quinta-feira , 14 novembro , 2024

Crítica | Get The Hell Out: Comédia de terror de zumbis é deliciosamente divertida

Filme assistido durante o Festival de Toronto 2020

Contrariando os sentidos tradicionais das histórias de zumbi – que frequentemente relatam essas caricatas e curiosas figuras de forma mais aquém e aleatórias à sua realidade – Get The Hell Out é uma surpresa que foge também do circuito cinematográfico ocidental. Dirigido e roteirizado pelo jovem I-Fan Wang, a comédia de terror pitoresca apresenta o cinema tailandês ao lado de cá do mundo de maneira inesperada. Com uma história que explora o tumultuado quadro político de sua própria nação, o longa transforma uma inquietação em relação à monarquia tailandesa em um instrumento de escárnio e entretenimento, e ainda entrega o que talvez seja uma das comédias mais alucinantes dos últimos anos.



Na trama, uma jovem mulher vai à luta com unhas e dentes contra o Parlamento tailandês, a fim de preservar a sua casa e impedir que o lixo tóxico depositado nesta região transforme a população em zumbis sanguinários. Essa jornada não será nada simples, uma vez que interesses políticos e influências diversas tornarão o que deveria ser uma discussão racional em uma insana carnificina sem precedentes. E com um roteiro enérgico que brinca com as mais diversas referências da cultura POP mundial e – principalmente – asiática, Get The Hell Out é uma surpresa deliciosa para quem está disposto a puramente se divertir diante das telas.

Sem o compromisso direto com o realismo, a trama extrapola todos os limites dos gêneros em que se encontra, desafia a didática do cinema tradicional e faz uma sucessão de metáforas com a própria loucura da monarquia tailandesa – que tem sido alvo de protestos e revoltas -, a fim de entregar uma mensagem que, embora seja essencialmente cômica e despretensiosa, carregue em si um aspecto denunciante. Com seu ato de abertura sendo inaugurado sob a pesada reflexão “um filme ruim faz você sofrer por 90 minutos. Um governo ruim faz você sofrer por quatro anos”, a comédia de terror até parece se comunicar com os devaneios políticos do nosso Brasil. E com esse prelúdio, ela prepara a audiência para uma sequência inesgotável de cenas de ação tão escabrosas, que chegam a ser vibrantes tamanha descarga de endorfina no público.

Mas é claro que para aproveitar Get The Hell Out em toda a sua insanidade, é fundamental comprar a ideia de que estamos diante de um conto hiperbólico sobre as mazelas da vida. E uma vez que você se entrega à essa experiência – que se assemelha a uma interminável montanha russa -, cada novo ato da produção se torna um deleite cômico, nos leva à referências saudosas como os games Mortal Kombat e Street Fighter, à cultura de karaokê – tradicional do povo asiático, entre tantos outros elementos quase metalinguísticos da cenário POP. Exagerado e enérgico, o longa de I-Fan Wang brinca com os clichês norte-americanos, faz uma mistura inusitada e divertida de vários elementos da indústria do entretenimento, como Os Simpsons e os clássicos filmes western, e não tem medo de flertar com o gênero cinematográfico trash. E assim o faz com muito humor e dignidade.

Com o seu maior problema sendo genuinamente a falta de respiro entre as cenas de ação, que com o passar do tempo chegam a ser exaustivas para a audiência, a comédia de terror zumbi é um espetáculo visual de pura sanguinolência exagerada, brinca com seu próprio clímax, sendo até mesmo piegas e cafona. Faz tudo isso de propósito, como uma pequena analogia ao cenário atual da Tailândia, e se comunica melhor com seu povo local, à medida que prefere entregar uma experiência visceral para o público ocidental – ainda que ele desconheça o background real da narrativa. Independente disso, o inusitado Get The Hell Out não desaponta, sabe muito bem (e até demais) usar o seu tempo de tela e ao final é capaz de deixar a audiência à deriva, tentando recuperar o fôlego de uma maratona de socos, pancadas, sangue e muita comédia.

 

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Na trama, uma jovem mulher vai à luta com unhas e dentes contra o Parlamento tailandês, a fim de preservar a sua casa e impedir que o lixo tóxico depositado nesta região transforme a população em zumbis sanguinários. Essa jornada não será nada simples, uma vez que interesses políticos e influências diversas tornarão o que deveria ser uma discussão racional em uma insana carnificina sem precedentes. E com um roteiro enérgico que brinca com as mais diversas referências da cultura POP mundial e – principalmente – asiática, Get The Hell Out é uma surpresa deliciosa para quem está disposto a puramente se divertir diante das telas.

Sem o compromisso direto com o realismo, a trama extrapola todos os limites dos gêneros em que se encontra, desafia a didática do cinema tradicional e faz uma sucessão de metáforas com a própria loucura da monarquia tailandesa – que tem sido alvo de protestos e revoltas -, a fim de entregar uma mensagem que, embora seja essencialmente cômica e despretensiosa, carregue em si um aspecto denunciante. Com seu ato de abertura sendo inaugurado sob a pesada reflexão “um filme ruim faz você sofrer por 90 minutos. Um governo ruim faz você sofrer por quatro anos”, a comédia de terror até parece se comunicar com os devaneios políticos do nosso Brasil. E com esse prelúdio, ela prepara a audiência para uma sequência inesgotável de cenas de ação tão escabrosas, que chegam a ser vibrantes tamanha descarga de endorfina no público.

Mas é claro que para aproveitar Get The Hell Out em toda a sua insanidade, é fundamental comprar a ideia de que estamos diante de um conto hiperbólico sobre as mazelas da vida. E uma vez que você se entrega à essa experiência – que se assemelha a uma interminável montanha russa -, cada novo ato da produção se torna um deleite cômico, nos leva à referências saudosas como os games Mortal Kombat e Street Fighter, à cultura de karaokê – tradicional do povo asiático, entre tantos outros elementos quase metalinguísticos da cenário POP. Exagerado e enérgico, o longa de I-Fan Wang brinca com os clichês norte-americanos, faz uma mistura inusitada e divertida de vários elementos da indústria do entretenimento, como Os Simpsons e os clássicos filmes western, e não tem medo de flertar com o gênero cinematográfico trash. E assim o faz com muito humor e dignidade.

Com o seu maior problema sendo genuinamente a falta de respiro entre as cenas de ação, que com o passar do tempo chegam a ser exaustivas para a audiência, a comédia de terror zumbi é um espetáculo visual de pura sanguinolência exagerada, brinca com seu próprio clímax, sendo até mesmo piegas e cafona. Faz tudo isso de propósito, como uma pequena analogia ao cenário atual da Tailândia, e se comunica melhor com seu povo local, à medida que prefere entregar uma experiência visceral para o público ocidental – ainda que ele desconheça o background real da narrativa. Independente disso, o inusitado Get The Hell Out não desaponta, sabe muito bem (e até demais) usar o seu tempo de tela e ao final é capaz de deixar a audiência à deriva, tentando recuperar o fôlego de uma maratona de socos, pancadas, sangue e muita comédia.

 

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