sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | Honey Boy: Shia LaBeouf reconta sua abusiva infância em cinebiografia emocionante

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A história é antiga. Hollywood possui um hall especial dedicado para astros infantis e adolescentes que se perderam ao longo dos anos. Narrativas reais cujas infâncias foram abruptamente interrompidas por sucessos astronômicos e contas bancárias estupidamente recheadas. Sem limites e sem restrições, muitos deles tiveram a parte mais fundamental da vida abreviada/ignorada. Shia LaBeouf faz parte desse infame grupo, que ainda contou com colegas de emissora como Demi Lovato e Lindsay Lohan. Crescer não é fácil, fazê-lo diante das câmeras é pior ainda. Em Honey Boy, o jovem – que atingiu o estrelato global por meio da franquia de Transformers – decide abrir a caixa de Pandora que seus últimos anos foram. Talvez jovem demais para ter sua própria cinebiografia, seu mais novo filme, dirigido por Alma Har’el, não serve como uma espécie de in memorian, mas sim uma catarse pessoal de quem sofreu uma infância e adolescência de abusos emocionais, psicológicos, físicos, além de alienação parental. Se criando entre um pai cheio de traumas e uma indústria convidativa – devido ao seu sucesso precoce -, LaBeouf tem sim mais para contar do que seus 30 poucos anos podem sugerir. E sua história é realmente boa.



Honey Boy traça o passado do ator, que explodiu na televisão com a sitcom familiar da Disney, Even Stevens. Carismático e com uma inocência nos olhos, ele rapidamente conquistou seu espaço na indústria do entretenimento, chegando a ser o ator mais bem pago de Hollywood, no auge de Transformers. Cheio de tiques e com um raciocínio impressionante, seus papéis sempre foram carregados de astúcia e humor, esta última que se revela em sua linguagem corporal e fala natural. E a cinebiografia capta todos esses aspectos inerentes de LaBeouf, com simplicidade e sutileza. Criado à duras penas, ele sofreu calado os tapas e socos recebidos de seu pai, um frustrado palhaço de rodeio.

E sua biografia não está na esfera de Vida e Obra. Aqui, ele busca exercer seu tratamento psicológico aprendido na clínica de reabilitação, externando um passado que, até pouco tempo, era doloroso demais para ser posto no papel. Neste roteiro, LaBeouf centraliza sua narrativa na sua relação familiar, fazendo com que todo o âmago da sua carreira na atuação fique em segundo plano. Trazendo uma sensibilidade gigantesca de quem sobreviveu aos abusos de seu pai e – eventualmente – da própria indústria, ele faz de Honey Boy um filme cativante e identificável, oriundo de uma nova fase emocionalmente mais madura do ator. Passados os traumas que se materializaram em comportamentos compulsivos e situações públicas das mais estranhas (se lembra dos vídeos Just Do It e da aparição com o saco de pão na cabeça?), ele aparenta estar melhor, ou pelo menos mais equilibrado.

Honey Boy, apelido dado por seu próprio pai, mostra a terrível sensação de abandono que nenhuma criança jamais deveria sofrer. Por meio da simbólica atuação de Noah Jupe (Um Lugar Silencioso), revisitamos a infância do ator, que também sofria por amar demais alguém que só lhe fez sofrer. Como também uma espécie de redenção familiar, o drama biográfico é a peça que parecia faltar para o processo de cura de LaBeouf. Trocando os nomes dos personagens, mas mantendo cada um de seus aspectos o mais verídico possível, a produção é autêntica, franca e mais do que nunca merece o nosso respeito e admiração.

Em uma trama não linear, passado e presente se colidem de maneira sincronizada, mantendo a audiência intrigada pela tal dinâmica familiar que pauta todo o cerne da produção. Os anos mais recentes são vividos por Lucas Hedges, um dos rostos mais marcantes dessa nova era de atores do cenário independente. Reproduzindo os maneirismos de Shia, seus tiques, linguagem corporal e fala, sua caracterização é impressionante. Extraindo a dor que o ator sofreu, ele é fiel ao papel e honra o também colega de elenco, que aqui deu vida ao seu próprio pai.

E em se tratando desse aspecto, Honey Boy se consolida como uma experiência cinematográfica ainda mais envolvente. Com LaBeouf interpretando seu próprio pai, ele encarna os aspectos que mais o fizeram sofrer na vida real, entregando uma atuação profunda e realista, que não possui qualquer viés vingativo, mas sim de redenção. De maneira corajosa, ele revive com intensidade seus abusos pela perspectiva do abusador, experiência que só ele mesmo é capaz de dimensionar. Sob as lentes de Har’el , sua interpretação nos emociona, em monólogos sobre a dor de ser quem seu pai foi, nos levando a enxergar o próprio Shia de maneira diferente. Pela primeira vez, todos nós o entendemos verdadeiramente, sem qualquer anúncio furtivo de veículos sensacionalistas.

Com diálogos bem construídos e pequenas sacadinhas de humor que quebram a tensão no momento certo, Honey Boy superou as expectativas do Festival de Sundance 2019, que salivava angustiada pela estreia da cinebiografia. Doce e delicado, ele é a surpresa adorável que tantos esperávamos receber de Shia LaBeouf. E não se assuste se você também chorar ao final dessa grande experiência metalinguística.

 

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Honey Boy traça o passado do ator, que explodiu na televisão com a sitcom familiar da Disney, Even Stevens. Carismático e com uma inocência nos olhos, ele rapidamente conquistou seu espaço na indústria do entretenimento, chegando a ser o ator mais bem pago de Hollywood, no auge de Transformers. Cheio de tiques e com um raciocínio impressionante, seus papéis sempre foram carregados de astúcia e humor, esta última que se revela em sua linguagem corporal e fala natural. E a cinebiografia capta todos esses aspectos inerentes de LaBeouf, com simplicidade e sutileza. Criado à duras penas, ele sofreu calado os tapas e socos recebidos de seu pai, um frustrado palhaço de rodeio.

E sua biografia não está na esfera de Vida e Obra. Aqui, ele busca exercer seu tratamento psicológico aprendido na clínica de reabilitação, externando um passado que, até pouco tempo, era doloroso demais para ser posto no papel. Neste roteiro, LaBeouf centraliza sua narrativa na sua relação familiar, fazendo com que todo o âmago da sua carreira na atuação fique em segundo plano. Trazendo uma sensibilidade gigantesca de quem sobreviveu aos abusos de seu pai e – eventualmente – da própria indústria, ele faz de Honey Boy um filme cativante e identificável, oriundo de uma nova fase emocionalmente mais madura do ator. Passados os traumas que se materializaram em comportamentos compulsivos e situações públicas das mais estranhas (se lembra dos vídeos Just Do It e da aparição com o saco de pão na cabeça?), ele aparenta estar melhor, ou pelo menos mais equilibrado.

Honey Boy, apelido dado por seu próprio pai, mostra a terrível sensação de abandono que nenhuma criança jamais deveria sofrer. Por meio da simbólica atuação de Noah Jupe (Um Lugar Silencioso), revisitamos a infância do ator, que também sofria por amar demais alguém que só lhe fez sofrer. Como também uma espécie de redenção familiar, o drama biográfico é a peça que parecia faltar para o processo de cura de LaBeouf. Trocando os nomes dos personagens, mas mantendo cada um de seus aspectos o mais verídico possível, a produção é autêntica, franca e mais do que nunca merece o nosso respeito e admiração.

Em uma trama não linear, passado e presente se colidem de maneira sincronizada, mantendo a audiência intrigada pela tal dinâmica familiar que pauta todo o cerne da produção. Os anos mais recentes são vividos por Lucas Hedges, um dos rostos mais marcantes dessa nova era de atores do cenário independente. Reproduzindo os maneirismos de Shia, seus tiques, linguagem corporal e fala, sua caracterização é impressionante. Extraindo a dor que o ator sofreu, ele é fiel ao papel e honra o também colega de elenco, que aqui deu vida ao seu próprio pai.

E em se tratando desse aspecto, Honey Boy se consolida como uma experiência cinematográfica ainda mais envolvente. Com LaBeouf interpretando seu próprio pai, ele encarna os aspectos que mais o fizeram sofrer na vida real, entregando uma atuação profunda e realista, que não possui qualquer viés vingativo, mas sim de redenção. De maneira corajosa, ele revive com intensidade seus abusos pela perspectiva do abusador, experiência que só ele mesmo é capaz de dimensionar. Sob as lentes de Har’el , sua interpretação nos emociona, em monólogos sobre a dor de ser quem seu pai foi, nos levando a enxergar o próprio Shia de maneira diferente. Pela primeira vez, todos nós o entendemos verdadeiramente, sem qualquer anúncio furtivo de veículos sensacionalistas.

Com diálogos bem construídos e pequenas sacadinhas de humor que quebram a tensão no momento certo, Honey Boy superou as expectativas do Festival de Sundance 2019, que salivava angustiada pela estreia da cinebiografia. Doce e delicado, ele é a surpresa adorável que tantos esperávamos receber de Shia LaBeouf. E não se assuste se você também chorar ao final dessa grande experiência metalinguística.

 

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