Alerta: a série ‘Freud’ tem classificação indicativa para maiores de 16 anos, entretanto, possui cenas, temáticas e diálogos perturbadores, que, se vistas desacompanhada de uma análise de um profissional de saúde mental, pode gerar confusão e gatilhos nos jovens.
Nem todo mundo conhece profundamente o trabalho do psicanalista Sigmund Freud, mas com certeza já ouviu falar dele, nem que seja na famosa frase “Freud explica”. E por que ele explica? Porque ele foi o médico que mais se dedicou aos estudos do inconsciente e da saúde mental, buscou tratamentos, explicações, origens, gatilhos – tudo isso durante a virada do século XIX, quando boa parte das técnicas utilizadas em pessoas com distúrbios psíquicos e mentais era na base da internação e da tortura.
A aguardada série ‘Freud’, que chegou à plataforma da Netflix no fim de março, traz todos esses elementos, porém o roteiro de Stefan Brunner e Benjamin Hessler é todo construído metaforicamente, colocando essas referências do campo da psicanálise nem sempre no centro da trama, mas sim como artifício periférico para ajudar nos conflitos abordados. Então, se você tem algum conhecimento dos estudos de Freud, fica fácil identificá-los ao longo dos oito episódios de cerca de uma hora de duração. Se você não conhece, esses mesmos pontos podem gerar desconforto. É exemplo disso a cena, no 7º episódio, em que Freud tem uma delírio e, nele, mata o próprio pai e faz sexo com a própria mãe.
O enredo é muito requintado, um pouco confuso, até. A série parte das primeiras manifestações de hipnotismo na Áustria (que ainda vivia sob o regime do império austro-húngaro) e as tentativas de Freud (Robert Finster, muito firme no papel) de dominar essa técnica para utilizá-la como tratamento em pacientes diagnosticados com histeria. Só que nem todos os conhecimentos são utilizados para o bem: o senhor e a senhora Szàpáry (Georg Friedrich e Anja Kling) manipulam a mediunicidade da jovem Fleur Salomé (Ella Rumpf, cujo personagem não à toa tem esse nome), mas, aos poucos, a coisa foge do controle e começa a colocar em risco a vida da alta sociedade.
O diretor Marvin Kren optou por ambientar seu projeto em um universo noir, com uma pegada de romance policial. Assim, o roteiro não só coloca Freud como espectador dos acontecimentos (ele os observa, analisa, reflete, mesmo que também participe ativamente deles), mas como um verdadeiro Sherlock Holmes (que também tava rolando nessa época, mas na Inglaterra), ajudando a polícia local a desvendar mistérios, analisando cena de crime, etc. Embora seja uma pegada interessante, talvez essa abordagem não agrade muito os seguidores do pai da psicanálise.
Toda falada em alemão, a superprodução ‘Freud’ é deslumbrante, e cada episódio tem o nome de uma manifestação do inconsciente. Entretanto, em se tratando de hipnose, não se surpreenda se você acabar dormindo de vez em quando, rs. Além disso, para retratar a bestialidade humana, a série possui diversas cenas de violência bem gráfica: sangue para todos os lados, mutilação, crimes, histeria, uso de drogas, e por aí vai. É pesado de assistir, embora Freud explique.