quinta-feira , 21 novembro , 2024

Critica | Infiltrado na Klan – Spike Lee retorna ao auge da forma, rumo ao Oscar

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Para entender a significância de Infiltrado na Klan, é necessário entender o quão importante e subversivo foi o cinema de seu diretor, Spike Lee. Um dos grandes ícones da contracultura ainda no final da década de 1980, o cineasta se tornou o mais emblemático representante do cinema social e racial dos EUA – ao ponto de ver sua fama ecoando ao mainstream. O cinema saído dos guetos ganhava status de superprodução, bancado por um grande estúdio como a Universal – parceira mais usual do artista.

Faça a Coisa Certa (1989), seu filme mais lembrado, permanece como marco reflexivo sobre temas ainda relevantes e atuais. No entanto, nos últimos anos, Lee foi muito acusado de perder sua voz e não ter mais tanto o que dizer – já que suas questões primordiais já haviam sido todas adereçadas, nos mais variados ângulos – e sua vida pessoal envolta em certas polêmicas ao tentar se reajustar aos novos tempos. Como consequência, os últimos trabalhos do cineasta foram relegados a lançamentos restritos ou direto em vídeo (como foi o caso no Brasil). Verão em Red Hook (2012), Da Sweet Blood of Jesus (2014) e Chi-Raq (2015) são produções que poucos ouviram falar.



Tudo isso muda de figura quando se trata de Infiltrado na Klan, o mais recente longa de Spike Lee – que já causava comoção antes do lançamento. Baseado no livro do próprio Ron Stallworth, o filme viveu para se tornar um sucesso de público e crítica nos EUA, despertando instantaneamente comentários de prêmios (os quais mantém e deve de fato concretizar).

A trama quase inacreditável – caso não soubéssemos se tratar de uma história real – apresenta o detetive Stallworth, vivido por John David Washington (filho do ator Denzel Washington na vida real), dividido entre suas obrigações profissionais junto a uma instituição – que assim como grande parte da mentalidade da época na década de 1970 – ainda muito racista. Remando contra a maré, assim como um Jackie Robinson com distintivo (paralelo enfatizado pelo roteiro), o protagonista supera todas as adversidades, agindo da forma certa, a fim de provar seu valor.

Na contracorrente, estão missões como se infiltrar na organização dos Panteras Negras – considerados ameaça ao governo americano pela incitação de violência, seguindo a linha da autodefesa mais extremista de Malcolm X. Na investigação, o protagonista conhece e desenvolve um relacionamento que vai além do trabalho com a presidente de uma organização de militância estudantil (papel de Laura Harrier – de Homem-Aranha: De Volta ao Lar – na atuação divisora de águas em sua carreira).

O assunto principal, no entanto, é o caso do policial numa das células da horrenda Ku Klux Klan, organização racista de extrema direita, que ainda possui seus adeptos atualmente. É neste desenvolvimento, que existe como cerne da obra, que Lee atinge e recobra sua maestria como contador de histórias. Sua narrativa se entrelaça facilmente com o cinema entretenimento, passeando de forma exímia (da forma que somente os grandes dominam) por gêneros como o suspense, o drama e a comédia. Sim, Lee sabe extrair o humor do desconforto como poucos, ao mesmo tempo em que enfia mais o dedo na ferida.

Assim como o próprio protagonista, Infiltrado na Klan existe em dois mundos. Ron, o personagem principal, jura lealdade à força policial do Colorado, mesmo que para isso aceite tarefas que vão contra o que acredita de forma pessoal, mas que estão dentro da lei. Ao mesmo tempo, segue promovendo o empoderamento negro de uma maneira justa, fazendo mais pela causa do que os que se julgam detentores únicos de tais direitos.

O elenco conta ainda com desempenhos inspirados de Adam Driver (o “avatar” de Ron), Topher Grace (o líder da Klan) e, em especial Jasper Paakkonen (o fanatismo ambulante Felix) e Ryan Eggold (o representante da célula). Além de uma participação de arrepiar a espinha do lendário Harry Belafonte – numa cena chave.

Clamando o melhor do cinema autoral-comercial de Hollywood (muito em baixa na era da reciclagem de ideias atual), Spike Lee demonstra tudo o que sabe em Infiltrado na Klan, entregando um conteúdo questionador em cenas para lá de provocativas, desconfortáveis e até mesmo perturbadoras. O novo trabalho do diretor te fará refletir de uma forma intensiva – assim como Faça a Coisa Certa fez há 30 anos. É incrível que tais temas tão distantes ainda precisem ser reforçados (agora mais do que nunca), questões que deveriam ter ficado para trás ao ponto da extinção.

Passado e presente se conectam de forma desconcertante, mas precisa. Não por menos, Infiltrado na Klan é um relato histórico que termina com uma mensagem para o hoje, para uma era na qual aterradores estereótipos se concretizam como realidade desavergonhada. O novo “bagulho” de Spike Lee é uma viagem necessária, que surge em nossa frente como espelho triste da atualidade.

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Faça a Coisa Certa (1989), seu filme mais lembrado, permanece como marco reflexivo sobre temas ainda relevantes e atuais. No entanto, nos últimos anos, Lee foi muito acusado de perder sua voz e não ter mais tanto o que dizer – já que suas questões primordiais já haviam sido todas adereçadas, nos mais variados ângulos – e sua vida pessoal envolta em certas polêmicas ao tentar se reajustar aos novos tempos. Como consequência, os últimos trabalhos do cineasta foram relegados a lançamentos restritos ou direto em vídeo (como foi o caso no Brasil). Verão em Red Hook (2012), Da Sweet Blood of Jesus (2014) e Chi-Raq (2015) são produções que poucos ouviram falar.

Tudo isso muda de figura quando se trata de Infiltrado na Klan, o mais recente longa de Spike Lee – que já causava comoção antes do lançamento. Baseado no livro do próprio Ron Stallworth, o filme viveu para se tornar um sucesso de público e crítica nos EUA, despertando instantaneamente comentários de prêmios (os quais mantém e deve de fato concretizar).

A trama quase inacreditável – caso não soubéssemos se tratar de uma história real – apresenta o detetive Stallworth, vivido por John David Washington (filho do ator Denzel Washington na vida real), dividido entre suas obrigações profissionais junto a uma instituição – que assim como grande parte da mentalidade da época na década de 1970 – ainda muito racista. Remando contra a maré, assim como um Jackie Robinson com distintivo (paralelo enfatizado pelo roteiro), o protagonista supera todas as adversidades, agindo da forma certa, a fim de provar seu valor.

Na contracorrente, estão missões como se infiltrar na organização dos Panteras Negras – considerados ameaça ao governo americano pela incitação de violência, seguindo a linha da autodefesa mais extremista de Malcolm X. Na investigação, o protagonista conhece e desenvolve um relacionamento que vai além do trabalho com a presidente de uma organização de militância estudantil (papel de Laura Harrier – de Homem-Aranha: De Volta ao Lar – na atuação divisora de águas em sua carreira).

O assunto principal, no entanto, é o caso do policial numa das células da horrenda Ku Klux Klan, organização racista de extrema direita, que ainda possui seus adeptos atualmente. É neste desenvolvimento, que existe como cerne da obra, que Lee atinge e recobra sua maestria como contador de histórias. Sua narrativa se entrelaça facilmente com o cinema entretenimento, passeando de forma exímia (da forma que somente os grandes dominam) por gêneros como o suspense, o drama e a comédia. Sim, Lee sabe extrair o humor do desconforto como poucos, ao mesmo tempo em que enfia mais o dedo na ferida.

Assim como o próprio protagonista, Infiltrado na Klan existe em dois mundos. Ron, o personagem principal, jura lealdade à força policial do Colorado, mesmo que para isso aceite tarefas que vão contra o que acredita de forma pessoal, mas que estão dentro da lei. Ao mesmo tempo, segue promovendo o empoderamento negro de uma maneira justa, fazendo mais pela causa do que os que se julgam detentores únicos de tais direitos.

O elenco conta ainda com desempenhos inspirados de Adam Driver (o “avatar” de Ron), Topher Grace (o líder da Klan) e, em especial Jasper Paakkonen (o fanatismo ambulante Felix) e Ryan Eggold (o representante da célula). Além de uma participação de arrepiar a espinha do lendário Harry Belafonte – numa cena chave.

Clamando o melhor do cinema autoral-comercial de Hollywood (muito em baixa na era da reciclagem de ideias atual), Spike Lee demonstra tudo o que sabe em Infiltrado na Klan, entregando um conteúdo questionador em cenas para lá de provocativas, desconfortáveis e até mesmo perturbadoras. O novo trabalho do diretor te fará refletir de uma forma intensiva – assim como Faça a Coisa Certa fez há 30 anos. É incrível que tais temas tão distantes ainda precisem ser reforçados (agora mais do que nunca), questões que deveriam ter ficado para trás ao ponto da extinção.

Passado e presente se conectam de forma desconcertante, mas precisa. Não por menos, Infiltrado na Klan é um relato histórico que termina com uma mensagem para o hoje, para uma era na qual aterradores estereótipos se concretizam como realidade desavergonhada. O novo “bagulho” de Spike Lee é uma viagem necessária, que surge em nossa frente como espelho triste da atualidade.

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