terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica | Florence Pugh rouba a cena em ‘Não Se Preocupe, Querida’, disponível na HBO Max

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Olivia Wilde fez sua estreia na direção com a aclamada comédia adolescente Fora de Série, que se tornou uma das sensações de 2019 e dava início a uma carreira de potencial infinito para a cineasta. Três anos depois, Wilde retorna no comando do thriller psicológico e distópico ‘Não Se Preocupe, Querida’, que já está disponível na HBO MAX após fazer seu début oficial no Festival de Veneza, envolto em polêmicas de bastidores. O longa-metragem pode até ter os seus problemas, mas, no final das contas, consagra-se como uma prática e satisfatória jornada – que, caso não levada a sério, é uma boa pedida para assistir aos finais de semana.

A história nos leva para a idílica e calorosa Vitória, na Califórnia, um lugar estruturado por uma companhia tecnológica que deseja alcançar a perfeição. No centro dessa cidade, passamos a acompanhar o cotidiano não muito fora do comum de Alice (Florence Pugh), uma típica mulher responsável por cuidar dos afazeres domésticos enquanto o marido, Jack (Harry Styles), sai para o trabalho e traz o sustento para casa – ou seja, uma narrativa que, aparentemente, explicita a disparidade de gênero dos anos 1950 de forma lúdica e didática. Entretanto, enquanto todos a seu redor parecem contentes com a vida que lhes é imposta, Alice começa a sofrer uma espécie de surto psicótico que a auxilia a desvendar um obscuro segredo por trás da cidade e do misterioso projeto em que Jack e todos os outros esposos trabalham.

Toda a atmosfera do longa-metragem é pautada nos anos 1950, uma escolha técnica certeira que auxilia na reprodução de uma crescente angústia que se apodera da protagonista e que é transmitida aos espectadores. Temos a nostalgia da arquitetura googie trazida para cada uma das residências, os clássicos vestidos com silhueta demarcada e o contraste de cores frias e quentes que transforma a ambientação em um confinamento ambíguo – acompanhado pelo arco de autorrealização de Alice e sua consecutiva purgação. Entretanto, por vezes, é notável com Wilde e seu time criativo se valem demais dos conceitos imagéticos em vez de equipará-los na mesma frequência com o roteiro.

Não se enganem: o filme não é tão ruim quanto alguns textos vêm dizendo – e merece ser apreciado dentro das restritas mensagens que deseja passar. Afinal, Alice percebe o mundo que conhece mudando gradativamente quando cruza caminho com Margaret (KiKi Layne), uma mulher que é tratada como pária pelos vizinhos e que, numa constância assustadora, tenta avisar Alice que ela precisa fugir dali antes que seja tarde demais. Mas fugir do quê? Das memórias de um passado remoto que insistem em se aglomerar com uma realidade pré-fabricada? Ou com o fato de que todos passam a trata-la como louca depois que ela ousa questionar o que existe para além do perigoso deserto que cerca a cidade?

Wilde imprime sua visão como pode, apostando fichas em uma repetição que condiz com a sensação claustrofóbica que Alice sente, cujas paredes são erguidas pela impossibilidade de fuga e, além disso, faz um retorno à atuação como Bunny, uma das amigas da personagem principal que tem seus próprios problemas e que mergulha numa jornada de redenção que não funciona muito bem. E é notável como boa parte do elenco, que inclui Chris Pine e Gemma Chan, existe em função de Alice, como partes de um intrincado jogo de xadrez que detém a chave para uma salvação quase imaterial. No final das contas, é Pugh que se mantém fiel ao ritmo almejado pelo filme, entregando-se de corpo e alma ao papel e reiterando sua versatilidade invejável como uma das maiores atrizes da atualidade (já tendo feito um trabalho aplaudível com Midsommar’ e Adoráveis Mulheres’, por exemplo). E esse tour-de-force apaixonante com que Pugh trabalha que ofusca, em partes, os problemas da obra).

Como já mencionado, o produto é aprazível, principalmente quando não se leva a sério. Temos as incursões temáticas sobre gaslighting e machismo que permeiam a trama principal, mas não há abertura o suficiente para que eles sejam explorados a fundo, deixando um gostinho agridoce quando os créditos sobem. E, enquanto os primeiros atos demonstram uma idiossincrasia intrigante e convincente, o final deixa a desejar por não saber que caminho seguir e por se apressar numa conclusão sem pé nem cabeça.

No momento em que o longa na essência do gênero suspense, os choques mais conflitantes parecem desaparecer – e é nessa beleza desperdiçada que o público deve se fincar. De fato, é possível ver que Wilde não deseja reinventar a roda, permitindo referências a obras como ‘Mulheres Perfeitas’ e ‘A Vila’, mas, quando a seriedade passa a falar mais alto, as coisas se complicam. E Styles, escalado como o par romântico de Pugh, parece não saber o que fazer com o papel que lhe foi dado, desaparecendo sob os holofotes em uma caricatura exagerada que não sabe equilibrar as múltiplas facetas que gostaríamos de ver nas telonas.

‘Não Se Preocupe, Querida’ poderia ser bem melhor, mas isso não significa que seja uma perda de tempo. Os elementos que funcionam são fortes o suficiente para nos chamar a atenção e garantir que as duas horas passem voando – mas é inegável que os deslizes mancham a produção e nos façam imaginar modos de melhorar a narrativa.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Olivia Wilde fez sua estreia na direção com a aclamada comédia adolescente Fora de Série, que se tornou uma das sensações de 2019 e dava início a uma carreira de potencial infinito para a cineasta. Três anos depois, Wilde retorna no comando do thriller psicológico e distópico ‘Não Se Preocupe, Querida’, que já está disponível na HBO MAX após fazer seu début oficial no Festival de Veneza, envolto em polêmicas de bastidores. O longa-metragem pode até ter os seus problemas, mas, no final das contas, consagra-se como uma prática e satisfatória jornada – que, caso não levada a sério, é uma boa pedida para assistir aos finais de semana.

A história nos leva para a idílica e calorosa Vitória, na Califórnia, um lugar estruturado por uma companhia tecnológica que deseja alcançar a perfeição. No centro dessa cidade, passamos a acompanhar o cotidiano não muito fora do comum de Alice (Florence Pugh), uma típica mulher responsável por cuidar dos afazeres domésticos enquanto o marido, Jack (Harry Styles), sai para o trabalho e traz o sustento para casa – ou seja, uma narrativa que, aparentemente, explicita a disparidade de gênero dos anos 1950 de forma lúdica e didática. Entretanto, enquanto todos a seu redor parecem contentes com a vida que lhes é imposta, Alice começa a sofrer uma espécie de surto psicótico que a auxilia a desvendar um obscuro segredo por trás da cidade e do misterioso projeto em que Jack e todos os outros esposos trabalham.

Toda a atmosfera do longa-metragem é pautada nos anos 1950, uma escolha técnica certeira que auxilia na reprodução de uma crescente angústia que se apodera da protagonista e que é transmitida aos espectadores. Temos a nostalgia da arquitetura googie trazida para cada uma das residências, os clássicos vestidos com silhueta demarcada e o contraste de cores frias e quentes que transforma a ambientação em um confinamento ambíguo – acompanhado pelo arco de autorrealização de Alice e sua consecutiva purgação. Entretanto, por vezes, é notável com Wilde e seu time criativo se valem demais dos conceitos imagéticos em vez de equipará-los na mesma frequência com o roteiro.

Não se enganem: o filme não é tão ruim quanto alguns textos vêm dizendo – e merece ser apreciado dentro das restritas mensagens que deseja passar. Afinal, Alice percebe o mundo que conhece mudando gradativamente quando cruza caminho com Margaret (KiKi Layne), uma mulher que é tratada como pária pelos vizinhos e que, numa constância assustadora, tenta avisar Alice que ela precisa fugir dali antes que seja tarde demais. Mas fugir do quê? Das memórias de um passado remoto que insistem em se aglomerar com uma realidade pré-fabricada? Ou com o fato de que todos passam a trata-la como louca depois que ela ousa questionar o que existe para além do perigoso deserto que cerca a cidade?

Wilde imprime sua visão como pode, apostando fichas em uma repetição que condiz com a sensação claustrofóbica que Alice sente, cujas paredes são erguidas pela impossibilidade de fuga e, além disso, faz um retorno à atuação como Bunny, uma das amigas da personagem principal que tem seus próprios problemas e que mergulha numa jornada de redenção que não funciona muito bem. E é notável como boa parte do elenco, que inclui Chris Pine e Gemma Chan, existe em função de Alice, como partes de um intrincado jogo de xadrez que detém a chave para uma salvação quase imaterial. No final das contas, é Pugh que se mantém fiel ao ritmo almejado pelo filme, entregando-se de corpo e alma ao papel e reiterando sua versatilidade invejável como uma das maiores atrizes da atualidade (já tendo feito um trabalho aplaudível com Midsommar’ e Adoráveis Mulheres’, por exemplo). E esse tour-de-force apaixonante com que Pugh trabalha que ofusca, em partes, os problemas da obra).

Como já mencionado, o produto é aprazível, principalmente quando não se leva a sério. Temos as incursões temáticas sobre gaslighting e machismo que permeiam a trama principal, mas não há abertura o suficiente para que eles sejam explorados a fundo, deixando um gostinho agridoce quando os créditos sobem. E, enquanto os primeiros atos demonstram uma idiossincrasia intrigante e convincente, o final deixa a desejar por não saber que caminho seguir e por se apressar numa conclusão sem pé nem cabeça.

No momento em que o longa na essência do gênero suspense, os choques mais conflitantes parecem desaparecer – e é nessa beleza desperdiçada que o público deve se fincar. De fato, é possível ver que Wilde não deseja reinventar a roda, permitindo referências a obras como ‘Mulheres Perfeitas’ e ‘A Vila’, mas, quando a seriedade passa a falar mais alto, as coisas se complicam. E Styles, escalado como o par romântico de Pugh, parece não saber o que fazer com o papel que lhe foi dado, desaparecendo sob os holofotes em uma caricatura exagerada que não sabe equilibrar as múltiplas facetas que gostaríamos de ver nas telonas.

‘Não Se Preocupe, Querida’ poderia ser bem melhor, mas isso não significa que seja uma perda de tempo. Os elementos que funcionam são fortes o suficiente para nos chamar a atenção e garantir que as duas horas passem voando – mas é inegável que os deslizes mancham a produção e nos façam imaginar modos de melhorar a narrativa.

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