Tradicionalmente, uma coletânea é um conjunto de histórias que possuem um elemento central que une a todas elas. Às vezes esse elemento é o gênero (uma coletânea de terror, de ficção científica, por exemplo), às vezes é o próprio autor (coletânea de histórias do Stephen King). Às vezes, simplesmente, pode ser o tema que conecta todas as narrativas, como aconteceu com o filme argentino ‘Relatos Selvagens’, cujo fio condutor era situações que giravam em torno da raiva – ou potencializadas por ela, ou iniciadas a partir dela. Mais ou menos na mesma linha estreou recentemente nos cinemas brasileiros o filme espanhol ‘Histórias Que é Melhor Não Contar’, conectado a partir de histórias que giram em torno de um grande segredo.
Ao longo de uma hora e quarenta de duração, somos apresentados a cinco contos distintos cujos personagens não se conectam, mas o ambiente em que estão, sim. Começamos com a jovem Laura (Anna Castillo), que, ao descobrir que seu vizinho Álex (Chino Darín) vai se mudar, sem querer o prende em seu apartamento quando seu marido Raúl (Javier Rey) chega em casa, e não quer que ele descubra. Em seguida, o recém-separado Carlos (Antonio de la Torre) visita os amigos Ana (María León) e Luis (Alex Brendemühl), vai a uma boate com eles e encontra a misteriosa Sandra (Eva Reyes), que talvez não seja o que parece; Em seguida, três amigas aguardam para fazer um teste de elenco, mas nenhuma confessa abertamente que estão dispostas a tudo pelo papel, enquanto ficam julgando as outras. Então, o casal (ele, mais velho; ela, mais nova) se encontram para almoçar com planos completamente distintos: ele quer chamá-la para morar com ele; ela, quer terminar. Por fim, Edu (Quim Gutiérrez) encontra uma foto de sua esposa e começa a especular sobre a viagem que ela fez a Paris.
São cinco histórias que giram em torno de um grande segredo, de menor ou maior escala, tal qual o título prenuncia: é melhor não falar a respeito delas. Escrito por Tomàs Aragay e Cesc Gay, o roteiro começa com um brilho interessante, mas, aos poucos, vai perdendo o fôlego. As três primeiras histórias se interligam no ambiente, pois uma termina no mesmo local em que a seguinte tem início. As duas últimas parecem desconectadas, como se tivessem sido escritas em separado ainda que mantenham a simpatia da questão do segredo – afinal, as experiências em torno de um segredo geralmente levam as pessoas a ter atitudes que extrapolam o senso comum em prol de proteger uma suposta verdade, uma dita imagem.
Cesc Gay reúne uma trupe de ótimos atores conhecidos do grande público para brincar com temas contemporâneos que não devem vir à luz. ‘Histórias Que é Melhor Não Contar’ é uma coletânea divertida que reflete muito das inquietações das sociedades ocidentais modernas, que se engessam por tabus criadas por elas mesmas. Um filme simpático e leve para o fim de ano, trazendo uma alternativa para quem busca o refúgio do cinema sem efeitos especiais ou grandes orçamentos, mas sim o princípio básico de todo filme: boas histórias e atuações convincentes.