sábado , 23 novembro , 2024

Crítica HBO | O Conto – Laura Dern no auge da forma em história real sobre abuso

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Sucesso em sua estreia no Festival de Sundance deste ano, O Conto, produção da HBO, chega agora ao Brasil diretamente no canal a cabo. E sim, este é um show de Laura Dern. Isto era justamente tudo o que este que vos fala sabia sobre a produção: o esperado tour de force da veterana atriz. Quanto a isso não há dúvidas. A expectativa se cumpre.

No entanto, ao adentrar cada momento, vislumbrar cada cena, começamos a descortinar uma trama nefasta, sombria e a cada passo mais odiosa, escondida num manto ensolarado, de uma narração poética. Este é o verdadeiro ás na manga da cineasta Jennifer Fox, autora do roteiro e diretora do longa.



O enigmático argumento só se descortina por completo no ponto final. Quando a obra sobe seus créditos, os desavisados seguem surpreendendo-se, já que parte do segredo desta poderosa história sobre abuso infantil é revelado justamente nas letras sobrepostas ao fundo negro, que nomeiam os incumbidos de cada área da produção. É só aí que ficamos sabendo que tal história chocante, a qual presenciamos angustiados e nos retorcendo, ocorreu com a própria Jennifer Fox – nossa guia através da obra.

Sim, Laura Dern interpreta Jenny Fox, mas não uma versão fictícia ou sequer romanceada da diretora. Ela canaliza os sentimentos da cineasta e traduz seu sofrimento em película. É só quando as luzes se apagam que compreendemos ainda mais o valor do que foi mostrado na tela – que se na ficção já choca e repele, na realidade torna-se ainda mais intolerável e repulsivo.

Misto de ficção, documentário e biografia, Fox destrincha seu próprio passado publicamente, realizando assim uma terapia intensiva a fim de exorcizar por fim seus mais assustadores demônios. Na trama, Jenny (papel de Isabelle Nélisse), uma menina de treze anos, é levada pela mãe para uma espécie de colônia de férias particular. No local, algumas outras meninas são ensinadas a montar a cavalo, neste curso que inclui sua hospedagem. Tudo é supervisionado pela Senhora G. – papel de Elizabeth Debicki na juventude e Frances Conroy já mais velha, uma cidadã exemplar, casada e mãe de um menino.

Por trás da fachada pura e dos ensinamentos libertários, altruístas e espirituais, se escondem comportamentos inadequados e repudiados pela sociedade. No local, a bela, imponente e indefectível Senhora G, reserva o relacionamento extraconjugal com Bill (Jason Ritter), sujeito que participa de seu entusiasmo em relação aos conceitos propícios da década de 1970, do amor livre, elevação do espírito e natureza. É exatamente o que cita a certa altura a protagonista já na fase adulta: “eram os anos 70”.

O Conto é sobre repressão. Sobre visões diferentes e como escolhemos lidar com problemas psicológicos levados muitas vezes pela vida inteira. Na infância não entendemos e, tampouco, sabemos como agir contra abusos que nos foram cometidos. Jenny, aos treze anos, viveu um relacionamento amoroso com dois adultos. Na versão lírica de suas lembranças, o ato covarde era encarado ainda com certa ternura e nostalgia por ela. A proposta é justamente a jornada que leva a protagonista a começar a reinterpretar o ocorrido, enquanto refaz a trajetória através de pesquisas sobre seu passado, encontrando fotos, falando com pessoas próximas e indo atrás dos personagens chave desta cabulosa trama.

Completando o elenco principal, a veterana Ellen Burstyn (O Exorcista e Réquiem para um Sonho) vive a mãe ausente, parte da dinâmica familiar que foi responsável pelo desejo de fuga da protagonista. A personagem matriarca lembra a de Patricia Clarkson em outra produção da casa, a minissérie Objetos Cortantes. John Heard (o pai de Esqueceram de Mim), falecido em 2017, aparece em um de seus últimos trabalhos, na pele do predador Bill já na fase atual.

O Conto não é exatamente o que você está esperando ao ler a sinopse. É um filme que trata sobre abuso infantil de uma forma diferente. A obra, como dito, é muito mais a catarse de sua autora, conduzida através do desempenho esforçado de uma intérprete do nível de Dern, do que sobre resoluções e conclusões. É sobre causa e efeito. Sobre acertar as contas com o passado e passar a limpo conflitos interiores. Sua confecção é inteligente por não demonizar ou santificar os personagens que orbitam ao redor de acontecimentos tão hediondos por si só. O Conto, escrito por Jennifer Fox aos treze anos, impressiona pela honestidade, criando um filme único na forma de abordar um tema tão incômodo. Longe de querer apenas polemizar, O Conto se torna imediatamente um filme de cabeceira, indispensável para o estudo e entendimento do assunto abordado.

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No entanto, ao adentrar cada momento, vislumbrar cada cena, começamos a descortinar uma trama nefasta, sombria e a cada passo mais odiosa, escondida num manto ensolarado, de uma narração poética. Este é o verdadeiro ás na manga da cineasta Jennifer Fox, autora do roteiro e diretora do longa.

O enigmático argumento só se descortina por completo no ponto final. Quando a obra sobe seus créditos, os desavisados seguem surpreendendo-se, já que parte do segredo desta poderosa história sobre abuso infantil é revelado justamente nas letras sobrepostas ao fundo negro, que nomeiam os incumbidos de cada área da produção. É só aí que ficamos sabendo que tal história chocante, a qual presenciamos angustiados e nos retorcendo, ocorreu com a própria Jennifer Fox – nossa guia através da obra.

Sim, Laura Dern interpreta Jenny Fox, mas não uma versão fictícia ou sequer romanceada da diretora. Ela canaliza os sentimentos da cineasta e traduz seu sofrimento em película. É só quando as luzes se apagam que compreendemos ainda mais o valor do que foi mostrado na tela – que se na ficção já choca e repele, na realidade torna-se ainda mais intolerável e repulsivo.

Misto de ficção, documentário e biografia, Fox destrincha seu próprio passado publicamente, realizando assim uma terapia intensiva a fim de exorcizar por fim seus mais assustadores demônios. Na trama, Jenny (papel de Isabelle Nélisse), uma menina de treze anos, é levada pela mãe para uma espécie de colônia de férias particular. No local, algumas outras meninas são ensinadas a montar a cavalo, neste curso que inclui sua hospedagem. Tudo é supervisionado pela Senhora G. – papel de Elizabeth Debicki na juventude e Frances Conroy já mais velha, uma cidadã exemplar, casada e mãe de um menino.

Por trás da fachada pura e dos ensinamentos libertários, altruístas e espirituais, se escondem comportamentos inadequados e repudiados pela sociedade. No local, a bela, imponente e indefectível Senhora G, reserva o relacionamento extraconjugal com Bill (Jason Ritter), sujeito que participa de seu entusiasmo em relação aos conceitos propícios da década de 1970, do amor livre, elevação do espírito e natureza. É exatamente o que cita a certa altura a protagonista já na fase adulta: “eram os anos 70”.

O Conto é sobre repressão. Sobre visões diferentes e como escolhemos lidar com problemas psicológicos levados muitas vezes pela vida inteira. Na infância não entendemos e, tampouco, sabemos como agir contra abusos que nos foram cometidos. Jenny, aos treze anos, viveu um relacionamento amoroso com dois adultos. Na versão lírica de suas lembranças, o ato covarde era encarado ainda com certa ternura e nostalgia por ela. A proposta é justamente a jornada que leva a protagonista a começar a reinterpretar o ocorrido, enquanto refaz a trajetória através de pesquisas sobre seu passado, encontrando fotos, falando com pessoas próximas e indo atrás dos personagens chave desta cabulosa trama.

Completando o elenco principal, a veterana Ellen Burstyn (O Exorcista e Réquiem para um Sonho) vive a mãe ausente, parte da dinâmica familiar que foi responsável pelo desejo de fuga da protagonista. A personagem matriarca lembra a de Patricia Clarkson em outra produção da casa, a minissérie Objetos Cortantes. John Heard (o pai de Esqueceram de Mim), falecido em 2017, aparece em um de seus últimos trabalhos, na pele do predador Bill já na fase atual.

O Conto não é exatamente o que você está esperando ao ler a sinopse. É um filme que trata sobre abuso infantil de uma forma diferente. A obra, como dito, é muito mais a catarse de sua autora, conduzida através do desempenho esforçado de uma intérprete do nível de Dern, do que sobre resoluções e conclusões. É sobre causa e efeito. Sobre acertar as contas com o passado e passar a limpo conflitos interiores. Sua confecção é inteligente por não demonizar ou santificar os personagens que orbitam ao redor de acontecimentos tão hediondos por si só. O Conto, escrito por Jennifer Fox aos treze anos, impressiona pela honestidade, criando um filme único na forma de abordar um tema tão incômodo. Longe de querer apenas polemizar, O Conto se torna imediatamente um filme de cabeceira, indispensável para o estudo e entendimento do assunto abordado.

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