quarta-feira , 25 dezembro , 2024

Crítica | Isabela Merced DOMINA as telas na sólida adaptação de ‘Tartarugas Até Lá Embaixo’

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John Green é um dos autores mais conhecidos da atualidade e deu origem a histórias que se tornaram best-sellers ao redor do planeta e, em pouco tempo, foram levadas em adoradas adaptações para os cinemas – ainda que não tenham totalmente conquistado a crítica internacional. Podemos pensar, por exemplo, na interessante e bem-vinda releitura cinematográfica de ‘A Culpa é das Estrelas’, na decepcionante ‘Cidades de Papel’, ou até mesmo na divertida e tocante ‘Deixe a Neve Cair’ (que em pouco tempo consagrou-se como um dos melhores longas natalinos dos últimos anos). Agora, Green nos convida a conhecer mais uma adaptação na forma de Tartarugas Até Lá Embaixo.

Baseado no romance homônimo lançado em 2017, a história acompanha Aza Holmes (Isabela Merced), uma jovem de dezesseis anos que sofre de transtorno obsessivo-compulsivo através de uma preocupação hipocondríaca de que irá se infectar a qualquer momento com bactérias que podem matá-la. As coisas sofrem uma drástica mudança quando ela se reconecta com uma paixonite de infância, Davis Pickett (Felix Mallard), e percebe que precisará enfrentar a si mesma para o prospecto de um relacionamento com o garoto de quem gosta – e isso não é tudo: ela está prestes a dar um passo enorme após se formar no colégio, colocando na balança como ela irá contar os medos de sua mente para fazer o que sempre quis.



Ao longo do caminho, Aza é acompanhada da melhor amiga, Daisy (Cree Cicchino), uma extrovertida e criativa aspirante à escritora que passa seus dias como braço-direito da protagonista para salvá-la das constantes espirais em que cai. De outro lado, sua mãe, Gina (Judy Reyes), age como um escudo superprotetor que inclusive deseja que a filha participe da faculdade local para que ela possa estar ao lado dela nos momentos de crise, enquanto a Dra. Singh (Poorna Jagannathan) tenta auxiliar Aza a entender que seus pensamentos intrusivos não a definem e que ela não apenas tem a capacidade de explorar coisas fora de sua estrita zona de conforto, como também é muito maior do que alguém que vive presa dentro dos próprios temores.

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Em se tratando de um drama romântico adolescente, o projeto é carregado de alguns convencionalismos que são naturais do gênero e que já imaginávamos aparecer por aqui. Por exemplo, há um certo anacronismo pincelando os diálogos entre os personagens principais e coadjuvantes, com alguns sendo muito maduros para idade que possuem – o que é justificável dentro do amadurecimento compulsório pelo qual Aza passa, mas parece fora de lugar em relação às outras personas. Além disso, há a questão da delineação narrativa que aposta em altos e baixos colocados dentro de uma estrutura familiar e que apenas consegue se desvencilhar do purismo de clichês pelas temáticas importantes que traz à tona e pelo fato de Green, vivendo com TOC, saber transparecer as problemáticas de tal distúrbio sem cair em estereótipos sem sentido e pejorativos.

Hannah Marks, que faz uma breve aparição no longa-metragem, é responsável pela direção. Anteriormente, ela trabalhou em produções dramáticas ao apostar fichas em construções almejando à originalidade narrativa e, nessa nova empreitada, faz o máximo que pode para se desvencilhar das fórmulas até perceber que essa é uma tarefa quase impossível. Conforme abraça os paradigmas, Marks nota que há outras esferas a serem destrinchadas, como a frenética montagem de Andrea Bottigliero, a sólida fotografia de Brian Burgoyne e a certeira, apesar de “quadradinha”, trilha sonora assinada por Ian Hultquist. No final das contas, essa combinação de elementos funciona numa praticidade bem-vinda e que se esquiva do pedantismo criativo, mesmo não oferecendo nenhuma concretude de ineditismo.

O ponto alto da obra é, de fato, o elenco. Reyes e Jagannathan insurgem como um contraste interessante e intergeracional em relação à Gen-Z, esta tentando compreender as angústias de uma jovem que parece ter desistido de encontrar a “normalidade” – sendo que o distúrbio que apresenta não a faz menos normal que ninguém -, e aquela navegando em uma tentativa de entender a filha, mas sem muitos resultados sólidos por constantemente lembrá-la de seu “problema”. Cicchino e Mallard têm uma performance sólida que ajudam nos contrapontos feitos à Aza, mas é Merced quem rouba nossa atenção, não só por ser a protagonista, mas por apresentar um lado novo de suas incursões performáticas que ainda não tínhamos visto – afastando-se por completo de obras como ‘Madame Teia’ e ‘Dora e a Cidade Perdida’ e rendendo-se a um tour-de-force apaixonante e dilacerante.

Tartarugas Até Lá Embaixo é uma grata e surpreendente adaptação do romance homônimo de John Green e nos envolve por atuações aplaudíveis e um comprometimento temático que, mais recorrente do que deveria, é audaz e singelo. Mesmo com os claros obstáculos, o resultado é aprazível o suficiente e é um presente tanto para os fãs do gênero em questão quanto para os assíduos fãs do romancista que esperavam ansiosamente por um projeto cujo desenvolvimento soava como uma lenda urbana.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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John Green é um dos autores mais conhecidos da atualidade e deu origem a histórias que se tornaram best-sellers ao redor do planeta e, em pouco tempo, foram levadas em adoradas adaptações para os cinemas – ainda que não tenham totalmente conquistado a crítica internacional. Podemos pensar, por exemplo, na interessante e bem-vinda releitura cinematográfica de ‘A Culpa é das Estrelas’, na decepcionante ‘Cidades de Papel’, ou até mesmo na divertida e tocante ‘Deixe a Neve Cair’ (que em pouco tempo consagrou-se como um dos melhores longas natalinos dos últimos anos). Agora, Green nos convida a conhecer mais uma adaptação na forma de Tartarugas Até Lá Embaixo.

Baseado no romance homônimo lançado em 2017, a história acompanha Aza Holmes (Isabela Merced), uma jovem de dezesseis anos que sofre de transtorno obsessivo-compulsivo através de uma preocupação hipocondríaca de que irá se infectar a qualquer momento com bactérias que podem matá-la. As coisas sofrem uma drástica mudança quando ela se reconecta com uma paixonite de infância, Davis Pickett (Felix Mallard), e percebe que precisará enfrentar a si mesma para o prospecto de um relacionamento com o garoto de quem gosta – e isso não é tudo: ela está prestes a dar um passo enorme após se formar no colégio, colocando na balança como ela irá contar os medos de sua mente para fazer o que sempre quis.

Ao longo do caminho, Aza é acompanhada da melhor amiga, Daisy (Cree Cicchino), uma extrovertida e criativa aspirante à escritora que passa seus dias como braço-direito da protagonista para salvá-la das constantes espirais em que cai. De outro lado, sua mãe, Gina (Judy Reyes), age como um escudo superprotetor que inclusive deseja que a filha participe da faculdade local para que ela possa estar ao lado dela nos momentos de crise, enquanto a Dra. Singh (Poorna Jagannathan) tenta auxiliar Aza a entender que seus pensamentos intrusivos não a definem e que ela não apenas tem a capacidade de explorar coisas fora de sua estrita zona de conforto, como também é muito maior do que alguém que vive presa dentro dos próprios temores.

Em se tratando de um drama romântico adolescente, o projeto é carregado de alguns convencionalismos que são naturais do gênero e que já imaginávamos aparecer por aqui. Por exemplo, há um certo anacronismo pincelando os diálogos entre os personagens principais e coadjuvantes, com alguns sendo muito maduros para idade que possuem – o que é justificável dentro do amadurecimento compulsório pelo qual Aza passa, mas parece fora de lugar em relação às outras personas. Além disso, há a questão da delineação narrativa que aposta em altos e baixos colocados dentro de uma estrutura familiar e que apenas consegue se desvencilhar do purismo de clichês pelas temáticas importantes que traz à tona e pelo fato de Green, vivendo com TOC, saber transparecer as problemáticas de tal distúrbio sem cair em estereótipos sem sentido e pejorativos.

Hannah Marks, que faz uma breve aparição no longa-metragem, é responsável pela direção. Anteriormente, ela trabalhou em produções dramáticas ao apostar fichas em construções almejando à originalidade narrativa e, nessa nova empreitada, faz o máximo que pode para se desvencilhar das fórmulas até perceber que essa é uma tarefa quase impossível. Conforme abraça os paradigmas, Marks nota que há outras esferas a serem destrinchadas, como a frenética montagem de Andrea Bottigliero, a sólida fotografia de Brian Burgoyne e a certeira, apesar de “quadradinha”, trilha sonora assinada por Ian Hultquist. No final das contas, essa combinação de elementos funciona numa praticidade bem-vinda e que se esquiva do pedantismo criativo, mesmo não oferecendo nenhuma concretude de ineditismo.

O ponto alto da obra é, de fato, o elenco. Reyes e Jagannathan insurgem como um contraste interessante e intergeracional em relação à Gen-Z, esta tentando compreender as angústias de uma jovem que parece ter desistido de encontrar a “normalidade” – sendo que o distúrbio que apresenta não a faz menos normal que ninguém -, e aquela navegando em uma tentativa de entender a filha, mas sem muitos resultados sólidos por constantemente lembrá-la de seu “problema”. Cicchino e Mallard têm uma performance sólida que ajudam nos contrapontos feitos à Aza, mas é Merced quem rouba nossa atenção, não só por ser a protagonista, mas por apresentar um lado novo de suas incursões performáticas que ainda não tínhamos visto – afastando-se por completo de obras como ‘Madame Teia’ e ‘Dora e a Cidade Perdida’ e rendendo-se a um tour-de-force apaixonante e dilacerante.

Tartarugas Até Lá Embaixo é uma grata e surpreendente adaptação do romance homônimo de John Green e nos envolve por atuações aplaudíveis e um comprometimento temático que, mais recorrente do que deveria, é audaz e singelo. Mesmo com os claros obstáculos, o resultado é aprazível o suficiente e é um presente tanto para os fãs do gênero em questão quanto para os assíduos fãs do romancista que esperavam ansiosamente por um projeto cujo desenvolvimento soava como uma lenda urbana.

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