Amityville Inglesa
Qual o caminho a seguir quando sua produção dá certo financeiramente? Bem, confeccionar uma sequência, é claro. Nem todas as produções hollywoodianas que pretendem continuar um filme querido são verdadeiros caça-níqueis, no entanto. E no quesito podemos encaixar este Invocação do Mal 2, que segue uma das produções mais celebradas pelos fãs do gênero terror nos últimos anos. Por mais qualidades que obras como Babadook e Corrente do Mal possuam, é seguro dizer que Invocação do Mal é o filme unânime, a produção mainstream que abrange o grande público, entregando exatamente o que ele quer, sem confundi-lo.
O primeiro Invocação do Mal trouxe de volta a glória do terror, abordando um assunto que após O Exorcista (1973) parecia ter perdido a relevância: a possessão demoníaca. Além disso, o filme utilizava uma pitada de tudo o que faz os fãs apreciarem o gênero, e caprichou no clima sombrio de casas assombradas, no desenvolvimento de cenas verdadeiramente assustadoras (e não apenas se apoiou no famigerado “som alto”), e privilegiou a tensão ao invés dos sustos fáceis. Porém, a maior cartada que o cineasta James Wan – que retorna na direção desta sequência (assim como os roteiristas do original, Chad e Carey Hayes) – dava, era dar ênfase a bons personagens (e intérpretes idem) e em seu desenvolvimento.
Invocação do Mal é o casal Warren. Especialistas no oculto e investigadores do paranormal assentidos pela Igreja Católica, Ed e Lorraine Warren são referência quando o assunto é o inexplicável, o fora deste mundo. O casal realmente existiu – Lorraine ainda está viva, Ed é falecido – e suas façanhas se tornaram notórias. Em 2013, os Warren tomaram as formas da indicada ao Oscar Vera Farmiga e de Patrick Wilson, com quem Wan já havia trabalhado em Sobrenatural (Insidious, 2010), e uma continuação, obviamente, só funcionaria com o retorno da dupla. O mais legal desta franquia é justamente isso, foram muitos anos combatendo o mal, e muitos casos enfrentados pela dupla, ou seja, histórias são o que não irão faltar.
Ed (Wilson) e Lorraine (Farmiga) estão de volta, e embora possuam menos tempo em cena (e quem sabe menos relevância dentro da trama), o roteiro, desta vez coescrito pelo diretor Wan igualmente, continua a lhes dar bons momentos e um desenvolvimento que não é visto em filmes do tipo. O filme arruma momentos calmos para o casal, no meio de todo o turbilhão, e nós na plateia agradecemos. Aqui, o destaque fica para uma cena na qual Wilson tira um violão e desanda a cantar “Can´t Help Falling In Love”, de Elvis Presley, para Lorraine e a família assombrada, como forma de dizer que tudo ao final ficará bem. As atuações neste momento são genuínas.
Sim, temos uma nova família assombrada aqui. Desta forma, saem os Perron do filme original, e entram os Hodgson – uma típica família britânica do lado pobre da cidade, sem uma figura paterna. A estrutura do filme original também é mantida, o que é um bom aceno para quem notar. No original, tínhamos o famigerado caso envolvendo a boneca Annabelle, para depois os Warren desbravarem o caso Perron. Aqui, a clássica casa de Amityville (retratado em diversos filmes) entra em cena, com os Warren liderando, para depois seguirem para a chamada Amityville inglesa dos Hodgson. Até mesmo um momento de alívio cômico é sutilmente inserido, entre Ed e a matriarca Peggy (Frances O ´Connor) e se mostra eficiente, como o prenúncio da queda de uma montanha russa.
Ainda rodeando o elenco e as atuações, o destaque é para Madison Wolfe, a pequena intérprete de Janet, a filha mais sofredora da família. Ela é a verdadeira protagonista aqui, e a menina é puro talento. Toda essa cereja do bolo não valeria de nada caso o que todos querem ver, o terror, não funcionasse. Apesar de um início sem muito gás, Wan engata novamente o fôlego esperado e não dá descanso para a plateia. São sequências intensas e ininterruptas de muito medo, sustos e no que o diretor faz de melhor, construção do clima e suspense de arrepiar. Wan ainda arruma espaço para toques artísticos, como planos sem cortes pelo interior da casa, que conta com uma direção de arte de primeira. E se o que você procura é bicho papão, o roteiro introduz criaturas que tem tudo para se tornarem icônicas (vide Jason e Freddy), nas formas do “Homem Torto”, o poltergeist Bill Wilkins e o demônio-freira Valak. Nesta quinta-feira corram para os cinemas e não esqueçam os crucifixos.