São muitas as histórias de guerra. São tantas quanto o número de guerras que o mundo já criou. A maioria delas é desconhecida pelo público, até porque até muito recentemente os livros e os filmes só contavam as versões dos vencedores e heróis dessas batalhas. Ainda que continue contando essas versões também, alguns pontos começaram a mudar de uns anos para cá, fosse o perfil do herói, fosse o perfil do tal vencedor, questionando, inclusive, estas alcunhas dadas a indivíduos e situações que, muitas vezes, não os mereciam. Em outras ocasiões, os feitos simplesmente não chegaram ao público, por motivos múltiplos. Uma dessas histórias chega a partir dessa semana aos cinemas brasileiros com o longa ‘Irmãos de Honra’.
Tom Hudner (Glen Powell) acaba de ser transferido para uma base da marinha nos EUA, onde conhece Ward (Joseph Cross), Buddy (Boone Platt), Mohring (Nick Hardgrove), Bo Lavery (Spencer Neville), Goode (Joe Jonas), Koening (Daren Kagasoff) e o introvertido Jesse Brown (Jonathan Majors), único piloto negro do esquadrão naquela década de 1960. Era para ser só um treinamento de rotina, mas o grupo acaba sendo enviado para o outro lado do mundo, num esforço de Washington em se aliar com a Coreia do Sul na guerra contra a Coreia do Norte. Nesse período, Hudner irá aprender que a guerra, a marinha e as regras impactam na vida de Jesse Brown de uma maneira diferente do que ele mesmo tinha vivido em sua experiência. E que o que torna os homens herói vai muito além do que guerras e batalhas sem sentido.
Inspirado em eventos reais da vida do marinheiro Jesse Brown, ‘Irmãos de Honra’ é desses filmes que buscam engrandecer o orgulho estadunidense, construindo narrativas que enobrecem os feitos de militares e marinheiros. Para contar a história desse único piloto negro do esquadrão, o roteiro de Jake Crane e Jonathan Stewart – baseado no livro de Adam Makos – parte do ponto de vista de Tom Hudner, um piloto branco que, supostamente, aprende um monte de coisas sobre o racismo estrutural vigente na marinha, ainda que esse ponto não seja debatido abertamente. Com o protagonismo em Hudner, todos os preconceitos que Brown sofre são suavizados na telona porque Hudner parece não entender o porquê de as coisas serem pesadas de maneira diferente, e essa inocência extrema pode impacientar o espectador.
J. D. Dillard (da série ‘The Outsider’) estende o tom dramático-biográfico de seu filme por tempo demais (o filme tem duas horas e vinte de duração), focando a maior parte de sua película nos episódios cotidianos da vida na marinha em vez de na ação propriamente dita. Estas, quando ocorrem, já no terceiro arco de quatro do longa, são bem imersivas, de modo que o espectador que gosta de filmes como ‘Top Gun: Ases Indomáveis’, ‘Con Air’ e ‘Questão de Honra’ será bem contemplado com as sequências de voo no ar; porém, até que estas ocorram, o filme se desenvolve mais como um ‘Pearl Harbor’, ou seja, com ares de Oscar, mas sem envolver tanto a quem assiste. Com Joe Jonas em seu primeiro filme sério da carreira, ‘Irmãos de Honra’ vale pelas cenas de ação dos caças, ainda que não sejam muitas.