Rumo ao segundo Oscar?
De Pablo Bazarello, enviado especial a Toronto.
A veterana Julianne Moore demorou para ser reconhecida com um prêmio da Academia. Com quatro indicações anteriores, datando a primeira de 1997, a atriz só veio a decorar sua casa com o careca dourado este ano, com a vitória pelo lacrimoso Para Sempre Alice. Agora, Moore pode estar de novo nas cabeças para o maior prêmio do cinema, é o que dizem os especialistas. O novo veículo para isso é o drama Freeheld, que entre outras coisas demonstra a versatilidade de Moore compondo uma personagem cem por cento inédita em sua carreira (para indicação no próximo Oscar ainda fico com Cate Blanchett em Truth, também parte do repertório deste ano em Toronto). Que Moore é uma das melhores atrizes da atualidade Oscar algum precisa nos dizer.
De fato Freeheld guarda algumas semelhanças com Para Sempre Alice. Ambos possuem Moore despida de qualquer vaidade artística, se entregando verdadeiramente de alma ao projeto, que traz igualmente uma protagonista lutando por sua vida e saúde. Ambos também possuem jovens atrizes de talento brilhando ao lado da veterana, embora aqui Ellen Page ganhe muito mais os holofotes do que Kristen Stewart em Para Sempre Alice. E se fosse para dizer agora, acredito mais inclusive em uma indicação para a pequena Page. Outra óbvia semelhança de Freeheld com o filme que deu o Oscar passado para Moore é que será um desafio até mesmo para o cinéfilo mais duro sair com os olhos secos após o término da sessão (me conte fora desta competição).
Curiosamente Freeheld é baseado num documentário de mesmo nome, lançado em 2007 e vencedor do Oscar na categoria documentário curta-metragem. A direção do longa é de Peter Sollett, que de Nick e Norah – Uma Noite de Amor e Música (2008) para cá deu um grande pulo. Na trama baseada em fatos, Laurel Hesten (Moore) é uma eficiente policial de Nova Jersey. Durante a vida toda ela escondeu sua opção sexual. Isso muda quando ela conhece e aos poucos assume a relação com Stacie Andree (Page). Depois de ser diagnosticada com câncer em estágio avançado, a luta da protagonista pelo direito igualitário da parceria por sua pensão será a mais difícil de sua vida.
Um filme só consegue nos emocionar se algo for construído nele para isso. Ou seja, boas atuações, personagens críveis e cenas bem escritas e dirigidas. Se tudo estiver encaixado no lugar merecemos sofrer, porque significa que os realizadores foram eficientes. Fora isso, Freeheld não é nada que já não tenhamos visto antes, assim como Para Sempre Alice, embora o novo trabalho de Moore pareça maior, inclusive na importância do todo. É todo o resto além da história dramática, digna por si só, que consegue chamar atenção.
A dupla Moore e Page, embora estranha de começo, nos cativa ao ponto de eliminar qualquer incredulidade. O mesmo vale para a performance da talentosa indicada ao Oscar Page. De começo criando certa barreira com seu retrato, a jovem de 28 anos conquista de forma muito sincera o direito de ser elogiada. Tudo é muito honesto e real. A veracidade do relacionamento entre o casal é o suficiente para que compremos e soframos junto. O filme não é excessivamente dramático, no entanto, devido a participação de Steve Carell, na pele de um personagem caricato e chamativo, um advogado judeu e gay, que serve de grande alívio cômico toda vez que o filme ganha contornos estarrecedores. Outro que merece ser mencionado é o sempre ótimo Michael Shannon, com uma atuação igualmente pronta para ser premiada. Freeheld pode ser um filme “montado” para prêmios e para que gostemos dele. E faz isso muito bem.