[ANTES DE COMEÇAR A MATÉRIA, FIQUE CIENTE QUE ELA ESTÁ RECHEADA DE SPOILERS]
Se você ainda não assistiu aos três primeiros episódios de Gavião Arqueiro, não leia esta matéria para não receber spoilers.
Com o lançamento de dois episódios de uma só vez, a série do Gavião Arqueiro já está na metade. Com seu jeitão mais descompromissado, a produção conquistou logo de cara, mas nenhum dos capítulos anteriores se compara com esse terceiro. Além de introduzir um possível novo antigo vilão, “Ecos” encontrou um ritmo perfeito de ação e aventura, que faz dele o melhor da série até aqui. Apesar disso, a cada novo capítulo lançado, fica a sensação de que “Gavião Arqueiro” foi pensada como um grande filme de seis horas de duração. Em outras palavras, pode ser que esse formato não conquiste tanto aos fãs antigos de seriados, mas provavelmente vai render uma maratona espetacular no natal de 2021.
A parte inicial do episódio é toda focada na introdução de uma personagem que tem tanto potencial que já teve até spin-off confirmado pela Disney. Interpretada por Alaqua Cox, que é realmente deficiente auditiva e usa uma prótese na perna, Maya Lopez teve sua primeira aparição badass no segundo episódio de Gavião Arqueiro como chefe da Gangue do Agasalho, mas só agora ganhou desenvolvimento. Foi mostrado seu passado como uma criança com deficiência auditiva que não tinha condições de pagar por uma escola especial para pessoas surdas, então precisou encontrar um jeito de transitar entre seu mundo silencioso com o mundo barulhento das outras crianças. E como ela fez isso? Com sua visão e muita atenção. Ao focar em detalhes e expressões corporais, a menina desenvolveu reflexos muito rápidos e passou a entender como as pessoas e o ambiente ao redor se comportam diante de ações escolhidas, quase como uma ecolocalização. Com sua habilidades, ela treinou artes marciais e se tornou uma exímia lutadora, até que seu pai foi assassinado – afinal, todo mundo que passa a infância treinando artes marciais nos quadrinhos tem um pai envolvido com coisa errada – e ela foi adotada por seu “tio”.
E aí que as coisas ficam ainda mais interessantes.
Nos quadrinhos, Maya é parte importante de uma fase relativamente recente do Demolidor. Ela é filha adotiva do Rei do Crime, e acaba sendo manipulada pelo pai adotivo a acreditar que foi Matt Murdock o responsável pela morte do pai biológico. Eventualmente, as coisas se resolvem e ela passa para o lado dos heróis. Mas esse passado das HQs e a cena em que o braço do “Tio” aparece na série dando um tradicional apertão de bochecha na pequena Eco são fortes indícios de que o grande vilão por trás dessa história será mesmo o Rei do Crime, fazendo dessa sua primeira participação oficial no MCU.
É que, por melhor que seja, no momento, a série do Demolidor, da Netflix, não é considerada canônica. Porém, tudo indica que Vincent D’Onofrio vá reprisar seu papel como Rei do Crime, boato esse fortalecido pelo próprio ator, que pediu uma certa atenção do público para a série em sua conta do Twitter.
This is going to be fun. I love these @Marvel series. https://t.co/6jN9FCwIkp
— Vincent D’Onofrio (@vincentdonofrio) November 17, 2021
Junte esse possível retorno do Rei do Crime com os boatos de que Charlie Cox reprisaria seu papel como Matthew Murdock em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa e temos um possível núcleo do Demolidor sendo desenvolvido aos poucos, provavelmente se estendendo para a série solo da Eco. E se isso for confirmado, o MCU ganha muito com a adição desse núcleo Atrevido. Ninjas, conspirações e muita porrada bruta que podem integrar bem com outros heróis, como o próprio Shang-Chi (Simu Liu).
Saindo do lado dos vilões e indo para os protagonistas, Clint Barton e Kate Bishop (Jeremy Renner e Hailee Steinfeld, respectivamente) continuam na jornada para desassociar o nome de Kate do procurado Ronin. Clint conta sua verdade para Eco e a Gangue do Agasalho sobre a Viúva Negra (Scarlett Johansson) ter matado o Ronin diante de seus olhos. Eles não acreditam, mas isso figurativamente aconteceu em Vingadores: Ultimato (2019), quando a Natasha trouxe esperança para Clint e se sacrificou para que ele pudesse ter sua família de volta. Nesse momento, o personagem entende que sua alcunha de assassino em busca de vingança não faz mais sentido e a enterra de vez.
Kate obviamente não entende o que está acontecendo, enquanto rola uma discussão acerca de ser mais confiante. O excesso de confiança de Kate, que fala bastante para disfarçar o medo da situação, quase custa a vida deles, mas é bem divertido. Essa é uma característica da personagem, que ainda está deslumbrada com a vida de super-herói. Mais tarde, depois que a Eco destrói o aparelho auditivo de Clint, tentando fazê-lo abraçar sua deficiência auditiva para se entender melhor e chegar ao máximo potencial, assim como ela fez na infância, Kate e Clint escapam em uma perseguição maravilhosa que replica perfeitamente o estilo de ação dos quadrinhos de Matt Fraction. E como ele é um dos consultores da série, dá pra notar nitidamente sua influência nessa sequência.
E um dos pontos mais legais dessa perseguição é a presença do Cherry, o carro do Gavião. Para quem não leu as HQs, esse Dodge Challenger da década de 70 é um xodó do herói, não só por ser um clássico de design arrojado, mas também por ser uma perfeita representação do próprio herói.
Nessa fase do Matt Fraction, o Clint está só o pó da rabiola, uma completo fracasso que vive na pindaíba com seus próprios erros. Ele perde a audição e se quebra várias vezes, tanto que está sempre com os curativos no rosto, só que acaba sempre encontrando um jeito de se reerguer para ajudar e ser ajudado por Kate. Paralelamente a isso, o coitado do Cherry está sempre sendo amassado e destruído, mas sempre termina sendo remontado para partir rumo a novas aventuras. É como se o homem e o carro fossem um só: ultrapassados, machucados, resilientes e sempre retornando para provar que não estão acabados.
Particularmente, espero que o Cherry volte a aparecer, principalmente porque ele termina esse episódio com a dianteira destruída. Nada como um conserto para ele ir parar nas mãos do velho Clint.
Sem conseguir escutar, Clint dirige e coloca Kate para atirar com suas flechas especiais. É legal que finalmente estejam explorando as infinidades de flechas engenhosas que o herói tem, mas que foram pouco usadas nos cinemas. O grande destaque do episódio é uma flecha feita com tecnologia Pym de crescimento. Ele acerta outra flecha com ela, transformando a arma em uma flecha do tamanho de um poste, destruindo um carro inteirinho.
A cena em que isso acontece lembra bastante um momento icônico do MCU, em Capitão América: Guerra Civil (2016), quando o Gavião Arqueiro atira contra o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) com o Homem-Formiga (Paul Rudd) preso na ponta da flecha.
Por fim, o episódio termina com Clint e Kate tomando café da manhã, quando a menina faz uma sugestão para melhorar o branding do herói. A sugestão é nada menos que o uniforme dos quadrinhos do personagem. Ela também deixa claro que não faz ideia de que o Ronin era o próprio Clint, o que pode gerar um conflito entre os dois quando a verdade vier à tona. Nessa conversa, eles decidem invadir o sistema de segurança da Bishop mãe, mas Clint acaba sendo encurralado pelo Espadachim (Tony Dalton). Nas HQs, o Espadachim foi mentor de Clint e posteriormente se tornaria inimigo dele. Provavelmente veremos apenas a parte do “rivais” na série.
E, pelo que parece, o Rei do Crime está mesmo vindo aí. Ansiosos?
Os novos episódios de Gavião Arqueiro estreiam toda quarta-feira no Disney+.