O Entardecer de uma Estrela
Isabelle Huppert é um verdadeiro ícone do cinema francês. Mais do que isso, a veterana indicada ao Oscar (Elle) é uma destas atrizes de prestígio mundial, que escreveu seu nome no panteão da sétima arte mesmo sem fazer carreira baseada em Hollywood. Como sabemos, no entanto, nem mesmo os maiores titãs do cinema estão livres de seus dias menos inspirados, e é exatamente isto que ocorre com a musa francesa neste Frankie.
Infelizmente, Huppert não faz muito com sua personagem aqui, e a leva numa única nota monossilábica. Seja por falta de vontade da própria – que emenda um projeto atrás do outro e naturalmente algum sairá prejudicado – ou pelo roteiro que não a aprofunda, a protagonista é uma tela em branco de emoções. Podemos argumentar que no estágio em que se encontra, Frankie está fria e dura, propositalmente desprovida de sentimentos mais frágeis. Mas ao longo da projeção, podemos sentir que Huppert não está entregando seu melhor repertório, como num momento de desmaio meio canhestro, por exemplo.
Na trama, Huppert interpreta uma famosa atriz diagnosticada com câncer terminal. Com os dias contados, ela espera desesperançosa sua partida, evitando, ou quem sabe banindo, qualquer drama envolvendo o fato. Nesta despedida, ela alista seus entes queridos e amigos numa cidade de Portugal, onde se passa a trama. Entre os convidados estão seu marido (Brendan Gleeson), seu ex-marido gay (Pascal Gregory), seu filho (Jérémie Renier), sua filha adotiva (Vinette Robinson), o genro (Ariyon Bakare), a neta (Sennia Nanua), uma colega de trabalho (Marisa Tomei) e o noivo dela (Greg Kinnear).
Todos estes personagens, assim como a protagonista, transitam sem aprofundamento pela narrativa. Eles soam apenas como esboços de personalidades. Sabemos o que devem ser, mas em momento algum nos envolvemos com suas histórias básicas, e a promessa é de que os esqueceremos em pouco tempo. Seus arcos dramáticos igualmente não são capazes de criar conexão – e alguns deles são abandonados pelo caminho, como o romance da menina Maya (Nanua) com um jovem português, ou o relacionamento dos personagens de Tomei e Kinnear.
A maior decepção, porém, diz respeito ao talentoso cineasta e roteirista Ira Sachs (O Amor é Estranho), geralmente associado à qualidades justamente ausentes deste novo projeto. Uma de suas características como contador de histórias é se aprofundar nos detalhes, esmiuçando questões rotineiras, e criando assim pequenas parcelas identificáveis de nossas vidas. Com Frankie, o resultado surge como o completo oposto, deixando transparecer fragilidades no roteiro e superficialidade no tema central.
Novamente colaborando no roteiro com o colega de longa data, o carioca Mauricio Zacharias, a dupla cria uma história simples que tenta funcionar em dois aspectos sem sucesso. O primeiro é o filme de despedida/doença terminal. E o segundo é o filme sobre insight do mundo do cinema. No entanto, conseguem apenas arranhar a superfície de ambos os temas. Pense em obras como Acima das Nuvens (2014), de Olivier Assayas, que soube brincar de forma mais satisfatória com as referências e engrenagens dos bastidores da sétima arte – o que poderia trazer certo alívio para este longa. Aqui até mesmo a citação sobre Star Wars e George Lucas soa equivocada já que o empresário não está mais à frente da franquia.
Frankie não chega a ser um desperdício completo, e vale para os fãs incondicionais da musa francesa – os que consomem todos os trabalhos da atriz -, já que afinal, mesmo fora de seus melhores dias, o talento da veterana é inquestionável. Frankie é apenas um filme que já vimos muitas outras vezes em produções mais inspiradas. E não irá figurar no topo das filmografias de Isabelle Huppert ou Ira Sachs – que certamente em breve brilharão mais.