Crítica | Homens, Mulheres e Filhos

Novo trabalho do talentoso Jason Reitman tem sabor de filme educativo

Até o momento, o cineasta Jason Reitman continua como um dos talentos mais interessantes saídos do cinema americano na última década.  Talvez seja cedo, no entanto, para saber se o diretor realmente deixará sua marca no mundo da sétima arte com um exímio legado. Até mesmo os grandes, como Spielberg, Scorsese, Hitchcock e Woody Allen possuem suas escorregadas na carreira, o que não diminui o pensamento geral sobre eles. Como Reitman irá se posicionar só o tempo dirá.

O cineasta descendente de indiano M. Night Shyamalan igualmente chegou ao mundo da sétima arte causando estrondo. Seus quatro primeiros trabalhos ainda são cultuados, porém, atualmente o diretor é considerado por muitos um charlatão. Tá certo que mesmo as últimas derrapadas de Reitman não são nem de perto coisas do nível de Fim dos Tempos (2008) ou A Dama na Água (2006). No entanto, é inegável que Reitman vem perdendo, de certa forma, a mão para histórias humanas e de forte teor irônico e amargo.

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Depois de uma ótima largada, com filmes como Obrigado por Fumar (2005), Juno (2007), Amor Sem Escalas (2009) – esses dois últimos com o aval do Oscar – e ouso colocar Jovens Adultos (2011), o diretor parece sem o mesmo gás. Em 2013, lançou o açucarado Refém da Paixão (que estreou este ano no Brasil). Com todo jeito de uma produção baseada em Nicholas Sparks, até mesmo o próprio Reitman andou se desculpando pelo filme, sem necessidade, diga-se. A “culpa” pode estar em suas escolhas de material.



Passando do açucarado para o fragmentado, Reitman escolhe como seu novo projeto este Homens, Mulheres e Filhos. Trata-se de diversas micro-histórias formando a narrativa da obra, todas apresentando a temática “mazelas trazidas por um mundo informatizado e virtual”. Em um aspecto o diretor continua no topo, ainda consegue trazer nomes de respeito, ou simplesmente grandes, para seu currículo. Aqui, o maior deles é o de Adam Sandler, precisando dar mais uma guinada em sua carreira depois de uma deplorável temporada entregando alguns dos piores filmes dos últimos anos.

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Mais uma vez o comediante se sai bem num papel sério (é só checar sua ficha em filmes como Embriagado de Amor, Reine Sobre Mim e Espanglês), fazendo uso de uma atuação contida e minimalista. Na realidade, Sandler é um dos melhores em cena. De barba para compor Don Truby, o ator interpreta um homem cujo casamento está por um fio. Na grande terra das coincidências, ele e sua esposa (vivida por Rosemarie DeWitt) buscam relações extraconjugais através da internet.

Todo narrado por Emma Thompson, temos ainda as subtramas envolvendo uma mãe extremamente controladora e assustada (Jennifer Garner), um jovem casal recém-formado (Ansel Elgort e Kaitlyn Dever – um dos pontos mais interessantes do filme) e uma mãe que perde o controle na divulgação da carreira de modelo da filha (Judy Greer, em outra boa subtrama). Apesar de manter o interesse no percurso, nada é verdadeiramente memorável e a promessa é de esquecermos a obra logo depois. Tudo é aparentemente reciclado e poderíamos fazer comparações com outros filmes de mesmo foco, se subtrairmos o elemento “internet”. Se quiser uma produção muito mais urgente sobre tal tema, opte pelo subestimado Confiar (2011), com Clive Owen.

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Pablo R. Bazarello
Crítico, cinéfilo dos anos 80, membro da ACCRJ, natural do Rio de Janeiro. Apaixonado por cinema e tudo relacionado aos anos 80 e 90. Cinema é a maior diversão. A arte é o que faz a vida valer a pena. 15 anos na estrada do CinePOP e contando...
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