sábado , 2 novembro , 2024

Crítica | High Fidelity – A diferença entre cover e versão

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Existe uma universalidade na história deHigh Fidelity que não está ligada diretamente ao fato de términos de relacionamento serem, de fato, tópicos praticamente universais. A história, no livro, no cinema ou na TV, ressoa forte não necessariamente por isso, mas sim porque diz respeito a um denominador comum entre qualquer ciclo: todos eles têm início, meio e fim, o que muda é como chegamos até lá.

E é por entender que mudar a forma como chegamos até lá é o ingrediente chave deAlta Fidelidade que a versão para a TV se excede em muitas formas. Mudar o gênero da protagonista foi o primeiro passo, e neste posto Zoë Kravitz confirma por que é uma das melhores que temos na geração mais recente de Hollywood. A atriz não apenas domina Robyn Brooks como emplaca sarcasmo e acidez sem deixar que o charme fique para trás, e o viés feminino faz com que a perspectiva sobre os términos, sobre as obsessões de Rob e os motivos que levaram às decepções também se transformem. 

Cancelada cedo demais,High Fidelity, a série, chega ao Brasil pelo Starzplay e encarna em seus 10 episódios a diferença entre cover e versão. E, como uma boa versão, imprime suas próprias interpretações e distorções de ritmo, tempo e melodia ao que ficou eternizado nas prateleiras dos clássicos. É possível reconhecer algumas passagens eternizadas no filme, alguns momentos icônicos e a energia trocada pelos protagonistas, mas a forma como a série opta por transitar entre eles transforma Rob em uma personagem muito mais humana e próxima ao espectador do que sua contraparte no longa. Seus erros e suas omissões jamais são justificadas, mas utilizadas para mostrar a forma como ela afeta a si mesma e parece nunca notar. 

Idealizada por Sarah Kucserka e Veronica West,High Fidelityaproveita o tempo extra que tem à disposição para jogar uma nova luz sobre os personagens coadjuvantes, e o trio da loja de discos — completado por Cherise (Da’Vine Joy Randolph) e Simon (David H. Holmes) — torna risível qualquer ideia de sentir falta de Jack Black no icônico Barry Judd, por exemplo. Da’Vine praticamente ofusca seus colegas com o carisma e o brilho que traz à cena, e se durante boa parte dos episódios fica a impressão de que ela será apenas um alívio cômico, a série mostra aos poucos que os planos que tinha para ela, a longo prazo, eram ambiciosos e potentes. Uma pena que foram apenas arranhados na superfície.

Por tudo isso, é louvável o fato de a série atualizar o livro escrito há mais de duas décadas por Nick Hornby equilibrando com tanta sabedoria os pontos que fazem dele tão pungente com as devidas transformações exigidas pelo olhar feminino, as evoluções tecnológicas e a simples mas necessária exigência de trazer um ângulo novo para uma história tão velha. Quando Kucserka e West escrevem Robyn, dão a ela uma densidade emocional que John Cusack jamais poderia ter alcançado no filme. Não por mérito ou demérito de qualquer parte, mas porque ele está sob um ponto de vista de um homem que se enxerga como um adolescente tardio e se porta como tal. É a história como ela é, o personagem que precisava existir. Aqui, Kravitz tem uma tal liberdade na forma como se coloca no mundo que pouco lembra aquele Rob, a não ser quando a sua presunção musical entra em cena — justificável, diga-se de passagem.

Desta forma, a Rob da série não apenas é certeira no equilíbrio entre o charme e o ar oblíquo, como justamente por isso explora a fundo o potencial dramático e cômico de Zoë Kravitz, sempre veloz nos textos e firme ao rebater um argumento. Assim como a série não é um cover do filme, ela não é um remix do protagonista. É uma versão deluxe.

Ao longo dos seus 10 episódios, High Fidelity’ é capaz de encontrar um coração pulsante dentro da história que se dispôs a contar, que se conecta com os novos tempos (e, possivelmente, com um novo público) ciente da diferença entre reverência e cópia. Ela sabe que términos são um saco, mas também sabe que há formas saudáveis de lidar com a dor, embora segui-las não renda necessariamente as melhores histórias.

Todos os episódios estão disponíveis no Starzplay. 

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Laysa Zanettihttps://cinepop.com.br
Repórter, Crítica de Cinema e TV formada em Twin Peaks, Fringe, The Leftovers e The Americans. Já vi Laranja Mecânica mais vezes que você e defendo o final de Lost.

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E é por entender que mudar a forma como chegamos até lá é o ingrediente chave deAlta Fidelidade que a versão para a TV se excede em muitas formas. Mudar o gênero da protagonista foi o primeiro passo, e neste posto Zoë Kravitz confirma por que é uma das melhores que temos na geração mais recente de Hollywood. A atriz não apenas domina Robyn Brooks como emplaca sarcasmo e acidez sem deixar que o charme fique para trás, e o viés feminino faz com que a perspectiva sobre os términos, sobre as obsessões de Rob e os motivos que levaram às decepções também se transformem. 

Cancelada cedo demais,High Fidelity, a série, chega ao Brasil pelo Starzplay e encarna em seus 10 episódios a diferença entre cover e versão. E, como uma boa versão, imprime suas próprias interpretações e distorções de ritmo, tempo e melodia ao que ficou eternizado nas prateleiras dos clássicos. É possível reconhecer algumas passagens eternizadas no filme, alguns momentos icônicos e a energia trocada pelos protagonistas, mas a forma como a série opta por transitar entre eles transforma Rob em uma personagem muito mais humana e próxima ao espectador do que sua contraparte no longa. Seus erros e suas omissões jamais são justificadas, mas utilizadas para mostrar a forma como ela afeta a si mesma e parece nunca notar. 

Idealizada por Sarah Kucserka e Veronica West,High Fidelityaproveita o tempo extra que tem à disposição para jogar uma nova luz sobre os personagens coadjuvantes, e o trio da loja de discos — completado por Cherise (Da’Vine Joy Randolph) e Simon (David H. Holmes) — torna risível qualquer ideia de sentir falta de Jack Black no icônico Barry Judd, por exemplo. Da’Vine praticamente ofusca seus colegas com o carisma e o brilho que traz à cena, e se durante boa parte dos episódios fica a impressão de que ela será apenas um alívio cômico, a série mostra aos poucos que os planos que tinha para ela, a longo prazo, eram ambiciosos e potentes. Uma pena que foram apenas arranhados na superfície.

Por tudo isso, é louvável o fato de a série atualizar o livro escrito há mais de duas décadas por Nick Hornby equilibrando com tanta sabedoria os pontos que fazem dele tão pungente com as devidas transformações exigidas pelo olhar feminino, as evoluções tecnológicas e a simples mas necessária exigência de trazer um ângulo novo para uma história tão velha. Quando Kucserka e West escrevem Robyn, dão a ela uma densidade emocional que John Cusack jamais poderia ter alcançado no filme. Não por mérito ou demérito de qualquer parte, mas porque ele está sob um ponto de vista de um homem que se enxerga como um adolescente tardio e se porta como tal. É a história como ela é, o personagem que precisava existir. Aqui, Kravitz tem uma tal liberdade na forma como se coloca no mundo que pouco lembra aquele Rob, a não ser quando a sua presunção musical entra em cena — justificável, diga-se de passagem.

Desta forma, a Rob da série não apenas é certeira no equilíbrio entre o charme e o ar oblíquo, como justamente por isso explora a fundo o potencial dramático e cômico de Zoë Kravitz, sempre veloz nos textos e firme ao rebater um argumento. Assim como a série não é um cover do filme, ela não é um remix do protagonista. É uma versão deluxe.

Ao longo dos seus 10 episódios, High Fidelity’ é capaz de encontrar um coração pulsante dentro da história que se dispôs a contar, que se conecta com os novos tempos (e, possivelmente, com um novo público) ciente da diferença entre reverência e cópia. Ela sabe que términos são um saco, mas também sabe que há formas saudáveis de lidar com a dor, embora segui-las não renda necessariamente as melhores histórias.

Todos os episódios estão disponíveis no Starzplay. 

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Repórter, Crítica de Cinema e TV formada em Twin Peaks, Fringe, The Leftovers e The Americans. Já vi Laranja Mecânica mais vezes que você e defendo o final de Lost.

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