segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Crítica | Homecoming: Documentário de Beyoncé celebra a cultura e a história afro americana

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A essa altura do ano, em 2018, algo extraordinário acontecia em uma noite quente do deserto de Coachella. Depois de uma longa gravidez inesperada, o nascimento de gêmeos e a perda de cerca de 30 quilos, Beyoncé subia novamente aos palcos do festival homônimo, para se consagrar como a primeira artista negra a ser a atração principal do evento, em seus 19 anos de existência (até então). Transformando o seu show em um universo espetaculoso que remete aos tempos das fraternidades universitárias negras, Homecoming foi uma representação artística que, à medida que trazia o reencontro escolar como seu fundamento, também fazia um manifesto sobre o valor sociocultural das faculdades para as comunidades afros, em meio à fanfarras, que orquestraram os principais hits da cantora. Um ano depois, a artista nos leva de volta a essa epifania, com o documentário Homecoming, dirigido e roteirizado por ela mesma.



Fruto de uma parceria de US$ 60 milhões feita com a Netflix (e que vai render em outros projetos), o documentário explora a riqueza de materiais fonte compilados ao longo de todo o processo de criação da performance, até o seu grandioso dia. Com vídeos que parecem ter sido feitos com uma câmera Super 8, a produção nos leva para dentro dos ensaios da Beyoncé com seus dançarinos, à medida que nos permite – gradativamente – adentrar à sua vida. Se esquivando de fazer o mesmo trabalho biográfico de Beyoncé: Life is But a Dream, o longa percorre os anos mais recentes da cantora, passando por sua segunda gravidez, que resultou em uma série de complicações em sua saúde. Mostrando, com leveza, a fragilidade de ser uma mulher no auge dos seus 36 anos, com três filhos e um corpo em constante transformação, vemos a artista despida de todo o seu glamour de diva, se aproximando da audiência feminina como nunca, como uma mulher comum que também está lidando com as mesmas pressões sociais.

E dentro desse contexto, a ideia do concerto Homecoming vai ganhando forma, se revelando como um show que de fato vai além do entretenimento. Com uma super produção que vai dos paetês dos figurinos ao equipamento de suspensão da cantora, o espetáculo fala sobre o poder da negritude, dentro e fora do campus, e se apresenta como uma celebração de ex-alunos, festejando a liberdade artística de dançarinos e músicos que exploram sua arte da forma mais autêntica possível. Se reconhecendo como alguém que possui uma responsabilidade social, Beyoncé faz do show a oportunidade de valorizar talentos desconhecidos, exalando representatividade a plenos pulmões.

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E o documentário se encarrega justamente de nos levar aos bastidores dessa conceitualização social. Levando para o palco mulheres negras de todas as formas, o resultado final é apenas a ponta de um gigante iceberg, fundamentado no desejo de reverter os padrões impostos a essas mulheres, que comumente cresceram sendo subjugadas e negligenciadas pela sociedade. Não se trata de mimimi, mas sim de um fato consumado nas principais cidades ao redor do mundo. E Homecoming consegue condensar esse sonho visual de maneira documental, levando a audiência a refletir sobre o que esse retorno realmente significa não apenas para a artista, mas também para todos os demais profissionais envolvidos nessa missão e para aqueles que, presentes ou não no Coachella, sentiram que suas cores, raízes e identidades foram – de algum jeito – honradas em público por uma das mulheres mais poderosas da indústria fonográfica.

Bem dirigido e socialmente consciente, a produção é pontual e aqui história e música se mesclam em uma grande performance, tornando aquilo que não fora visto atrás das cortinas como sendo ainda mais precioso que o espetáculo final. Sensível e profundo, o documentário valoriza algumas das figuras acadêmicas negras que ajudaram a fundamentar as universidades entre a população afrodescendente – normalmente negligenciadas pelas faculdades e muitas vezes até mesmo à deriva, em comunidades mais periféricas. Honrando também a memória de seu pai como um homem que construiu sua história com a ajuda da experiência completa proporcionada pela faculdade, Beyoncé faz de Homecoming muito mais que um relato de um show POP, mas um atestado de que a artista possui outra carta na manga: a de uma genuína documentarista.

 

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Crítica | Homecoming: Documentário de Beyoncé celebra a cultura e a história afro americana

A essa altura do ano, em 2018, algo extraordinário acontecia em uma noite quente do deserto de Coachella. Depois de uma longa gravidez inesperada, o nascimento de gêmeos e a perda de cerca de 30 quilos, Beyoncé subia novamente aos palcos do festival homônimo, para se consagrar como a primeira artista negra a ser a atração principal do evento, em seus 19 anos de existência (até então). Transformando o seu show em um universo espetaculoso que remete aos tempos das fraternidades universitárias negras, Homecoming foi uma representação artística que, à medida que trazia o reencontro escolar como seu fundamento, também fazia um manifesto sobre o valor sociocultural das faculdades para as comunidades afros, em meio à fanfarras, que orquestraram os principais hits da cantora. Um ano depois, a artista nos leva de volta a essa epifania, com o documentário Homecoming, dirigido e roteirizado por ela mesma.

Fruto de uma parceria de US$ 60 milhões feita com a Netflix (e que vai render em outros projetos), o documentário explora a riqueza de materiais fonte compilados ao longo de todo o processo de criação da performance, até o seu grandioso dia. Com vídeos que parecem ter sido feitos com uma câmera Super 8, a produção nos leva para dentro dos ensaios da Beyoncé com seus dançarinos, à medida que nos permite – gradativamente – adentrar à sua vida. Se esquivando de fazer o mesmo trabalho biográfico de Beyoncé: Life is But a Dream, o longa percorre os anos mais recentes da cantora, passando por sua segunda gravidez, que resultou em uma série de complicações em sua saúde. Mostrando, com leveza, a fragilidade de ser uma mulher no auge dos seus 36 anos, com três filhos e um corpo em constante transformação, vemos a artista despida de todo o seu glamour de diva, se aproximando da audiência feminina como nunca, como uma mulher comum que também está lidando com as mesmas pressões sociais.

E dentro desse contexto, a ideia do concerto Homecoming vai ganhando forma, se revelando como um show que de fato vai além do entretenimento. Com uma super produção que vai dos paetês dos figurinos ao equipamento de suspensão da cantora, o espetáculo fala sobre o poder da negritude, dentro e fora do campus, e se apresenta como uma celebração de ex-alunos, festejando a liberdade artística de dançarinos e músicos que exploram sua arte da forma mais autêntica possível. Se reconhecendo como alguém que possui uma responsabilidade social, Beyoncé faz do show a oportunidade de valorizar talentos desconhecidos, exalando representatividade a plenos pulmões.

E o documentário se encarrega justamente de nos levar aos bastidores dessa conceitualização social. Levando para o palco mulheres negras de todas as formas, o resultado final é apenas a ponta de um gigante iceberg, fundamentado no desejo de reverter os padrões impostos a essas mulheres, que comumente cresceram sendo subjugadas e negligenciadas pela sociedade. Não se trata de mimimi, mas sim de um fato consumado nas principais cidades ao redor do mundo. E Homecoming consegue condensar esse sonho visual de maneira documental, levando a audiência a refletir sobre o que esse retorno realmente significa não apenas para a artista, mas também para todos os demais profissionais envolvidos nessa missão e para aqueles que, presentes ou não no Coachella, sentiram que suas cores, raízes e identidades foram – de algum jeito – honradas em público por uma das mulheres mais poderosas da indústria fonográfica.

Bem dirigido e socialmente consciente, a produção é pontual e aqui história e música se mesclam em uma grande performance, tornando aquilo que não fora visto atrás das cortinas como sendo ainda mais precioso que o espetáculo final. Sensível e profundo, o documentário valoriza algumas das figuras acadêmicas negras que ajudaram a fundamentar as universidades entre a população afrodescendente – normalmente negligenciadas pelas faculdades e muitas vezes até mesmo à deriva, em comunidades mais periféricas. Honrando também a memória de seu pai como um homem que construiu sua história com a ajuda da experiência completa proporcionada pela faculdade, Beyoncé faz de Homecoming muito mais que um relato de um show POP, mas um atestado de que a artista possui outra carta na manga: a de uma genuína documentarista.

 

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