A pandemia do corona vírus, entre os anos de 2019 e 2022, fez o mundo pensar e repensar como lidamos com infestações repentinas, que podem assolar as sociedades a qualquer momento. A forma como as civilizações tratam a natureza, por exemplo, tem proporcionado cada vez mais doenças novas assolando os territórios, o que, consequentemente, faz com que cientistas e médicos do mundo inteiro viva numa constante corrida contra o tempo em busca de cura, de vacina, de tratamentos para as novas mazelas que surgem. Partindo dessa visão que chegou aos cinemas brasileiros esta semana o filme francês ‘Infestação’, que teve sessões antecipadas na programação do Festival do Rio 2024.
Kaleb (Théo Christine, de ‘Gran Turismo: De Jogador a Corredor’) é um jovem que tenta fazer tudo certo, mesmo sendo a vida de um morador do subúrbio francês uma luta diária. Ele trabalha revendendo tênis importado e outros produtos, mas quando chega numa loja e descobre uma grande quantidade de animais exóticos à venda, ele fica maluco com uma enorme aranha, e acaba adquirindo-a e levando-a para casa, para juntá-la à sua coleção de animais. Entre desentendimentos com sua irmã, Lila (Sofia Lesaffre), festa de despedida no prédio e brigas com seu antigo melhor amigo, Jordy (Finnegan Oldfield), o dia vai passando de maneira corriqueira no prédio, até que a aranha que Kaleb comprara escapa. Tudo poderia ficar controlado, só que toda vez que se tenta matar a aranha, ela cresce e se multiplica rapidamente, de modo que, em poucos minutos, o prédio todo está tomado por enormes e perigosos aracnídeos, e agora o grupo de moradores precisa fazer de tudo para tentar sobreviver.
‘Infestação’ é um filme que começa com a mesma atmosfera dos filmes contemporâneos francesas que focam seu olhar nas periferias do país: em vez de protagonizado por jovens brancos, aqui o foco está em jovens pretos, descendentes de imigrantes, empobrecidos, que vivem de se virar para conseguir ter uma vida honesta. Até aí, nada de novo no rolê. A grande sacada do roteiro de Sébastien Vanicek e Florent Bernard é partir desse lugar comum para inserir o mote do cinema de gênero, colocando uma ameaça terrível que coloca a vida dos personagens constantemente em risco. Assim, o lugar comum fica só de pano de fundo, pois o interessante se torna a superação dos conflitos interpessoais em prol da sobrevivência do grupo diante de uma ameaça insuperável e que só piora.
Também diretor da produção, Sébastien Vanicek faz bom uso do orçamento limitado e grava todo o seu filme basicamente em uma locação: o prédio. O resto é produção de arte, atuação e efeitos de pós. Com o ambiente controlado, o diretor constrói ótimas cenas de terror que realmente fazem o espectador se contorcer na poltrona, seja por nojinho, seja por medo, seja por agonia. Para quem curte terror tipo os primeiros ‘Alien’, é um prato cheio.
Para coroar, ‘Infestação’ ainda traz uma ótima trilha sonora recheada de hip hop francês contemporâneo em contraposição com cenas de total silêncio que são de tirar o fôlego. Sem você perceber, o filme de terror vai fazendo a sua adrenalina subir de nervoso com as situações. Despretensioso e muito bem-feito, ‘Infestação’ abre a temporada de Halloween com uma proposta que dá medo, uma vez que tudo que vemos é totalmente possível de acontecer.