São cerca de 33 anos desde a estreia mundial do suspense ‘O Silêncio dos Inocentes’, estrelado por Anthony Hopkins, que interpretou o icônico papel de Hannibal Lecter, e Jodie Foster, que deu vida à investigadora Clarice. Na trama, a investigadora pedia ajuda a Hannibal, um detento com gostos peculiares, para capturar um serial killer conhecido como Buffalo Bill. O sucesso foi tão grande que o longa levou cinco Oscars à época e, dez anos depois, ganhou uma continuação e uma série homônima posteriormente. Não há dúvidas de que o longa fez um enorme sucesso, e agora, mais de três décadas depois, é possível ver as influências que essa história mantém até hoje – por exemplo, no suspense psicológico ‘Gaiola Mental’, recém-estreado na Netflix e que tem se mantido no Top 10 da plataforma desde então.
Mary (Melissa Roxburgh) e Jake (Martin Lawrence) são investigadores numa pequena cidade e, certa noite, são chamados para uma cena de crime chocante: o corpo de uma mulher é encontrado numa igreja, todo decorado como se fosse uma estátua celestial. A novata Mary começa a fazer perguntas, até que o experiente Jake, seu parceiro de ronda, lhe explica que anos atrás ele e seu então parceiro se depararam com uma série de crimes semelhantes, porém, o verdadeiro culpado já estava preso. Diante do mistério dos eventos, a polícia só pôde chegar à única conclusão óbvia: alguém estava tentando copiar o estilo do serial killer O Artista (John Malkovich, mais uma vez um tanto quanto teatral). Para conseguir encontrar o atual criminoso, Mary irá pedir a ajuda do verdadeiro Artista, certa de que ele deve ter informações sobre a identidade do assassino.
Em pouco mais de uma hora e meia de duração, ‘Gaiola Mental’ não traz quase nada de novidade para o público com mais de trinta anos e que nunca esqueceu a impactante trama de ‘O Silêncio dos Inocentes’. Em boa parte de sua extensão o longa de Mauro Borrelli segue nos mesmos passos da história originalmente escrita pelo romancista Thomas Hill: uma dupla de investigadores em que só um deles (uma jovem e bonita mulher) ganha a confiança do detento, um serial killer cuja identidade só o perigoso detento possivelmente conhece, um jogo psicológico entre investigadora e investigado estilo “só te dou a informação que você quer se você me der algo pessoal seu em troca”. Para ser cópia, só faltaram mesmo as mariposas.
Escrito pelo próprio Mauro Borrelli e por Reggie Keyohara III, o roteiro não traz nada exatamente impactante nem exige muito do espectador. Mais ainda: o único ponto realmente diferente do thriller no qual supostamente se inspirou é um elemento tão absurdo, que fica difícil de acreditar – e, em muitos casos, pode acabar gerando o riso. Talvez, no final das contas, ‘Gaiola Mental’ valha para aqueles que desconhecem as origens de Hannibal Lecter ou pela oportunidade de ver Martin Lawrence fazendo um papel que não seja de comédia, pois, assim como o argumento do assassino que imita os crimes de seu ídolo para chamar atenção para si, ‘Gaiola Mental’ faz o mesmo sobre ‘O Silêncio dos Inocentes’, mas não assume isso.