quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | ‘Heartstopper’ retorna com uma 2ª temporada ENCANTADORA e comovente

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Em 2022, a Netflix conquistava seus assinantes com o lançamento de Heartstopper, série baseada nos quadrinhos homônimos assinados por Alice Oseman. A produção, centrada nos jovens Charlie Spring (Joe Locke) e Nick Nelson (Kit Connor), contrariou todas as nossas expectativas e se tornou um grande acerto da plataforma de streaming, apresentando uma cândida e singela narrativa LGBTQIA+ que honrou o material original e conquistou os fãs ao redor do mundo. Agora, estamos de volta com a aguardada segunda temporada – que se mantém fiel à qualidade do ciclo de estreia conforme expande a trama para temas importantes que englobam discussões sobre identidade de gênero, a comunidade queer como um todo e questões sobre distúrbios alimentares, bullying e toxicidade familiar.

Para aqueles que não se recordam, o final da iteração predecessora terminou com Nick finalmente abraçando a si próprio e dizendo a Charlie que iria se assumir para todo mundo – com o primeiro passo dado, considerando que ele se abriu para a mãe (Olivia Colman) em uma tocante cena. Logo, não é nenhuma surpresa que os inéditos episódios discorram sobre a luta que Nick trava consigo mesmo, temendo o que acontecerá com sua vida no momento em que ele revelar ser bissexual para todos e desejando se livrar desse “segredo” para, enfim, ficar ao lado de Charlie. Todavia, as coisas não são tão fáceis quanto parecem – e qualquer um que tenha passado pela mesma situação se identifica imediatamente com a angústia sentida por Nick.



Oseman retorna como roteirista, motivo pelo qual sabe como explorar as múltiplas camadas de cada personagem, já que os conhece como a palma da mão. De fato, um dos ápices da nova temporada é o comprometimento que Oseman tem de trazer todos os aspectos que fizeram os leitores se apaixonarem por seus escritos e amalgamá-los com construções dialógicas para a geração a que a série é destinada e para as outras faixas etárias que resolvam mergulhar nesse envolvente universo. É claro que o foco, direcionado a Nick, mostra-se, por vezes, cansativo e repetitivo – mas talvez essa tenha sido a ideia: colocar alguém que está em combate com quem realmente é e reiterar que a jornada não é tão simples quanto certas pessoas podem imaginar.

Connor faz um sólido trabalho, mas é Locke quem rouba nossa atenção com uma performance ainda melhor que no ciclo de estreia, permanecendo fiel aos trejeitos do personagem sem deixar de lado incursões novas que aumentam os laços entre o público e Charlie. Afinal, como podemos perceber, ele continua carregando traumas do bullying que sofreu quando se assumiu, enclausurando-se em uma concha de repugnância que valentões e homofóbicos o forçaram a entrar. O rapaz nem ao menos permite que os outros o tratem com indulgência, motivo pelo qual se desculpa por qualquer coisa que faz, sem sequer pensar que pode ser a vítima de uma determinada situação.

O mais notável é como, fugindo das construções formulaicas de produções românticas do gênero, a história traz à tona um relacionamento saudável que, mesmo diante de obstáculos, sabe como dar a volta por cima e resolver situações de maneira responsável e amadurecida. Nick e Charlie escondem algumas coisas que, a princípio, não os afetam – mas que, gradativamente, se aglutinam em uma avalanche inescapável. Nick, por exemplo, sofre com a ausência do pai e o comportamento aversivo do irmão; Charlie, por sua vez, não sabe de que maneira lidar com o assédio sofrido por Ben (Sebastian Croft) ou com um distúrbio alimentar que simplesmente o deixa sem vontade de comer até sofrer com fraqueza extrema. Cada temática é tratada com respeito e, apesar de parecerem superficiais, funcionam como o pontapé inicial de conversas muito necessárias para os dias de hoje.

E não são apenas Locke e Connor que entregam atuações sólidas e memoráveis: Yasmin Finney retorna como Elle, mostrando o amadurecimento da personagem enquanto navega por uma jornada de autodescoberta sobre o que deseja para seu futuro e do que precisará abrir mão; William Gao, encarnando Tao, segue a mesma premissa e deve perceber que mudanças são inevitáveis – e cabe a ele decidir acompanhar essa evolução ou ficar para trás; Tobie Donovan encontra sua voz ao singrar pelos mares infinitos do espectro identitário, sentindo-se aflito por não pertencer a nenhum lugar e aguardando uma merecida epifania.

O tratamento estético é notável nos novos capítulos, principalmente quando falamos da paleta de cores. Apesar da já visto na iteração predecessora, os tons de amarelo abrem a continuação do enredo de forma incisiva, indicando que as tramas e subtramas mostrarão, como mencionado, um louvor bem-vindo pelo coming-of-age e pelo enfrentamento de tabus que não tinham força plena. Ademais, a composição cênica parte de princípios familiares, afastando-se da estética documental das sequências mais dramáticas e apostando em uma zona de conforto que pode não ser original, mas é funcional e prática para o tipo de narrativa que é-nos vendida.

Heartstopper volta com um segundo ano mais espetacular do que prevíamos, fincando-se a uma qualidade notável que, em vários momentos, supera o inegável peso audiovisual da temporada de estreia. Recheado de críticas construtivas e reflexões sobre o significado de uma existência que foge dos padrões cis-heteronormativos impostos pela sociedade, a série se consagra como uma das melhores da atualidade e um convite a conhecer a complexidade do ser humano como ele é.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Para aqueles que não se recordam, o final da iteração predecessora terminou com Nick finalmente abraçando a si próprio e dizendo a Charlie que iria se assumir para todo mundo – com o primeiro passo dado, considerando que ele se abriu para a mãe (Olivia Colman) em uma tocante cena. Logo, não é nenhuma surpresa que os inéditos episódios discorram sobre a luta que Nick trava consigo mesmo, temendo o que acontecerá com sua vida no momento em que ele revelar ser bissexual para todos e desejando se livrar desse “segredo” para, enfim, ficar ao lado de Charlie. Todavia, as coisas não são tão fáceis quanto parecem – e qualquer um que tenha passado pela mesma situação se identifica imediatamente com a angústia sentida por Nick.

Oseman retorna como roteirista, motivo pelo qual sabe como explorar as múltiplas camadas de cada personagem, já que os conhece como a palma da mão. De fato, um dos ápices da nova temporada é o comprometimento que Oseman tem de trazer todos os aspectos que fizeram os leitores se apaixonarem por seus escritos e amalgamá-los com construções dialógicas para a geração a que a série é destinada e para as outras faixas etárias que resolvam mergulhar nesse envolvente universo. É claro que o foco, direcionado a Nick, mostra-se, por vezes, cansativo e repetitivo – mas talvez essa tenha sido a ideia: colocar alguém que está em combate com quem realmente é e reiterar que a jornada não é tão simples quanto certas pessoas podem imaginar.

Connor faz um sólido trabalho, mas é Locke quem rouba nossa atenção com uma performance ainda melhor que no ciclo de estreia, permanecendo fiel aos trejeitos do personagem sem deixar de lado incursões novas que aumentam os laços entre o público e Charlie. Afinal, como podemos perceber, ele continua carregando traumas do bullying que sofreu quando se assumiu, enclausurando-se em uma concha de repugnância que valentões e homofóbicos o forçaram a entrar. O rapaz nem ao menos permite que os outros o tratem com indulgência, motivo pelo qual se desculpa por qualquer coisa que faz, sem sequer pensar que pode ser a vítima de uma determinada situação.

O mais notável é como, fugindo das construções formulaicas de produções românticas do gênero, a história traz à tona um relacionamento saudável que, mesmo diante de obstáculos, sabe como dar a volta por cima e resolver situações de maneira responsável e amadurecida. Nick e Charlie escondem algumas coisas que, a princípio, não os afetam – mas que, gradativamente, se aglutinam em uma avalanche inescapável. Nick, por exemplo, sofre com a ausência do pai e o comportamento aversivo do irmão; Charlie, por sua vez, não sabe de que maneira lidar com o assédio sofrido por Ben (Sebastian Croft) ou com um distúrbio alimentar que simplesmente o deixa sem vontade de comer até sofrer com fraqueza extrema. Cada temática é tratada com respeito e, apesar de parecerem superficiais, funcionam como o pontapé inicial de conversas muito necessárias para os dias de hoje.

E não são apenas Locke e Connor que entregam atuações sólidas e memoráveis: Yasmin Finney retorna como Elle, mostrando o amadurecimento da personagem enquanto navega por uma jornada de autodescoberta sobre o que deseja para seu futuro e do que precisará abrir mão; William Gao, encarnando Tao, segue a mesma premissa e deve perceber que mudanças são inevitáveis – e cabe a ele decidir acompanhar essa evolução ou ficar para trás; Tobie Donovan encontra sua voz ao singrar pelos mares infinitos do espectro identitário, sentindo-se aflito por não pertencer a nenhum lugar e aguardando uma merecida epifania.

O tratamento estético é notável nos novos capítulos, principalmente quando falamos da paleta de cores. Apesar da já visto na iteração predecessora, os tons de amarelo abrem a continuação do enredo de forma incisiva, indicando que as tramas e subtramas mostrarão, como mencionado, um louvor bem-vindo pelo coming-of-age e pelo enfrentamento de tabus que não tinham força plena. Ademais, a composição cênica parte de princípios familiares, afastando-se da estética documental das sequências mais dramáticas e apostando em uma zona de conforto que pode não ser original, mas é funcional e prática para o tipo de narrativa que é-nos vendida.

Heartstopper volta com um segundo ano mais espetacular do que prevíamos, fincando-se a uma qualidade notável que, em vários momentos, supera o inegável peso audiovisual da temporada de estreia. Recheado de críticas construtivas e reflexões sobre o significado de uma existência que foge dos padrões cis-heteronormativos impostos pela sociedade, a série se consagra como uma das melhores da atualidade e um convite a conhecer a complexidade do ser humano como ele é.

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