terça-feira , 3 dezembro , 2024

Crítica | Ilha dos Cachorros – Wes Anderson declara seu amor ao stop-motion (e aos cachorros)

Uma Aventura Canina e Apocalíptica

Existem dois tipos de diretores no cinema: os que fazem questão de enfatizar seu estilo único impresso em uma obra e os que apenas desejam contar uma história da melhor forma possível. Ambos podem ser muito eficientes em suas aspirações e sobressair no ramo. Quando falamos em Wes Anderson, o primeiro tipo de cineasta citado se aplica.

O cinema de Wes Anderson é uma mistura entre Tim Burton e Woody Allen, onde cores berrantes em tons pastéis e uma estética artificial de faz de conta interagem com personagens estranhos – quase sempre donos de algum abalo em sua psique, seja a paranoia, neurose ou qualquer outro diagnóstico psicológico – porém, doces e ingênuos, em meio a uma trama com pitadas de surrealismo.



Ame ou odeie seus filmes, uma coisa é definitiva, o diretor imprimiu sua marca na sétima arte e escreveu seu nome no panteão dos grandes realizadores. Dono de enorme prestígio, suas produções não são para todos os gostos ou sucessos de bilheteria, mas cultuadas pelos verdadeiros cinéfilos, além de sempre marcarem presença em festivais de cinema pelo mundo e em época de prêmios. É exatamente este o caso com seu novo filme, Ilha dos Cachorros, cria do Festival de Berlim deste ano.

Todo criado através de uma primorosa animação em stop-motion – numa das mais competentes e satisfatórias investidas na técnica já colocadas em filme – com roteiro do próprio diretor, o longa é um deleite visual e narrativo. Anderson já havia desbravado o terreno em 2009, quando entregou o indicado ao Oscar O Fantástico Sr. Raposo (caminho que esta nova obra igualmente deverá percorrer junto a Academia).

A trama mistura elementos de ficção científica e fantasia ao reescrever a mítica por trás da história de cães e gatos no planeta. Passado no Japão, Ilha dos Cachorros conta sobre uma realidade alternativa na qual todo e qualquer cachorro deve ser banido das cidades para uma ilha isolada, numa espécie de lixão que se torna a quarentena dos animais – todos infectados por uma gripe extremamente contagiosa. Existe política por trás da decisão e esta se mostrará nefasta aos pobres melhores amigos do homem. Anderson brinca com as atrocidades cometidas em conspirações governamentais e dá suas alfinetadas no totalitarismo e na ditadura.

Enquanto manifestantes e opositores do governo lutam para reverter a decisão e trazer os queridos animais de estimação de volta ao continente, somos levados a uma incrível jornada na ilha em companhia de cinco protagonistas caninos pra lá de carismáticos: o turrão Chief (Bryan Cranston), o autointitulado líder Rex (Edward Norton), o antenado Duke (Jeff Goldblum), o bonachão Boss (Bill Murray) e o classudo King (Bob Balaban). Além dos dubladores dos cães, Anderson traz para o elenco sua panelinha costumeira, que é um verdadeiro timaço. Juntam-se aos citados, Scarlett Johansson, Tilda Swinton, Greta Gerwig, Harvey Keitel, Frances McDormand, F. Murray Abraham, Liev Schreiber e até mesmo Yoko Ono.

Logo de começo na abertura somos avisados que todos os personagens humanos falam japonês no filme, o que se mostra uma boa sacada a fim de criar a barreira de compreensão com o que é dito pelos cachorros – em diálogos representados em inglês. Em determinado momento um dos protagonistas de quatro patas profere: “se ao menos pudéssemos entender o que ele fala”.

O novo trabalho de Anderson encontra o equilíbrio perfeito entre o doce e o amargo, entre o cômico e o dramático, e ousa inclusive convidar os não iniciados ou não entusiastas de sua filmografia. O longa é cinema adulto com questões atuais e urgentes a serem adereçadas (animais em jaulas isolados criam uma alegoria menos sombria que a realidade na era Trump), mas que não aliena as crianças que quiserem assimilar um belo conto recheado de bons sentimentos – que com os anos irá ganhar novas conotações para elas.

Ilha dos Cachorros é o que podemos chamar de obra-prima. O filme serve como caso de exemplo para todos aqueles que cismam em afirmar que não existe mais criatividade no cinema ou que Hollywood está com falta de ideias. A verdade é que provavelmente os donos de tais afirmações não estão olhando para o lugar certo. Não estão olhando para o cinema de Wes Anderson.

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O cinema de Wes Anderson é uma mistura entre Tim Burton e Woody Allen, onde cores berrantes em tons pastéis e uma estética artificial de faz de conta interagem com personagens estranhos – quase sempre donos de algum abalo em sua psique, seja a paranoia, neurose ou qualquer outro diagnóstico psicológico – porém, doces e ingênuos, em meio a uma trama com pitadas de surrealismo.

Ame ou odeie seus filmes, uma coisa é definitiva, o diretor imprimiu sua marca na sétima arte e escreveu seu nome no panteão dos grandes realizadores. Dono de enorme prestígio, suas produções não são para todos os gostos ou sucessos de bilheteria, mas cultuadas pelos verdadeiros cinéfilos, além de sempre marcarem presença em festivais de cinema pelo mundo e em época de prêmios. É exatamente este o caso com seu novo filme, Ilha dos Cachorros, cria do Festival de Berlim deste ano.

Todo criado através de uma primorosa animação em stop-motion – numa das mais competentes e satisfatórias investidas na técnica já colocadas em filme – com roteiro do próprio diretor, o longa é um deleite visual e narrativo. Anderson já havia desbravado o terreno em 2009, quando entregou o indicado ao Oscar O Fantástico Sr. Raposo (caminho que esta nova obra igualmente deverá percorrer junto a Academia).

A trama mistura elementos de ficção científica e fantasia ao reescrever a mítica por trás da história de cães e gatos no planeta. Passado no Japão, Ilha dos Cachorros conta sobre uma realidade alternativa na qual todo e qualquer cachorro deve ser banido das cidades para uma ilha isolada, numa espécie de lixão que se torna a quarentena dos animais – todos infectados por uma gripe extremamente contagiosa. Existe política por trás da decisão e esta se mostrará nefasta aos pobres melhores amigos do homem. Anderson brinca com as atrocidades cometidas em conspirações governamentais e dá suas alfinetadas no totalitarismo e na ditadura.

Enquanto manifestantes e opositores do governo lutam para reverter a decisão e trazer os queridos animais de estimação de volta ao continente, somos levados a uma incrível jornada na ilha em companhia de cinco protagonistas caninos pra lá de carismáticos: o turrão Chief (Bryan Cranston), o autointitulado líder Rex (Edward Norton), o antenado Duke (Jeff Goldblum), o bonachão Boss (Bill Murray) e o classudo King (Bob Balaban). Além dos dubladores dos cães, Anderson traz para o elenco sua panelinha costumeira, que é um verdadeiro timaço. Juntam-se aos citados, Scarlett Johansson, Tilda Swinton, Greta Gerwig, Harvey Keitel, Frances McDormand, F. Murray Abraham, Liev Schreiber e até mesmo Yoko Ono.

Logo de começo na abertura somos avisados que todos os personagens humanos falam japonês no filme, o que se mostra uma boa sacada a fim de criar a barreira de compreensão com o que é dito pelos cachorros – em diálogos representados em inglês. Em determinado momento um dos protagonistas de quatro patas profere: “se ao menos pudéssemos entender o que ele fala”.

O novo trabalho de Anderson encontra o equilíbrio perfeito entre o doce e o amargo, entre o cômico e o dramático, e ousa inclusive convidar os não iniciados ou não entusiastas de sua filmografia. O longa é cinema adulto com questões atuais e urgentes a serem adereçadas (animais em jaulas isolados criam uma alegoria menos sombria que a realidade na era Trump), mas que não aliena as crianças que quiserem assimilar um belo conto recheado de bons sentimentos – que com os anos irá ganhar novas conotações para elas.

Ilha dos Cachorros é o que podemos chamar de obra-prima. O filme serve como caso de exemplo para todos aqueles que cismam em afirmar que não existe mais criatividade no cinema ou que Hollywood está com falta de ideias. A verdade é que provavelmente os donos de tais afirmações não estão olhando para o lugar certo. Não estão olhando para o cinema de Wes Anderson.

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