Como uma coletânea de contos, o ousado projeto ‘Histórias Estranhas’ entra em circuito nacional espremido entre superproduções hollywoodianas, e justamente por isso merece um espaço e a atenção do espectador. Em 75 minutos de filme, nos é apresentado dez curtas de terror, cada um realizado e produzido por uma equipe específica e reunidas em ordem de ritmo crescente pelo idealizador do projeto, Ricardo Ghiorzi.
Os curtas são: ‘Ninguém’, de Rodrigo Brandão; ‘A Mão’, de Kapel Furman; ‘Mulher Ltda.’, de Taísa Ennes; ‘No Trovão, Na Chuva ou Na Tempestade’, de Paulo Biscaia Filho; ‘Os Enamorados’, de Claudio Ellovitch; ‘Invisível’, de Filipe Ferreira; ‘Sete Minutos para a Meia-Noite’, de Ricardo Ghiorzi; e ‘Apóstolos’, de Marcos DeBrito. Cada curta tem cerca de dez minutos de duração e contém uma história completa, que não se interliga com a próxima.
Com isso em mente, é preciso ir ver a este ‘Histórias Estranhas’ com o coração aberto, porque fica claro que nem todas as equipes tinham o mesmo orçamento e/ou experiência, então, às vezes o som das falas fica baixo (como em ‘Sete Minutos para a Meia-Noite‘), em oposição à megaprodução de ‘Apóstolos’, cuja edição ajuda a dar os efeitos de arrancar cabeças e contém um elenco mais conhecido, com Marcelo Argenta e Luiz Machanoscki (fazendo ele mesmo, Jesus).
Os destaques ficam para ‘Mulher Ltda.’, que faz uma crítica às expectativas jogadas em cima das mulheres, que devem ser perfeitas sempre e servir aos homens, e para ‘Invisível’, que faz uma releitura da história do ‘Homem Invisível’, mas conferindo sensibilidade ao personagem, dando um viés à possibilidade do personagem ter tido uma vida comum, como todo ser humano. O curta ‘Ninguém’ tem uma proposta interessante, sem diálogos, e abre o projeto dessas ‘Histórias Estranhas’. É uma boa sacada, afinal, sem diálogos, o filme não é falado em nenhuma língua, e, consequentemente, pode se inscrever em festivais do mundo inteiro. O já mencionado ‘Apóstolos’ traz a Santa Ceia e os apóstolos de Cristo repaginados, com cenas de nudez, muita sensualidade e efeitos especiais.
Com cenas de terror gore, suspense, terror trash e alguns tons políticos, a proposta desses ‘Histórias Estranhas’ é apresentar uma nova leva de potenciais diretores e diretoras de terror no Brasil, e o resultado são pequenas amostras que facilmente poderiam ser estendidas para versões mais longas, até porque algumas dessas histórias ficaram sem explicação. Com maquiagens convincentes e edições potentes para favorecer o clima de tensão, a coletânea entretém e diverte, e demonstra ser o produto certo para seu público alvo. Se você curte o estilo, não deixe de conferir ‘Histórias Estranhas’ nos cinemas (até porque, tendo público, é bem capaz de continuarmos a ter esse tipo de filme sendo exibido nos cinemas brasileiros com mais frequência).