Garfield é, provavelmente, um dos gatos fictícios mais conhecidos do mundo. Conhecido, inclusive, por características não tão louváveis, digamos assim: ele é comilão, preguiçoso, bastante mandão, interesseiro e simplesmente não gosta de sair de casa para nada. Criado por Jim Davis, sua primeira aparição foi nas tirinhas de jornal, no final da década de 1970, e suas histórias foram republicadas em 2570 jornais do mundo inteiro. De lá para cá, cinquenta anos se passaram, o gatinho ganhou algumas adaptações fílmicas, sendo a última vinte anos atrás. Agora, pela primeira vez às novas gerações, Garfield volta aos cinemas em mais um longa-metragem, ‘Garfield Fora de Casa’, que chega a partir dessa semana ao circuito exibidor.
Garfield (na voz original de Chris Pratt) está superconfortável em sua vidinha na casa de Jon (Nicholas Hoult): com o celular de seu humano, ele faz pedidos de entrega de comida diariamente, fica assistindo tv na sua poltrona favorita, tira vários cochilos durante o dia e ainda de quebra tem o cachorro, Odie (Harvey Guillén) fazendo tudo por ele. Até que certo dia dois cachorros mal-encarados surgem no meio da madrugada e sequestram Garfield e Odie. Certos de que tudo é um grande mal-entendido, Garfield tenta negociar com Jinx (Hannah Waddingham) sua libertação, até descobrir que na verdade ele é só a isca de um elaborado esquema de dívida que envolve ações do passado de seu pai, Victor (Samuel L. Jackson).
Diferentemente dos quadrinhos e dos outros filmes, a novidade em ‘Garfield Fora de Casa’ é, justamente, o fato de o personagem sair dos limites da casa e ir pro mundo. Nesse sentido (e diferentemente da aventura no palácio de Buckingham), uma vez que tudo que conhecemos dele está limitado ao ambiente doméstico, tudo vira aventura para um animal que nunca saiu de casa. É o principal acerto dos cem minutos de duração do longa.
Assim, o roteiro de Paul A. Kaplan, Mark Torgove e David Reynolds se atenta às características do protagonista para tornar absolutamente tudo uma aventura aos seus olhos, desde a forma como se pendurar numa árvore às interações com animais de outras espécies. Ao mesmo tempo em que transforma Garfield em um gatinho mais carismático (uma vez que originalmente ele era um gato que sequer ficava e pé e só fazia reclamar), não deixa de lado suas raízes, inserindo comentários sarcásticos, críticos e até mesmo inclusivos, uma vez que a gordofobia sempre foi uma pauta que esteve presente nas histórias do gatinho. Dessa vez, há orgulho, valorização e respeito a todos os tipos de corpos.
A dublagem brasileira imprime nosso tempero com a voz de Raphael Rossatto no gogó do protagonista, além de outras vozes conhecidas do público que ajudam a reforçar a graça em piadas que, com suas entonações, ganham volume de humor. Mark Dindal, como diretor, encontrou um bom equilíbrio nesse filme entre agradar o público clássico, que cresceu com o gato laranja, e apresentar o personagem de maneira a conquistar as novas gerações. Foi um grande acerto incluir neste ‘Garfield Fora de Casa’ as origens do gatinho (algo ainda não apresentado nos filmes) e sua redenção familiar, o que deixa brecha para novos caminhos a percorrer.
‘Garfield Fora de Casa’ é o melhor filme do gatinho laranja em diversos quesitos. Divertido e engraçado, é um programão para toda a família, inclusive porque dá fome – e nada melhor do que um almoço em família depois do cineminha.