Em 1989, Patrick Swayze protagonizava o clássico de ação ‘Matador de Aluguel’. A trama acompanhou uma espécie de segurança que foi contratado para cuidar de uma taberna de meio de estrada que vinha sofrendo com as ações de um corrupto magnata – e, apesar das críticas mistas, fez um barulho considerável de bilheteria e ganhou uma legião de fãs com o passar dos anos, alcançando o status de filme cult. Considerando a crescente onda de remakes, reboots e continuações promovida por Hollywood, não demoraria muito até que o longa-metragem fosse repaginado através de uma perspectiva contemporânea – chegando ao catálogo do Prime Video no último dia 21 de março.
Nessa nova versão, que funciona mais como uma reimaginação da narrativa original do que um remake no sentido mais literal da palavra, o filme traz ninguém menos que Jake Gyllenhaal no papel protagonista de Dalton – um ex-lutador de UFC cuja fama violenta o precede e causa arrepios em qualquer pessoa que ouça falar de seu nome. Vivendo um dia de cada vez e fazendo o máximo para se afastar de seus comportamentos taxados como psicóticos, ele é abordado por uma mulher chamada Frankie (Jessica Williams), que o contrata para cuidar de uma taberna costeira que sofre com constantes ataques locais e um predatório empreendedor que quer demolir o estabelecimento e construir um resort de luxo para a elite. Ao chegar lá, Dalton mostra que foi escalado como segurança por um motivo – até perceber que ele está se envolvendo com algo muito maior do que imaginava.
A produção é notoriamente mais bem organizada que a original e até mesmo consegue se esquivar dos erros do título anterior – cortesia das habilidades do diretor Doug Liman, que carrega em seu currículo obras como ‘A Identidade Bourne’ e ‘No Limite do Amanhã’. É claro que o projeto não está livre de deslizes consideráveis e perceptíveis; entretanto, ao contar com o carisma natural de Gyllenhaal e sua química com os outros membros do elenco, o resultado é positivo dentro das restrições que se autoimpõe e culmina em uma divertida e explosiva aventura escapista que é a escolha perfeita para um final de semana chuvoso e para fugir da realidade.
Para além da sólida performance de Gyllenhaal e de Williams, temos a presença de Daniela Melchior como Ellie, uma médica local que nutre de alguns problemas com a presença amedrontadora de Dalton, mas que se torna seu par romântico com o passar do tempo; Joaquim de Almeida como o corrupto xerife de Florida Keys, que mantém uma relação de submissão ao poderoso e insano magnata Ben Brandt (Billy Magnussen); Conor McGregor entregando-se a uma atuação totalmente descompensada (no melhor sentido da palavra) ao encarnar o caçador de recompensas Knox; e vários atores e atrizes que têm seu momento de brilho – e cujas múltiplas subtramas acabam interferindo no ritmo do filme.
O primeiro ato do longa é o que esperávamos de uma obra como essa: Liman une-se a uma competente equipe criativa para se afastar das cores e das jogadas de câmera costumeiras ao gênero de ação, prezando por uma paleta de cores mais sóbria e menos saturada a fim de refletir a crescente angústia que se apodera do arco do protagonista e de Florida Keys – renegando tons fortes para uma homogeneidade melancólica do azul e do verde. E isso não é tudo: o cineasta aposta fichas em uma estética ambiciosa em que convida os espectadores para participar das cenas de embate, com zoom-ins e zoom-outs dilacerantes e que combinam com o teor despojado da primeira parte. Todavia, essa repetição torna-se exaustiva e sem muito objetivo conforme as pinceladas dramáticas do tour-de-force ditam o destino de Dalton, escorregando no exagero performático.
O objetivo principal do filme não é reinventar o gênero ou fornecer sutilezas em meio a suas camadas visuais; pelo contrário, temos uma prática história de redenção que parte das explorações de um trauma que ainda assombra Dalton e que expande-se em uma arquitetura extradiegética através de uma quantidade considerável de personagens. No final das contas, ‘Matador de Aluguel’ cumpre com aquilo que promete ao público e deve agradar aos fãs do filme original – novamente, guiada por ótimas performances e pelo ácido carisma de Gyllenhaal em uma homenagem a Swayze e ao longa dos anos 1980.