheres têm que enfrentar diariamente, especialmente no âmbito familiar.

Com um foco tão direto, o roteiro começa a série muito bem, mas perde fôlego no meio do enredo e resulta em diálogos didáticos demais. É claro que entendemos que a clareza das falas e dos eventos na trama são para poder atingir o grande público, de modo a fazer com que as espectadoras entendam a mensagem e se questionem sobre si mesmas, porém, daria para as direções de Felipe Louzada, Leonardo Nogueira, Nathalia Ribas e André Felipe Binder construírem situações em que as coisas não ficassem tão artificiais – como, por exemplo, o diálogo entre Dora e sua amiga, que a acusa de ser antifeminista só porque a menina quer ser modelo, e o embate fica só na acusação jogada mesmo.

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Embora seja uma série centrada no universo feminino, é importantíssimo destacar a construção dos personagens masculinos – estes, sim, com falas e atitudes de fazer revirar o estômago: o empresário corrupto que só chegou onde chegou porque usou e obliterou a esposa (Cacá Amaral); o profissional frustrado com o sucesso da mulher, que a diminui para poder brilhar (Dan Stulbach); o filhinho da mamãe, que pode fazer tudo que sempre sairá ileso diante da família porque é homem (Erom Cordeiro); o jornalista “bem-intencionado” que se aproveita da fragilidade da mulher para conseguir o que quer (Marcos Veras). Personagens reais, que contribuem diretamente na construção de empecilhos para a ascensão feminina.

Filhas de Eva’ é uma ótima série que demonstra que somente a sororidade e a amizade entre as mulheres poderá reverter esse cenário subjugador. Incomoda, e muito, posto que é real, porém, é uma série necessária para abrir o debate nas esferas da sociedade que mais precisam enxergar que a mudança comportamental social é urgente.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Stella Fantine (Renata Sorrah) está organizando a festa de celebração de cinquenta anos de casada com Ademar Fantine (Cacá Amaral). Rica, mãe de Lívia Caldas (Giovanna Antonelli) e avó de Dora (Débora Ozório), ela se dá conta de que passou a maior parte da vida dedicando seu tempo e energia para cuidar da vida e da carreira do marido. E agora quer dar um basta: na frente de todos, no meio da festa, anuncia que quer o divórcio. A partir daí, a história dessa família vira de ponta cabeça.

Em doze episódios que variam entre quarenta minutos e uma hora de duração cada, a série original Globoplay criada por Martha Mendonça, Jô Abdu, Adriana Falcão e Nelito Fernandes foca o cerne de sua história no núcleo feminino, e no quanto a vida das mulheres, em diferentes classes sociais e idades, é impactada pela estrutura patriarcal e machista da sociedade brasileira. Através de personagens bem marcadas na trama – a esposa do empresário corrupto, a mulher pobre e amante do cara rico, a jovem pseudo-revolucionária, a esposinha do lar que se esconde para que o marido brilhe, a mãe que prefere acreditar em mentiras do filho homem do que no valor da filha mulher, a idosa solteira que nunca quis ter filhos – ‘Filhas de Eva’ joga luz sobre as muitas camadas opressoras que as mulheres têm que enfrentar diariamente, especialmente no âmbito familiar.

Com um foco tão direto, o roteiro começa a série muito bem, mas perde fôlego no meio do enredo e resulta em diálogos didáticos demais. É claro que entendemos que a clareza das falas e dos eventos na trama são para poder atingir o grande público, de modo a fazer com que as espectadoras entendam a mensagem e se questionem sobre si mesmas, porém, daria para as direções de Felipe Louzada, Leonardo Nogueira, Nathalia Ribas e André Felipe Binder construírem situações em que as coisas não ficassem tão artificiais – como, por exemplo, o diálogo entre Dora e sua amiga, que a acusa de ser antifeminista só porque a menina quer ser modelo, e o embate fica só na acusação jogada mesmo.

Embora seja uma série centrada no universo feminino, é importantíssimo destacar a construção dos personagens masculinos – estes, sim, com falas e atitudes de fazer revirar o estômago: o empresário corrupto que só chegou onde chegou porque usou e obliterou a esposa (Cacá Amaral); o profissional frustrado com o sucesso da mulher, que a diminui para poder brilhar (Dan Stulbach); o filhinho da mamãe, que pode fazer tudo que sempre sairá ileso diante da família porque é homem (Erom Cordeiro); o jornalista “bem-intencionado” que se aproveita da fragilidade da mulher para conseguir o que quer (Marcos Veras). Personagens reais, que contribuem diretamente na construção de empecilhos para a ascensão feminina.

Filhas de Eva’ é uma ótima série que demonstra que somente a sororidade e a amizade entre as mulheres poderá reverter esse cenário subjugador. Incomoda, e muito, posto que é real, porém, é uma série necessária para abrir o debate nas esferas da sociedade que mais precisam enxergar que a mudança comportamental social é urgente.

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Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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