sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | Invasão Zumbi

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Trem para Busan

Indiscutivelmente os zumbis são os monstros mais famosos da cultura pop atual. As criaturas deterioradas já assumiram forma de namoradas insatisfeitas (Vida Após Beth e Enterrando Minha Ex), filha sofredora (Contágio – Epidemia Mortal) e até mesmo galã romântico (Meu Namorado é um Zumbi), desde que George Romero as popularizou em 1968. O que faltava, ou ao menos o que foi pouco usado, era se tornarem personagens num drama de arte sul coreano. Bem, essa lacuna acaba de ser preenchida.

Invasão Zumbi é uma das produções mais eletrizantes do ano, que chega aos cinemas neste fim de 2016 para sacudir o ano maledetto. No filme escrito e dirigido por Yeon Sang-ho – diretor de animações asiáticas, fazendo sua estreia no cinema live action – um acidente numa fábrica causa um estranho fenômeno, espalhando um terrível vírus e mantendo parte da cidade em quarentena. Logo na cena de abertura, percebemos a crise iminente com o atropelamento de um animal, que irá ditar o tom macabro para o longa.



Como dito, este é um filme diferente dentro do subgênero, no qual os sustos e arrepios são balanceados com o drama pessoal dos personagens, em trechos verdadeiramente emocionantes. E não é eufemismo, Invasão Zumbi consegue dar nó na garganta e trazer lágrimas aos olhos. O motivo para isso é o relacionamento entre o workaholic Woo (Gong Yoo) e sua filha pequena, a graciosa Soo-an (Kim Soo-na). O trabalho excessivo do pai yuppie deixa a filha aos cuidados da avó materna, porém, desejando mais atenção do progenitor. Essa é a razão pela qual a menina cisma em ir ver a mãe, moradora da cidade de Busan do título original.

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A viagem para Busan de pai e filha é o que dá início para a trama nervosa, na qual um trem se torna o cenário para algumas das situações mais tensas e assustadoras já apresentadas neste tipo de cinema. No local também somos apresentados ao grupo inusitado de sobreviventes, aos quais nos afeiçoaremos ao longo da projeção, até que alguns deles saiam de cena – e isto é tudo o que irei dizer sobre o assunto. Ao lado da ficção Expresso do Amanhã (lançado por aqui no ano passado), esta obra faz uma boa sessão dupla, apresentando um subtexto rico além de seu gênero saliente e enfatizando o cenário de um trem como paralelo para questões sociais e políticas.

Do egoísmo protagonista, vendido para a filha como virtude, sinalizando a época cínica e individualista na qual vivemos; passando pelo altruísmo heroico de um truculento e bonachão futuro pai; até a coragem e provação do amor jovem e a união de familiares, que se quebrada fará perder a razão de sobrevivência, Invasão Zumbi possui demasiadas entrelinhas para ser consumido apenas como uma máquina de sustos e adrenalina. Não que a produção careça neste quesito, já que o ritmo imposto pelo cineasta Sang-ho é acelerado o suficiente para capturar a atenção do público disperso que lota os multiplex de shopping.

Por ter sido produzido bem longe de Hollywood, Invasão Zumbi tem toda a liberdade criativa desejada pelo diretor, deixando espaço para belos momentos contemplativos, visualmente estratégicos e ausentes no cinemão massificado. Por exemplo, uma perseguição de zumbis frenéticos se torna um entusiasmante quadro em movimento, quando a câmera de Sang-ho é posicionada em plongê absoluto (ângulo zenital, de cima para baixo) e acompanha a fuga de um personagem rumo a seu porto seguro. É este desejo pela arte que faz sobressair o filme sul coreano. Além disso, o cineasta trabalha esteticamente sua horda de mortos vivos, em uma cascata que se assemelha ao confeccionado por Marc Forster em Guerra Mundial Z (2013), criando ainda um balé de contorcionismo para as criaturas. O gore (sanguinolência) é deixado de lado em nome do clima construído, mais importante para o diretor do que o grafismo e a gratuidade.

Com eficientes homenagens, que chegam até o clássico A Noite dos Mortos Vivos (1968) – com um desfecho que reverencia o mestre Romero – personagens carismáticos que funcionam na medida planejada, e uma encantadora protagonista mirim, Invasão Zumbi tem na interação humana sua grande virtude. O final é poderoso e aponta o quanto é difícil encontrar um desfecho que funcione em qualquer tipo de filme. Ao nos depararmos com um encerramento como o apresentando aqui, compreendemos com mais facilidade o quão distante está a maioria das produções cinematográficas de confeccionar um ponto final poético e harmonioso.

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Invasão Zumbi é uma das produções mais eletrizantes do ano, que chega aos cinemas neste fim de 2016 para sacudir o ano maledetto. No filme escrito e dirigido por Yeon Sang-ho – diretor de animações asiáticas, fazendo sua estreia no cinema live action – um acidente numa fábrica causa um estranho fenômeno, espalhando um terrível vírus e mantendo parte da cidade em quarentena. Logo na cena de abertura, percebemos a crise iminente com o atropelamento de um animal, que irá ditar o tom macabro para o longa.

Como dito, este é um filme diferente dentro do subgênero, no qual os sustos e arrepios são balanceados com o drama pessoal dos personagens, em trechos verdadeiramente emocionantes. E não é eufemismo, Invasão Zumbi consegue dar nó na garganta e trazer lágrimas aos olhos. O motivo para isso é o relacionamento entre o workaholic Woo (Gong Yoo) e sua filha pequena, a graciosa Soo-an (Kim Soo-na). O trabalho excessivo do pai yuppie deixa a filha aos cuidados da avó materna, porém, desejando mais atenção do progenitor. Essa é a razão pela qual a menina cisma em ir ver a mãe, moradora da cidade de Busan do título original.

A viagem para Busan de pai e filha é o que dá início para a trama nervosa, na qual um trem se torna o cenário para algumas das situações mais tensas e assustadoras já apresentadas neste tipo de cinema. No local também somos apresentados ao grupo inusitado de sobreviventes, aos quais nos afeiçoaremos ao longo da projeção, até que alguns deles saiam de cena – e isto é tudo o que irei dizer sobre o assunto. Ao lado da ficção Expresso do Amanhã (lançado por aqui no ano passado), esta obra faz uma boa sessão dupla, apresentando um subtexto rico além de seu gênero saliente e enfatizando o cenário de um trem como paralelo para questões sociais e políticas.

Do egoísmo protagonista, vendido para a filha como virtude, sinalizando a época cínica e individualista na qual vivemos; passando pelo altruísmo heroico de um truculento e bonachão futuro pai; até a coragem e provação do amor jovem e a união de familiares, que se quebrada fará perder a razão de sobrevivência, Invasão Zumbi possui demasiadas entrelinhas para ser consumido apenas como uma máquina de sustos e adrenalina. Não que a produção careça neste quesito, já que o ritmo imposto pelo cineasta Sang-ho é acelerado o suficiente para capturar a atenção do público disperso que lota os multiplex de shopping.

Por ter sido produzido bem longe de Hollywood, Invasão Zumbi tem toda a liberdade criativa desejada pelo diretor, deixando espaço para belos momentos contemplativos, visualmente estratégicos e ausentes no cinemão massificado. Por exemplo, uma perseguição de zumbis frenéticos se torna um entusiasmante quadro em movimento, quando a câmera de Sang-ho é posicionada em plongê absoluto (ângulo zenital, de cima para baixo) e acompanha a fuga de um personagem rumo a seu porto seguro. É este desejo pela arte que faz sobressair o filme sul coreano. Além disso, o cineasta trabalha esteticamente sua horda de mortos vivos, em uma cascata que se assemelha ao confeccionado por Marc Forster em Guerra Mundial Z (2013), criando ainda um balé de contorcionismo para as criaturas. O gore (sanguinolência) é deixado de lado em nome do clima construído, mais importante para o diretor do que o grafismo e a gratuidade.

Com eficientes homenagens, que chegam até o clássico A Noite dos Mortos Vivos (1968) – com um desfecho que reverencia o mestre Romero – personagens carismáticos que funcionam na medida planejada, e uma encantadora protagonista mirim, Invasão Zumbi tem na interação humana sua grande virtude. O final é poderoso e aponta o quanto é difícil encontrar um desfecho que funcione em qualquer tipo de filme. Ao nos depararmos com um encerramento como o apresentando aqui, compreendemos com mais facilidade o quão distante está a maioria das produções cinematográficas de confeccionar um ponto final poético e harmonioso.

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