quinta-feira , 26 dezembro , 2024

Crítica | FKA Twigs mergulha no experimentalismo sonoro com o ótimo ‘CAPRISONGS’

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Tahliah Debrett Barnett pode não ser um nome familiar, mas o alter-ego FKA Twigs deveria, ao menos, já ter passado por sua playlist.

Tendo feito sua estreia oficial em 2012 com um ótimo EP intitulado ‘EP1’ (cuja simplicidade já se mostra vibrante logo no chamamento), a cantora e compositora britânica veio dominando o cenário mainstream aos poucos, aproveitando as múltiplas possibilidades da própria arte musical para quebrar as barreiras entre gêneros e fornecer uma perspectiva original ao escopo fonográfico – da mesma maneira que A.G. Cook, por exemplo, faria com o PC music à mesma época. Pouco depois, fez seu debute oficial com o aclamado ‘LP1’, chamando a atenção da crítica e dos fãs – mas não foi até o lançamento do irretocável ‘Magdalene’ que FKA Twigs reclamaria seu trono como uma das artistas mais inesperadamente criativas do século XXI.



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Marcando sua própria identidade sonora com uma mistura de eletrônica, R&B futurista e avant-garde, a performer continua esnobada por aqueles que se dizem especialistas e pelas premiações de maior calibre – ainda que tenha conquistado uma indicação ao Grammy de Melhor Vídeo Musical por “Cellophane”. Agora, ela retorna mais uma vez ao mundo da música com a antecipada mixtape ‘CAPRISONGS’, que foi lançada hoje, 14 de janeiro, nas principais plataformas de streaming. O resultado é uma tríptica e envolvente jornada que reitera o nome dessa já memorável mestra da música conceitual, que engloba os mais diversos estilos e imprime uma identidade única para cada uma das faixas – além de estruturar a obra como uma experiência metalinguística e autorreferenciativa, em que a arte discorre sobre a arte e, de certa maneira, mantém um diálogo bem-vindo com o recente ‘Dawn FM’, de The Weeknd.

A faixa de abertura, “ride the dragon”, dá um breve gostinho do que podemos esperar, alicerçando-se sob o trip-R&B e abrindo portas para uma jornada sinestésica e que se afasta de todos os elementos que poderíamos encontrar em construções mais formulaicas Essa atmosfera é adotada por completo nas dezesseis tracks que seguem essa belíssima e sólida abertura, aproveitando cada brecha para sustentar a si própria e para realizar incursões ousadas e que, na maioria das vezes, valem muito a pena. Afinal, como percebemos desde a estreia oficial da cantora e compositora no mundo da música, receio é uma palavra que não pertence ao seu vocabulário – e, mesmo deslizando aqui e ali, sabe que pode aprender com os erros e que pode se mostrar vulnerável como bem entender.

Assista também:
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Aliás, essa concepção de vulnerabilidade é um dos elementos explorados com maestria por FKA Twigs em ‘CAPRISONGS’. Quando em seu melhor, o álbum funde-se em uma desconexão proposital, como se o eu-lírico da performer estivesse desconectado da vida que leva – e, enquanto certas pessoas de fato não se interessam por esse tipo de música, é notável como, em meio ao suposto caos, encontramos beleza e entendimento em pulsões psíquicas que arrancam alguns dos melhores versos da artista. Temos, por exemplo, “meta angel”, marcado pelas distorções vocais e pela convergência de batidas retumbantes e de sintetizadores (tudo em um lugar só). As mensagens, impulsionadas pela ambiguidade da produção, refletem o desejo e a necessidade da lead singer em se sentir mais confiante, ainda que esse processo não seja fácil ou rápido; na ótima “tears in the club”, Barnett se alia a The Weeknd para comentar sobre a importância da expressividade e da emotividade, apostando fichas na sensorialidade do trip-hop e do trap.

Não é apenas o conceitualismo que fala mais alto nesta obra – pelo contrário, os movimentos realizados por FKA Twigs e por uma gama gigantesca de produtores e compositores criam picos e vales de significações múltiplas, que variam desde audaciosas progressões até reflexões mercadológicas. Dessa maneira, “honda” nos chama a atenção por manter-se fiel à identidade da performer e por fornecer um lado mais costumeiro, por assim dizer, permitindo que ela brinque com aspectos como o atabaque, o kissange e o corpo gospel. Além disso, a parceria com o rapper Pa Salieu carrega uma química categórica, reafirmada pelo fraseamento divertido e bastante rítmico de cada verso, que foge das obviedades e nos engolfa em uma aventura aprazível e completa.

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Há certa carga emblemática premeditada pelo lançamento do 3º álbum de estúdio de Barnett, talvez pela antecipação que a cantora nos causara e pelo fato deste ser seu primeiro compilado de originais em três anos. Com as expectativas altas, a produção deve suprir as necessidades de seus fãs e, mesmo se mantendo fiel ao que FKA Twigs nos apresentara no passado, é notável como ela “joga no seguro” – se é que podemos dizer isso do disco. Em outras palavras, há um apreço menor pela total irreverência fonográfica e construções mais condizentes com o popular, o que não é algo ruim, visto que é a partir daí que a cândida “jealousy” insurge.

Em explosiva contraposição, temos “papi bones”, uma das melhores faixas do álbum que fala sobre paixão e busca referências do afrobeats, do reggae e até o mambo, fomentando uma miscelânea sensual e convidativa; “which way” posa como futurista, cibernética e nostálgica; “careless” reúne a artista com Daniel Caesar para espetaculares versos em uma balada hip-hop (guiado pelo evocativo verso “meu coração dissolve sob seu ritmo”), que nutre de breves similaridades com a recente canção “Best Parts”; e “darjeeling” mergulha no rap em uma colaboração on point com Jorja Smith e Unknown T.

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‘CAPRISONGS’ é uma ótima adição à discografia de FKA Twigs e faz questão de ser propositalmente exagerado e over-the-top, alcançando um experimentalismo que, ao mesmo tempo, reafirma o poder de estilos que vêm se tornando cada vez mais popular na indústria fonográfica – e que vêm promovendo uma revolução artística muito interessante e bem-vinda.

Nota por faixa:

1. ride the dragon – 4/5
2. honda (feat. Pa Salieu) – 5/5
3. meta angel – 4/5
4. tears in the club (feat. The Weeknd) – 4/5
5. oh my love – 4/5
6. pamplemousse – 3,5/5
7. caprisongs interlude (feat. Solo) – 4,5/5
8. lightbeamers – 5/5
9. papi Bones (feat. Shygirl) – 5/5
10. which way (feat. Dystopia) – 4,5/5
11. jealousy (feat. Rema) – 5/5
12. careless (feat. Daniel Caesar) – 4,5/5
13. minds of men – 4/5
14. track girl interlude – 5/5
15. darjeeling (feat. Jorja Smith e Unknown T) – 4/5
16. christi interlude – 5/5
17. thank you song – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Tahliah Debrett Barnett pode não ser um nome familiar, mas o alter-ego FKA Twigs deveria, ao menos, já ter passado por sua playlist.

Tendo feito sua estreia oficial em 2012 com um ótimo EP intitulado ‘EP1’ (cuja simplicidade já se mostra vibrante logo no chamamento), a cantora e compositora britânica veio dominando o cenário mainstream aos poucos, aproveitando as múltiplas possibilidades da própria arte musical para quebrar as barreiras entre gêneros e fornecer uma perspectiva original ao escopo fonográfico – da mesma maneira que A.G. Cook, por exemplo, faria com o PC music à mesma época. Pouco depois, fez seu debute oficial com o aclamado ‘LP1’, chamando a atenção da crítica e dos fãs – mas não foi até o lançamento do irretocável ‘Magdalene’ que FKA Twigs reclamaria seu trono como uma das artistas mais inesperadamente criativas do século XXI.

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Marcando sua própria identidade sonora com uma mistura de eletrônica, R&B futurista e avant-garde, a performer continua esnobada por aqueles que se dizem especialistas e pelas premiações de maior calibre – ainda que tenha conquistado uma indicação ao Grammy de Melhor Vídeo Musical por “Cellophane”. Agora, ela retorna mais uma vez ao mundo da música com a antecipada mixtape ‘CAPRISONGS’, que foi lançada hoje, 14 de janeiro, nas principais plataformas de streaming. O resultado é uma tríptica e envolvente jornada que reitera o nome dessa já memorável mestra da música conceitual, que engloba os mais diversos estilos e imprime uma identidade única para cada uma das faixas – além de estruturar a obra como uma experiência metalinguística e autorreferenciativa, em que a arte discorre sobre a arte e, de certa maneira, mantém um diálogo bem-vindo com o recente ‘Dawn FM’, de The Weeknd.

A faixa de abertura, “ride the dragon”, dá um breve gostinho do que podemos esperar, alicerçando-se sob o trip-R&B e abrindo portas para uma jornada sinestésica e que se afasta de todos os elementos que poderíamos encontrar em construções mais formulaicas Essa atmosfera é adotada por completo nas dezesseis tracks que seguem essa belíssima e sólida abertura, aproveitando cada brecha para sustentar a si própria e para realizar incursões ousadas e que, na maioria das vezes, valem muito a pena. Afinal, como percebemos desde a estreia oficial da cantora e compositora no mundo da música, receio é uma palavra que não pertence ao seu vocabulário – e, mesmo deslizando aqui e ali, sabe que pode aprender com os erros e que pode se mostrar vulnerável como bem entender.

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Aliás, essa concepção de vulnerabilidade é um dos elementos explorados com maestria por FKA Twigs em ‘CAPRISONGS’. Quando em seu melhor, o álbum funde-se em uma desconexão proposital, como se o eu-lírico da performer estivesse desconectado da vida que leva – e, enquanto certas pessoas de fato não se interessam por esse tipo de música, é notável como, em meio ao suposto caos, encontramos beleza e entendimento em pulsões psíquicas que arrancam alguns dos melhores versos da artista. Temos, por exemplo, “meta angel”, marcado pelas distorções vocais e pela convergência de batidas retumbantes e de sintetizadores (tudo em um lugar só). As mensagens, impulsionadas pela ambiguidade da produção, refletem o desejo e a necessidade da lead singer em se sentir mais confiante, ainda que esse processo não seja fácil ou rápido; na ótima “tears in the club”, Barnett se alia a The Weeknd para comentar sobre a importância da expressividade e da emotividade, apostando fichas na sensorialidade do trip-hop e do trap.

Não é apenas o conceitualismo que fala mais alto nesta obra – pelo contrário, os movimentos realizados por FKA Twigs e por uma gama gigantesca de produtores e compositores criam picos e vales de significações múltiplas, que variam desde audaciosas progressões até reflexões mercadológicas. Dessa maneira, “honda” nos chama a atenção por manter-se fiel à identidade da performer e por fornecer um lado mais costumeiro, por assim dizer, permitindo que ela brinque com aspectos como o atabaque, o kissange e o corpo gospel. Além disso, a parceria com o rapper Pa Salieu carrega uma química categórica, reafirmada pelo fraseamento divertido e bastante rítmico de cada verso, que foge das obviedades e nos engolfa em uma aventura aprazível e completa.

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Há certa carga emblemática premeditada pelo lançamento do 3º álbum de estúdio de Barnett, talvez pela antecipação que a cantora nos causara e pelo fato deste ser seu primeiro compilado de originais em três anos. Com as expectativas altas, a produção deve suprir as necessidades de seus fãs e, mesmo se mantendo fiel ao que FKA Twigs nos apresentara no passado, é notável como ela “joga no seguro” – se é que podemos dizer isso do disco. Em outras palavras, há um apreço menor pela total irreverência fonográfica e construções mais condizentes com o popular, o que não é algo ruim, visto que é a partir daí que a cândida “jealousy” insurge.

Em explosiva contraposição, temos “papi bones”, uma das melhores faixas do álbum que fala sobre paixão e busca referências do afrobeats, do reggae e até o mambo, fomentando uma miscelânea sensual e convidativa; “which way” posa como futurista, cibernética e nostálgica; “careless” reúne a artista com Daniel Caesar para espetaculares versos em uma balada hip-hop (guiado pelo evocativo verso “meu coração dissolve sob seu ritmo”), que nutre de breves similaridades com a recente canção “Best Parts”; e “darjeeling” mergulha no rap em uma colaboração on point com Jorja Smith e Unknown T.

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‘CAPRISONGS’ é uma ótima adição à discografia de FKA Twigs e faz questão de ser propositalmente exagerado e over-the-top, alcançando um experimentalismo que, ao mesmo tempo, reafirma o poder de estilos que vêm se tornando cada vez mais popular na indústria fonográfica – e que vêm promovendo uma revolução artística muito interessante e bem-vinda.

Nota por faixa:

1. ride the dragon – 4/5
2. honda (feat. Pa Salieu) – 5/5
3. meta angel – 4/5
4. tears in the club (feat. The Weeknd) – 4/5
5. oh my love – 4/5
6. pamplemousse – 3,5/5
7. caprisongs interlude (feat. Solo) – 4,5/5
8. lightbeamers – 5/5
9. papi Bones (feat. Shygirl) – 5/5
10. which way (feat. Dystopia) – 4,5/5
11. jealousy (feat. Rema) – 5/5
12. careless (feat. Daniel Caesar) – 4,5/5
13. minds of men – 4/5
14. track girl interlude – 5/5
15. darjeeling (feat. Jorja Smith e Unknown T) – 4/5
16. christi interlude – 5/5
17. thank you song – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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