domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | House of Cards – Temporada final: O fim memorável da 1ª série original da Netflix

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Frank Underwood se tornou uma das figuras mais explosivas da televisão. Imprevisível e sorrateiro, seus passos sempre quebraram a quarta parede, em uma espécie de aula unapologetic sobre o poder em seus níveis mais altos. Voraz como um lobo e astuto com uma serpente, ele traçou sua rota ao posto político mais elevado, levando consigo as audiências mais hipnotizadas com seus movimentos escusos e dúbios. House of Cards sempre foi seu playground. Até que a pertinente saída de Kevin Spacey fez da também produtora executiva da série,Robin Wright, ascender como queríamos. E com ela no comando, a sexta e – inevitável – última temporada resgata os ossos enterrados no passado, à medida que alcança o auge do amado personagem Doug Stamper, pela espetacular atuação de Michael Kelly. Demorou, mas finalmente é o momento de eles roubarem a cena de vez.



Após um hiato e atraso de produção obrigatórios, House of Cards foi capaz de reagrupar as cartas caídas mediante os escândalos de pedofilia e abuso sexual envolvendo seu principal astro. Com um roteiro pronto forçado a ser arquivado (e que talvez jamais vejamos), a primeira série original da Netflix teve que se reinventar, reconstruir seu castelo e se desfazer dos cacos que as péssimas escolhas de um homem, que jamais tiveram a ver com a equipe e o restante do elenco, naturalmente respingaram em si. Em meio a esse turbilhão impossível de não ser comentado, a criação de Beau Willimon voltou com força, autenticidade e aquela assinatura de trambique político ultra realista que sempre amamos.

Caminhando como se os conflitos de bastidores tivessem sido friamente calculados, a série anuncia a morte de Frank com naturalidade, faz do seu nome os cochichos intermináveis dos bastidores da Casa Branca, conforme também é capaz de tornar a presença sempre tão imponente do personagem algo esquecível. Como prometido pela fala final de Claire Hale (não mais Underwood), era chegada sua vez. Com presença forte e tão implacável quanto a de seu esposo, a agora protagonista absoluta reina soberanamente e não apenas de maneira literal. Com expressividade, artimanhas e gingado para conduzir o jogo político, ela convence como a falsa donzela em perigo, usa as características mais exaustivas que vulgarizam a mulher como o suposto “sexo frágil” e faz jogos mentais com os coadjuvantes, conduzindo uma confusa e tumultuada partida de xadrez, da qual sabemos bem quem vai ganhar.

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E ao usar essa antiga mentira de sexo frágil – que vem sempre acompanhada dos atributos naturais da feminilidade – ela representa também um momento sócio político mundial importante. À medida que mulheres esbravejam seus direitos mais e mais nas ruas das grandes capitais em infindáveis marchas, ela ecoa essa vertente global atual, fazendo do emponderamento feminino sua arma de destaque como personagem. E sim, ela continua detestável. Mas é inegável a admiração que sua ambição promove no público. Por despertar tais sentimentos dúbios, coisa que raras vezes (ou nunca, como foi o meu caso) seu marido conseguiu provocar na audiência, ela assume mais um ponto de vantagem, nos levando a crer que toda essa inesperada narrativa acelerada acabou se tornando a tacada certeira da Netflix. Realmente, há males que vêm para o bem.

Dentro deste contexto onde nomes do passado da série ressuscitam e parecem mais vivos do que nunca, a sexta e última temporada de House of Cards coroa Michael Kelly com sua ascensão suprema. Mostrando gradativamente que o fim definitivo se aproxima, seu enigmático personagem é uma eclosão emocional de alguém que sofreu com vícios, complexos de inferioridade, abandono e apegos. Assombrado por sua própria fidelidade a Frank Underwood, Douglas Stamper deixa de ser o peão manipulado pelo vínculo quase paternal com o ex-presidente e se transforma no regente dessa orquestra, estando na ponta contrária à Claire. Tentando suprimir o trauma que aquela doentia relação gerou, ele é a cereja do bolo, finalmente quebra a quarta parede e se rende ao público e à série com exatidão – se preparando para mais uma indicação ao Emmy Award e, porque não, sua primeira vitória.

Nos surpreendendo com um final que, definitivamente, encerra todas as chances de um spin-off para Doug Stamper, House of Cards finaliza sua viciante jornada inspirada na política real com graça, honra e aquela voracidade de sempre. Como o marco inaugural da Netflix no gênero de séries de TV, ela já fica como aquela saudade boa, que muito mais que introduzir a gigante do streaming para o hall de indicadas das grandes premiações, nos levou para os corredores e cantos mais sombrios da Casa Branca. Com sua autenticidade e realismo reiterados pelos presidentes norte-americanos Bill Clinton e Barack Obama, a série se despede com o incômodo de que poderia seguir adiante, mas com a certeza de que o inesperado adeus é também a garantia de que aquele gostinho de quero mais será a melhor lembrança que se pode conquistar junto à audiência. Vida longa à essa memória.

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Frank Underwood se tornou uma das figuras mais explosivas da televisão. Imprevisível e sorrateiro, seus passos sempre quebraram a quarta parede, em uma espécie de aula unapologetic sobre o poder em seus níveis mais altos. Voraz como um lobo e astuto com uma serpente, ele traçou sua rota ao posto político mais elevado, levando consigo as audiências mais hipnotizadas com seus movimentos escusos e dúbios. House of Cards sempre foi seu playground. Até que a pertinente saída de Kevin Spacey fez da também produtora executiva da série,Robin Wright, ascender como queríamos. E com ela no comando, a sexta e – inevitável – última temporada resgata os ossos enterrados no passado, à medida que alcança o auge do amado personagem Doug Stamper, pela espetacular atuação de Michael Kelly. Demorou, mas finalmente é o momento de eles roubarem a cena de vez.

Após um hiato e atraso de produção obrigatórios, House of Cards foi capaz de reagrupar as cartas caídas mediante os escândalos de pedofilia e abuso sexual envolvendo seu principal astro. Com um roteiro pronto forçado a ser arquivado (e que talvez jamais vejamos), a primeira série original da Netflix teve que se reinventar, reconstruir seu castelo e se desfazer dos cacos que as péssimas escolhas de um homem, que jamais tiveram a ver com a equipe e o restante do elenco, naturalmente respingaram em si. Em meio a esse turbilhão impossível de não ser comentado, a criação de Beau Willimon voltou com força, autenticidade e aquela assinatura de trambique político ultra realista que sempre amamos.

Caminhando como se os conflitos de bastidores tivessem sido friamente calculados, a série anuncia a morte de Frank com naturalidade, faz do seu nome os cochichos intermináveis dos bastidores da Casa Branca, conforme também é capaz de tornar a presença sempre tão imponente do personagem algo esquecível. Como prometido pela fala final de Claire Hale (não mais Underwood), era chegada sua vez. Com presença forte e tão implacável quanto a de seu esposo, a agora protagonista absoluta reina soberanamente e não apenas de maneira literal. Com expressividade, artimanhas e gingado para conduzir o jogo político, ela convence como a falsa donzela em perigo, usa as características mais exaustivas que vulgarizam a mulher como o suposto “sexo frágil” e faz jogos mentais com os coadjuvantes, conduzindo uma confusa e tumultuada partida de xadrez, da qual sabemos bem quem vai ganhar.

E ao usar essa antiga mentira de sexo frágil – que vem sempre acompanhada dos atributos naturais da feminilidade – ela representa também um momento sócio político mundial importante. À medida que mulheres esbravejam seus direitos mais e mais nas ruas das grandes capitais em infindáveis marchas, ela ecoa essa vertente global atual, fazendo do emponderamento feminino sua arma de destaque como personagem. E sim, ela continua detestável. Mas é inegável a admiração que sua ambição promove no público. Por despertar tais sentimentos dúbios, coisa que raras vezes (ou nunca, como foi o meu caso) seu marido conseguiu provocar na audiência, ela assume mais um ponto de vantagem, nos levando a crer que toda essa inesperada narrativa acelerada acabou se tornando a tacada certeira da Netflix. Realmente, há males que vêm para o bem.

Dentro deste contexto onde nomes do passado da série ressuscitam e parecem mais vivos do que nunca, a sexta e última temporada de House of Cards coroa Michael Kelly com sua ascensão suprema. Mostrando gradativamente que o fim definitivo se aproxima, seu enigmático personagem é uma eclosão emocional de alguém que sofreu com vícios, complexos de inferioridade, abandono e apegos. Assombrado por sua própria fidelidade a Frank Underwood, Douglas Stamper deixa de ser o peão manipulado pelo vínculo quase paternal com o ex-presidente e se transforma no regente dessa orquestra, estando na ponta contrária à Claire. Tentando suprimir o trauma que aquela doentia relação gerou, ele é a cereja do bolo, finalmente quebra a quarta parede e se rende ao público e à série com exatidão – se preparando para mais uma indicação ao Emmy Award e, porque não, sua primeira vitória.

Nos surpreendendo com um final que, definitivamente, encerra todas as chances de um spin-off para Doug Stamper, House of Cards finaliza sua viciante jornada inspirada na política real com graça, honra e aquela voracidade de sempre. Como o marco inaugural da Netflix no gênero de séries de TV, ela já fica como aquela saudade boa, que muito mais que introduzir a gigante do streaming para o hall de indicadas das grandes premiações, nos levou para os corredores e cantos mais sombrios da Casa Branca. Com sua autenticidade e realismo reiterados pelos presidentes norte-americanos Bill Clinton e Barack Obama, a série se despede com o incômodo de que poderia seguir adiante, mas com a certeza de que o inesperado adeus é também a garantia de que aquele gostinho de quero mais será a melhor lembrança que se pode conquistar junto à audiência. Vida longa à essa memória.

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