domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Intervenção – Ação policial mira em Tropa de Elite e acerta em Polícia Federal: A Lei é Para Todos

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Sabe aquele seu conhecido que adora ficar pagando de isento e diz frases soltas como “não sou de esquerda, nem de direita”, mas que claramente tem uma ideologia por trás? Pois bem, Intervenção é a adaptação para os cinemas deste tipo de pessoa, que geralmente quer pagar de liberal, mas se revela bastante conservadora. 

O longa conta a história dos funcionários de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Rio de Janeiro pós-Jogos Olímpicos. Eles devem lidar com os problemas de falta de estrutura ao mesmo tempo em que buscam manter o clima apaziguado na comunidade, evitando ao máximo entrar em conflito com a população local. 



Bianca Comparato vive Larissa, uma jovem recruta que fez concurso para a polícia achando que os confrontos no morro haviam diminuído, mas que acabam se deparando com uma situação de violência diária. Ela está sob supervisão do major Douglas (Marcos Palmeira), um sujeito aparentemente honrado que se preocupa com seus comandados e que tem uma regra em seu batalhão: “é proibido morrer”. O elenco conta ainda com Babu Santana, Zezé Motta, Rafael Losso e Rainer Cadete.

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Dirigido por Caio Cobra, o filme conta com boas sequências de ação e um bom trabalho de design de produção. Ainda que tenha tomadas interessantes, sofre com o problema de trazer uma linguagem muito mais próxima da televisão ou da publicidade do que do cinema. O diretor de fotografia Enio Berwanger usa e abusa das tomadas aéreas feitas com drones, uma nova mania do cinema nacional, que raramente é usada de forma satisfatória. 

Se tecnicamente o filme possui seu valor, do ponto de vista narrativo a coisa é um pouco mais preocupante. O roteiro de Rodrigo Pimentel e Gustavo Almeida é muito problemático, se esforçando bastante para provar que defende todos os lados, mas sem conseguir passar profundidade alguma. Na verdade, o que temos é uma sucessão de frases de efeito, uma mais artificial que a outra. Isso fica claro especialmente nos diálogos envolvendo a personagem de Dandara Mariana, uma ativista que é irmã de Larissa, e entra em constante confronto com a mesma. A ideia de duas irmãs com visões opostas sobre o trabalho policial na comunidade carioca é interessante, mas o texto de Mariana é tão pobre, tão raso, que a personagem perde força. Todas as falas dela parecem sair da boca de alguém com pouquíssimo contato com a vida na favela, uma imensidão de frases-feitas que são vistas normalmente em textões no Facebook de jovens brancos. Uma ativista negra que mora na comunidade jamais adotaria uma abordagem tão superficial quanto a vista aqui.

Mas engana-se quem pensa que só a ativista possui frases clichês. A maioria dos policiais e criminosos seguem o mesmo caminho. O filme tenta ainda colocar uma conjuntura política mais ampla, mas nunca consegue ser efetivamente profundo.

A verdade é que Intervenção queria ser Tropa de Elite, mas não tem conteúdo com isso. No final das contas, está mais próximo de coisas como Polícia Federal: A Lei é Para Todos. Analisando com quase nenhuma crítica a atuação da polícia e tratando como heróis personagens com condutas bastante questionáveis, o filme por vezes parece não saber para onde ir. 

O que o longa talvez não perceba é que, muitas vezes, ele parece absolver atuações criminosas dos agentes da lei. Por exemplo, em determinado momento, vemos um policial plantando uma arma em uma vítima de troca de tiros na favela. A vítima estava desarmada, mas em momento anterior no filme é vista trocando tiros com a polícia. Assim, a produção “justifica” a ação questionável do policial. Se isso não fosse o bastante, também temos uma policial agredindo violentamente uma moradora inocente para logo em seguida ser tratada como herói. Além disso, aponta tantas características vilanescas para seu policial corrupto que passa a impressão que a corrupção é a exceção da exceção no dia a dia das UPPs.

No final, ainda temos direito a um “momento épico” anti-sistema, numa clara tentativa de fazer algo parecido com o discurso derradeiro do Capitão Nascimento em Tropa de Elite 2. O resultado, no entanto, não passa nem perto disso.

Filme visto durante a cobertura do Festival do Rio 2019

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Sabe aquele seu conhecido que adora ficar pagando de isento e diz frases soltas como “não sou de esquerda, nem de direita”, mas que claramente tem uma ideologia por trás? Pois bem, Intervenção é a adaptação para os cinemas deste tipo de pessoa, que geralmente quer pagar de liberal, mas se revela bastante conservadora. 

O longa conta a história dos funcionários de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Rio de Janeiro pós-Jogos Olímpicos. Eles devem lidar com os problemas de falta de estrutura ao mesmo tempo em que buscam manter o clima apaziguado na comunidade, evitando ao máximo entrar em conflito com a população local. 

Bianca Comparato vive Larissa, uma jovem recruta que fez concurso para a polícia achando que os confrontos no morro haviam diminuído, mas que acabam se deparando com uma situação de violência diária. Ela está sob supervisão do major Douglas (Marcos Palmeira), um sujeito aparentemente honrado que se preocupa com seus comandados e que tem uma regra em seu batalhão: “é proibido morrer”. O elenco conta ainda com Babu Santana, Zezé Motta, Rafael Losso e Rainer Cadete.

Dirigido por Caio Cobra, o filme conta com boas sequências de ação e um bom trabalho de design de produção. Ainda que tenha tomadas interessantes, sofre com o problema de trazer uma linguagem muito mais próxima da televisão ou da publicidade do que do cinema. O diretor de fotografia Enio Berwanger usa e abusa das tomadas aéreas feitas com drones, uma nova mania do cinema nacional, que raramente é usada de forma satisfatória. 

Se tecnicamente o filme possui seu valor, do ponto de vista narrativo a coisa é um pouco mais preocupante. O roteiro de Rodrigo Pimentel e Gustavo Almeida é muito problemático, se esforçando bastante para provar que defende todos os lados, mas sem conseguir passar profundidade alguma. Na verdade, o que temos é uma sucessão de frases de efeito, uma mais artificial que a outra. Isso fica claro especialmente nos diálogos envolvendo a personagem de Dandara Mariana, uma ativista que é irmã de Larissa, e entra em constante confronto com a mesma. A ideia de duas irmãs com visões opostas sobre o trabalho policial na comunidade carioca é interessante, mas o texto de Mariana é tão pobre, tão raso, que a personagem perde força. Todas as falas dela parecem sair da boca de alguém com pouquíssimo contato com a vida na favela, uma imensidão de frases-feitas que são vistas normalmente em textões no Facebook de jovens brancos. Uma ativista negra que mora na comunidade jamais adotaria uma abordagem tão superficial quanto a vista aqui.

Mas engana-se quem pensa que só a ativista possui frases clichês. A maioria dos policiais e criminosos seguem o mesmo caminho. O filme tenta ainda colocar uma conjuntura política mais ampla, mas nunca consegue ser efetivamente profundo.

A verdade é que Intervenção queria ser Tropa de Elite, mas não tem conteúdo com isso. No final das contas, está mais próximo de coisas como Polícia Federal: A Lei é Para Todos. Analisando com quase nenhuma crítica a atuação da polícia e tratando como heróis personagens com condutas bastante questionáveis, o filme por vezes parece não saber para onde ir. 

O que o longa talvez não perceba é que, muitas vezes, ele parece absolver atuações criminosas dos agentes da lei. Por exemplo, em determinado momento, vemos um policial plantando uma arma em uma vítima de troca de tiros na favela. A vítima estava desarmada, mas em momento anterior no filme é vista trocando tiros com a polícia. Assim, a produção “justifica” a ação questionável do policial. Se isso não fosse o bastante, também temos uma policial agredindo violentamente uma moradora inocente para logo em seguida ser tratada como herói. Além disso, aponta tantas características vilanescas para seu policial corrupto que passa a impressão que a corrupção é a exceção da exceção no dia a dia das UPPs.

No final, ainda temos direito a um “momento épico” anti-sistema, numa clara tentativa de fazer algo parecido com o discurso derradeiro do Capitão Nascimento em Tropa de Elite 2. O resultado, no entanto, não passa nem perto disso.

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