domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Freaky Tales: Pedro Pascal, nazistas e poderes sobrenaturais se misturam em sangrenta comédia indie

YouTube video

Filme assistido durante o Festival de Sundance 2024

Oakland, meados dos anos 80. A cena punk local vive seu pequeno e tempestuoso universo. Riffs crus de guitarra ecoam por um abafado cubículo, onde a jovem geração X se aperta e se esmaga ao estridente som de uma banda independente com ares de The Clash. Em um outro espectro, ainda desconhecido da nossa atenção, duas jovens negras tentam emergir na cena hip hop, que também divide seu espaço na mesma cidade. Com moletons coloridos, que rapidamente nos remetem à nostalgia da década em questão, elas são o rosto de um diferente viés cultural. Apresentadas como dois pequenos contos distintos entre si, ambas as vertentes fazem parte da mesma história e estão vinculadas por duas forças absolutamente misteriosas: nazistas e um curioso feixe de luz verde capaz de transformar a mente humana em uma máquina de aniquilação.



Freaky Tales é um sonho louco daqueles que vez outra todos tempos e mal conseguimos explicar publicamente. Repleto de figuras peculiares tão díspares entre si, ele parece ser feito de recortes, de hiatos no tempo desconexos e aleatórios. Mas o que o roteiro da talentosa dupla criativa Ryan Fleck e Anna Boden (Capitã Marvel) não nos entrega logo de cara é a inusitada ligação que todos os seus extremos possuem. A cada novo e tão inesperado capítulo, uma fenda no espaço-tempo se abre, unindo elos, pessoas e subtramas de maneira harmônica e sincrônica. E como o próprio título do longa diz, esses são contos bizarros. Contos onde a xenofobia e o racismo se transformam em um único organismo e o inimaginável ganha vida diante dos nossos olhos. Humor, drama, ação e suspense também se entrelaçam, formando uma experiência cinematográfica do tipo que só se assiste em Sundance.

E Fleck e Boden acertam cirurgicamente com Freaky Tales. Abrindo caminho para a criatividade em seu ápice mais peculiar, eles se permitem brincar em tela com seus protagonistas, flertam com subgêneros, transformam o breve narrador em um interlocutor intimista e trazem referências do cinema oitentista validado até mesmo por Tom Hanks – ícone juvenil da época. E como quem se sente confortável o bastante para abordar assuntos desconfortáveis demais para uma comédia indie, a dupla criativa adentra em questões sociais pronta para satirizá-las com respeito, nos levando em uma espécie de jornada do herói catártica e pitoresca.

Assista também:
YouTube video


Nesse emaranhado onde moda, música e identidade se trombam a cada esquina, Pedro Pascal vive um protagonista coadjuvante, assim como Jay Ellis, Normani, Dominique Thorne, Ji-young Yoo e Jack Champion. Aqui, a titularidade em tela é apenas uma questão relativa e todos os elementos narrativos cooperam para o bem dessa misteriosa luz verde que pouco entendemos, mas que sabemos ser infalível em tela. E em uma dinâmica não linear que não segue a ordem cronológica dos fatos na maior parte do tempo, a comédia de ficção científica se desabrocha diante de nós de maneira visceral, aflorando na audiência os instintos mais bárbaros. Nos levando consigo nessa espiral, Freaky Tales cresce em seu clímax de maneira colossal, subverte seu próprio humor e se entrega a uma metamorfose violenta onde a comédia sai de cena, para que a sanguinolência possa entrar.

E sem medo de serem incompreendidos, Pascal e o restante do elenco se entregam a essa aventura onde boa música, astros do basquete e gangue de nazistas acabam cruzando seus caminhos. Se divertindo em tela, na certeza de que testemunham mais uma boa e original história inundar os ouvidos e as mentes dos fãs do cinema independente, eles não se levam tão a sério, mas desfrutam da oportunidade única de sair de suas zonas de conforto. E nisso, ainda somos apresentados ao talento da cantora Normani na atuação. À vontade em seu papel, ela acrescenta um toque de musicalidade à sua performance e ingressa na indústria cinematográfica com leveza e segurança.

Marcando também a despedida de Angus Cloud (Euphoria), a comédia sci-fi indie é ousada e vibrante, ainda que seu subtexto não se aprofunde genuinamente nas questões sociais que se propõe a abordar. Divertida o bastante para proporcionar aquele tipo de entretenimento que nada exige da audiência, o filme ainda carrega em si aquele vigor de autenticidade que pouco se vê no cinema contemporâneo e faz do indie o alicerce ideal para criar sua tempestade perfeita em tela. Cômico, sangrento e intenso a todo momento, a comédia sci-fi não te deixa descansar, mantém seu ritmo elevado e se encerra com uma fita dourada, celebrando o hip hop oitentista com uma trilha sonora original contagiante. Por fim, Freaky Tales é o que acontece quando o independente e o pipoca se unem em prol de uma excelente experiência cinematográfica.

YouTube video

Mais notícias...

Siga-nos!

2,000,000FãsCurtir
372,000SeguidoresSeguir
1,620,000SeguidoresSeguir
195,000SeguidoresSeguir
162,000InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MATÉRIAS

CRÍTICAS

Crítica | Freaky Tales: Pedro Pascal, nazistas e poderes sobrenaturais se misturam em sangrenta comédia indie

Filme assistido durante o Festival de Sundance 2024

Oakland, meados dos anos 80. A cena punk local vive seu pequeno e tempestuoso universo. Riffs crus de guitarra ecoam por um abafado cubículo, onde a jovem geração X se aperta e se esmaga ao estridente som de uma banda independente com ares de The Clash. Em um outro espectro, ainda desconhecido da nossa atenção, duas jovens negras tentam emergir na cena hip hop, que também divide seu espaço na mesma cidade. Com moletons coloridos, que rapidamente nos remetem à nostalgia da década em questão, elas são o rosto de um diferente viés cultural. Apresentadas como dois pequenos contos distintos entre si, ambas as vertentes fazem parte da mesma história e estão vinculadas por duas forças absolutamente misteriosas: nazistas e um curioso feixe de luz verde capaz de transformar a mente humana em uma máquina de aniquilação.

Freaky Tales é um sonho louco daqueles que vez outra todos tempos e mal conseguimos explicar publicamente. Repleto de figuras peculiares tão díspares entre si, ele parece ser feito de recortes, de hiatos no tempo desconexos e aleatórios. Mas o que o roteiro da talentosa dupla criativa Ryan Fleck e Anna Boden (Capitã Marvel) não nos entrega logo de cara é a inusitada ligação que todos os seus extremos possuem. A cada novo e tão inesperado capítulo, uma fenda no espaço-tempo se abre, unindo elos, pessoas e subtramas de maneira harmônica e sincrônica. E como o próprio título do longa diz, esses são contos bizarros. Contos onde a xenofobia e o racismo se transformam em um único organismo e o inimaginável ganha vida diante dos nossos olhos. Humor, drama, ação e suspense também se entrelaçam, formando uma experiência cinematográfica do tipo que só se assiste em Sundance.

E Fleck e Boden acertam cirurgicamente com Freaky Tales. Abrindo caminho para a criatividade em seu ápice mais peculiar, eles se permitem brincar em tela com seus protagonistas, flertam com subgêneros, transformam o breve narrador em um interlocutor intimista e trazem referências do cinema oitentista validado até mesmo por Tom Hanks – ícone juvenil da época. E como quem se sente confortável o bastante para abordar assuntos desconfortáveis demais para uma comédia indie, a dupla criativa adentra em questões sociais pronta para satirizá-las com respeito, nos levando em uma espécie de jornada do herói catártica e pitoresca.

Nesse emaranhado onde moda, música e identidade se trombam a cada esquina, Pedro Pascal vive um protagonista coadjuvante, assim como Jay Ellis, Normani, Dominique Thorne, Ji-young Yoo e Jack Champion. Aqui, a titularidade em tela é apenas uma questão relativa e todos os elementos narrativos cooperam para o bem dessa misteriosa luz verde que pouco entendemos, mas que sabemos ser infalível em tela. E em uma dinâmica não linear que não segue a ordem cronológica dos fatos na maior parte do tempo, a comédia de ficção científica se desabrocha diante de nós de maneira visceral, aflorando na audiência os instintos mais bárbaros. Nos levando consigo nessa espiral, Freaky Tales cresce em seu clímax de maneira colossal, subverte seu próprio humor e se entrega a uma metamorfose violenta onde a comédia sai de cena, para que a sanguinolência possa entrar.

E sem medo de serem incompreendidos, Pascal e o restante do elenco se entregam a essa aventura onde boa música, astros do basquete e gangue de nazistas acabam cruzando seus caminhos. Se divertindo em tela, na certeza de que testemunham mais uma boa e original história inundar os ouvidos e as mentes dos fãs do cinema independente, eles não se levam tão a sério, mas desfrutam da oportunidade única de sair de suas zonas de conforto. E nisso, ainda somos apresentados ao talento da cantora Normani na atuação. À vontade em seu papel, ela acrescenta um toque de musicalidade à sua performance e ingressa na indústria cinematográfica com leveza e segurança.

Marcando também a despedida de Angus Cloud (Euphoria), a comédia sci-fi indie é ousada e vibrante, ainda que seu subtexto não se aprofunde genuinamente nas questões sociais que se propõe a abordar. Divertida o bastante para proporcionar aquele tipo de entretenimento que nada exige da audiência, o filme ainda carrega em si aquele vigor de autenticidade que pouco se vê no cinema contemporâneo e faz do indie o alicerce ideal para criar sua tempestade perfeita em tela. Cômico, sangrento e intenso a todo momento, a comédia sci-fi não te deixa descansar, mantém seu ritmo elevado e se encerra com uma fita dourada, celebrando o hip hop oitentista com uma trilha sonora original contagiante. Por fim, Freaky Tales é o que acontece quando o independente e o pipoca se unem em prol de uma excelente experiência cinematográfica.

YouTube video

Siga-nos!

2,000,000FãsCurtir
372,000SeguidoresSeguir
1,620,000SeguidoresSeguir
195,000SeguidoresSeguir
162,000InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MATÉRIAS

CRÍTICAS