domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Greed: Sátira sobre a corrupta indústria de fast fashion é um soco no estômago

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Filme assistido durante o Festival de Toronto

Crescimentos explosivos, trocas de coleções quase que semanalmente e preços incrivelmente tentadores. Lojas como a Forever 21, Zara, H&M e até mesmo a Renner, C&A e Riachuelo cresceram de maneira vertiginosamente com ofertas irresistíveis, roupas que seguem a tendência atual e valores bem irrisórios – quando comparados àquelas pequenas, médias e enormes boutiques. Mas qual seria o genuíno valor das peças comercializadas? Sua origem é socialmente responsável ou estaríamos nos vestindo com roupas que custaram a vida de mulheres asiáticas, que trabalham em galpões mal arejados e ganham o minúsculo valor de US$ 1,30 por hora trabalhada? Greed vem às telonas para responder a essas e tantas outras perguntas, se apropriando de uma narrativa semelhante a do documentário The True Cost, acrescentando o tom ideal de ironia, sarcasmo e sátira, em uma comédia dramática que, no final das contas, é um baita soco na boca do estômago.



Na trama dirigida por Michael Winterbottom e co-escrita por ele e Sean Gray, toda a questão de como as lojas de fast fashion lidam com suas produções de roupa é vista pela ótica mais parcial possível, por razões óbvias. Ao invés de direcionar nossos olhos – inicialmente – para as agravantes condições insalubres de trabalho das mulheres que passam seus dias costurando roupas que serão vendidas por uma média de US$ 30,00, o filme segue a premissa de seu próprio nome: segue os rumos da ganância, nos apresentando o implacável Steve Coogan como um magnata bilionário que é dono de uma loja de departamentos que compete diretamente com as concorrentes estrangeiras apresentadas logo acima. Aqui, em uma tentativa fracassada de defender seu modelo de negócio – marcado por negociações vorazes com donos de galpões de costura, que acarretam naqueles precinhos pechinchas que vemos nas vitrines das lojas -, ele é um homem sem escrúpulos, profundamente vaidoso e sagaz em sua essência.

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Sua atuação é a mais pura e impecável definição de troglodita grotesco e por meio de sua caracterização, Greed ainda nos apresenta ao seu peculiar círculo familiar e de amigos, a partir de uma narrativa que começa sua jornada em seu aniversário de 60 anos. Enaltecendo, com muita ironia e sarcasmo, a excentricidade que bilionários como ele possuem, a produção faz escorrer pelas telas uma soberba sem precedentes, é uma crítica direta aos verdadeiros sócios fundadores da Zara, Forever 21 e H&M e faz um contraste desconfortável entre a realidade daqueles que costuram roupas estilosas e aqueles que sequer as usam, mas sabem fazer uma fortuna imensurável com cada um dessas peças.

A extravagância inquietante do drama ainda é incorporada pelas atuações de um elenco que se entrega aos personagens, revelando genuínas personas detestáveis e chocantes, tamanha a falta de bom senso social e econômico. Aqui, Isla Fisher e Asa Butterfield complementam o trabalho de Coogan, como coadjuvantes que sabem se destacar diante do grande ator, dominando suas cenas com precisão e amargor. Sem o filtro ético que definiria os verdadeiros princípios que uma pessoa digna deveria ter, todos eles são fragmentos da causa e da extensão de uma série de injustiças mundiais, apresentadas com maestria em seu roteiro, que faz um contraste ensurdecedor entre a suntuosa festa de aniversário inspirada em deuses gregos e um grupo generoso de imigrantes instalados na praia, em frente à mansão. Vítimas das crises políticas e econômicas de seus países, eles pelejam em barracas alojadas na bela costa praiana, sendo engolidos pelo visual estarrecedor de um evento que emana luxo, poder e dinheiro.

Divertido e confrontador, Greed é uma experiência cinematográfica chocante, cujo impacto se comunica mais diretamente com consumidores de fast fashion. Explorando uma dura realidade esquecida até mesmo por celebridades, que no passado se associaram a essas marcas com coleções especiais (como é o próprio caso da Gisele Bündchen, que já estampou uma parceria com a H&M no passado), o filme faz duras críticas ao modelo contemporâneo de trabalho escravo adotado por essas lojas. Usando o sarcasmo como o filtro que visa colocar toda a audiência em posição de alerta e análise, o longa nos leva a nos questionarmos a respeito de nossas escolhas quando o assunto é moda. Entrelaçando seus personagens de forma madura, a narrativa cresce de maneira caótica, performática e excêntrica ao extremo, justamente com o objetivo de mostrar o nível de surrealismo que essa pequena parcela mais rica do mundo cria ao seu redor, a ponto de – eventualmente – se tornar vítimas de sua própria e sufocadora ganância.

Progressiva e construtiva, a produção ainda conta com uma trilha sonora revigorante, que passeia pelas décadas de 70, 80, 90 e 2000, ajudando a compor o teor cômico e irônico de seu roteiro. Com uma direção simples, Greed culmina com um final que é um genuíno soco na boca do estômago. Clamando por justiça sócio econômica para uma das áreas mais enriquecedoras, a comédia dramática diverte quando necessário, mas não se esquiva de sua responsabilidade denunciante, fazendo de toda sua trama uma desconfortável reflexão mental e emocional sobre o que acharíamos de consumir roupas de maneira tão irresponsável, se o verdadeiro preço fosse a vida de alguém que amamos.

 

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Na trama dirigida por Michael Winterbottom e co-escrita por ele e Sean Gray, toda a questão de como as lojas de fast fashion lidam com suas produções de roupa é vista pela ótica mais parcial possível, por razões óbvias. Ao invés de direcionar nossos olhos – inicialmente – para as agravantes condições insalubres de trabalho das mulheres que passam seus dias costurando roupas que serão vendidas por uma média de US$ 30,00, o filme segue a premissa de seu próprio nome: segue os rumos da ganância, nos apresentando o implacável Steve Coogan como um magnata bilionário que é dono de uma loja de departamentos que compete diretamente com as concorrentes estrangeiras apresentadas logo acima. Aqui, em uma tentativa fracassada de defender seu modelo de negócio – marcado por negociações vorazes com donos de galpões de costura, que acarretam naqueles precinhos pechinchas que vemos nas vitrines das lojas -, ele é um homem sem escrúpulos, profundamente vaidoso e sagaz em sua essência.

Sua atuação é a mais pura e impecável definição de troglodita grotesco e por meio de sua caracterização, Greed ainda nos apresenta ao seu peculiar círculo familiar e de amigos, a partir de uma narrativa que começa sua jornada em seu aniversário de 60 anos. Enaltecendo, com muita ironia e sarcasmo, a excentricidade que bilionários como ele possuem, a produção faz escorrer pelas telas uma soberba sem precedentes, é uma crítica direta aos verdadeiros sócios fundadores da Zara, Forever 21 e H&M e faz um contraste desconfortável entre a realidade daqueles que costuram roupas estilosas e aqueles que sequer as usam, mas sabem fazer uma fortuna imensurável com cada um dessas peças.

A extravagância inquietante do drama ainda é incorporada pelas atuações de um elenco que se entrega aos personagens, revelando genuínas personas detestáveis e chocantes, tamanha a falta de bom senso social e econômico. Aqui, Isla Fisher e Asa Butterfield complementam o trabalho de Coogan, como coadjuvantes que sabem se destacar diante do grande ator, dominando suas cenas com precisão e amargor. Sem o filtro ético que definiria os verdadeiros princípios que uma pessoa digna deveria ter, todos eles são fragmentos da causa e da extensão de uma série de injustiças mundiais, apresentadas com maestria em seu roteiro, que faz um contraste ensurdecedor entre a suntuosa festa de aniversário inspirada em deuses gregos e um grupo generoso de imigrantes instalados na praia, em frente à mansão. Vítimas das crises políticas e econômicas de seus países, eles pelejam em barracas alojadas na bela costa praiana, sendo engolidos pelo visual estarrecedor de um evento que emana luxo, poder e dinheiro.

Divertido e confrontador, Greed é uma experiência cinematográfica chocante, cujo impacto se comunica mais diretamente com consumidores de fast fashion. Explorando uma dura realidade esquecida até mesmo por celebridades, que no passado se associaram a essas marcas com coleções especiais (como é o próprio caso da Gisele Bündchen, que já estampou uma parceria com a H&M no passado), o filme faz duras críticas ao modelo contemporâneo de trabalho escravo adotado por essas lojas. Usando o sarcasmo como o filtro que visa colocar toda a audiência em posição de alerta e análise, o longa nos leva a nos questionarmos a respeito de nossas escolhas quando o assunto é moda. Entrelaçando seus personagens de forma madura, a narrativa cresce de maneira caótica, performática e excêntrica ao extremo, justamente com o objetivo de mostrar o nível de surrealismo que essa pequena parcela mais rica do mundo cria ao seu redor, a ponto de – eventualmente – se tornar vítimas de sua própria e sufocadora ganância.

Progressiva e construtiva, a produção ainda conta com uma trilha sonora revigorante, que passeia pelas décadas de 70, 80, 90 e 2000, ajudando a compor o teor cômico e irônico de seu roteiro. Com uma direção simples, Greed culmina com um final que é um genuíno soco na boca do estômago. Clamando por justiça sócio econômica para uma das áreas mais enriquecedoras, a comédia dramática diverte quando necessário, mas não se esquiva de sua responsabilidade denunciante, fazendo de toda sua trama uma desconfortável reflexão mental e emocional sobre o que acharíamos de consumir roupas de maneira tão irresponsável, se o verdadeiro preço fosse a vida de alguém que amamos.

 

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