sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | Jane Fonda em Cinco Atos: A dolorosa e escancarada história de uma das figuras mais icônicas de Hollywood

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Uma beleza estonteante e admirável que atravessou as décadas. Se metamorfoseou ao longo dos anos em cortes de cabelos e mudanças constantes de postura. A história de Jane Fonda não pode jamais ser dita com um segredo distante dos holofotes. Ao contrário da maior parte de nós, sua vida foi relatada diante das câmeras, passo a passo, graças ao seu pai, o renomado ator Henry Fonda. Cercada por olhos que projetavam sua majestosa sombra sobre si, a atriz fez parte do retrato da perfeita família branca norte-americana, que nada mais fazia do que esconder as mazelas de uma vida familiar absolutamente fragilidade e traumática. Com um pai mulherengo, durão e machista e uma mãe que sofria com depressão, sensação de abandono e complexos de inferioridade, a atriz é o resultado desses fragmentos colados com fita adesiva e não tem medo de admitir sua história da forma mais escancarada em Jane Fonda em Cinco Atos.



A narrativa do documentário de Susan Lacy já é intrigante por sua própria abordagem. Avaliando a vida da atriz a partir dos seus relacionamentos mais marcantes, o longa se divide em cinco partes quase como um espetáculo teatral. Com uma vida marcada pelo que certos homens queriam para si, Jane Fonda admite ter sido caracterizada temporalmente a partir do que essas figuras masculinas desejam e esperavam. Em um constante conflito em busca das suas próprias decisões, escolhas e estilo de vida, ela viveu uma vida de anulações, que vez outra se contrapunha ao seu inigualável e inexplicável amor pela atuação. Esse constante conflito cheio de inconstâncias pauta o compasso do longa, que traz a veterana mais franca do que nunca, revivendo seus 80 anos com sinceridade, se despindo das amarras da perfeição que a cultura de celebridade projeta sobre personalidades do ramo do entretenimento.

Essa franqueza absoluta ganha cores, formatos e lágrimas, em uma longa conversa em que Jane reconstrói fotos familiares e um extenso acervo de filmagens que atravessam as décadas. Por ter sua vida sempre documentada, seja a partir da perspectiva de seu pai e ex-maridos, seja a partir de seu engajamento com o ativismo ou dos filmes que produziu e estrelou, Jane Fonda em Cinco Atos conta com um material fonte surpreendente, que nos leva em uma viagem pela infância e juventude da atriz, percorrendo cada mudança de comportamento, estilo e posicionamento. Como uma máquina do tempo, o documentário abusa – com propriedade – da história visual que o próprio tempo proporcionou, trazendo a atriz para o centro em monólogos precisos sobre a dor de ter nascido com o sobrenome Fonda.

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Sua conturbada relação familiar e as pressões que seus relacionamentos a impuseram explicam seu comportamento como uma mãe que negligenciou sua primeira filha e o desapego daquela versão a que foi imposta, a partir da sensualidade desmedida do clássico cult Barbarella. Aprendemos que o filme só fora executado com ela porque seu marido, o cineasta Roger Vadim, lhe impôs. Descobrimos que a famosa cena de abertura foi gravada enquanto ela estava bêbada, tamanho constrangimento de ter que ficar nua nos primeiros cinco minutos de produção. E assim foram os quatros atos de sua vida, cercados pela validação masculina, em virtude de um trauma (in)consciente da rejeição que sofrera de seu pai. Lutando contra distúrbios alimentares, à medida que também lutava junto aos vietcongues na Guerra do Vietnã, ela chegou a ser considerada traidora pelo presidente Richard Nixon. Mas como camaleoa que era, foi capaz de ressurgir como a fênix, todas as vezes.

A surpreendente história de Fonda traz uma sensibilidade profunda, capturada por Lacy com precisão. Não desperdiçando as francas e dolorosas reflexões sobre sua vida enquanto filha que rejeitara a mãe, filha rejeitada pelo pai, esposa que se anulava e ativista que se emponderava, o documentário extrai as percepções mais profundas da atriz, que rasga seu coração e vai além daquela bela mulher de postura impecável, trajando peças de estilistas, que tanto nos acostumamos a ver nos tapetes vermelhos. Admitindo seus erros, pedindo perdão por eles e ponderando seu passado, Jane Fonda se revela tão machucada quanto todos nós, fazendo ruir as muralhas que essa cultura do culto à celebridades ergue desde o star system.

E talvez seja pela real proximidade com o espectador que o gênero documental permanece tão fascinante. Olhando pelo buraco da fechadura e trazendo à luz histórias mal contadas ou jamais reveladas, ele é o que torna o ramo do entretenimento tão identificável. E Jane Fonda em Cinco Atos é a consumação das verdades que amamos ouvir. Sem medo de julgamentos e delicado como ela, bem ou mal, sempre foi, o documentário ainda prova a atemporalidade da atriz, que aos 80 anos não mais teme o futuro, finalmente aceitou o seu passado e vive o presente como uma mulher integral, que após anos tentando se descobrir, eventualmente aprendeu a não se definir pelo que os outros esperam de si.

 

 

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Uma beleza estonteante e admirável que atravessou as décadas. Se metamorfoseou ao longo dos anos em cortes de cabelos e mudanças constantes de postura. A história de Jane Fonda não pode jamais ser dita com um segredo distante dos holofotes. Ao contrário da maior parte de nós, sua vida foi relatada diante das câmeras, passo a passo, graças ao seu pai, o renomado ator Henry Fonda. Cercada por olhos que projetavam sua majestosa sombra sobre si, a atriz fez parte do retrato da perfeita família branca norte-americana, que nada mais fazia do que esconder as mazelas de uma vida familiar absolutamente fragilidade e traumática. Com um pai mulherengo, durão e machista e uma mãe que sofria com depressão, sensação de abandono e complexos de inferioridade, a atriz é o resultado desses fragmentos colados com fita adesiva e não tem medo de admitir sua história da forma mais escancarada em Jane Fonda em Cinco Atos.

A narrativa do documentário de Susan Lacy já é intrigante por sua própria abordagem. Avaliando a vida da atriz a partir dos seus relacionamentos mais marcantes, o longa se divide em cinco partes quase como um espetáculo teatral. Com uma vida marcada pelo que certos homens queriam para si, Jane Fonda admite ter sido caracterizada temporalmente a partir do que essas figuras masculinas desejam e esperavam. Em um constante conflito em busca das suas próprias decisões, escolhas e estilo de vida, ela viveu uma vida de anulações, que vez outra se contrapunha ao seu inigualável e inexplicável amor pela atuação. Esse constante conflito cheio de inconstâncias pauta o compasso do longa, que traz a veterana mais franca do que nunca, revivendo seus 80 anos com sinceridade, se despindo das amarras da perfeição que a cultura de celebridade projeta sobre personalidades do ramo do entretenimento.

Essa franqueza absoluta ganha cores, formatos e lágrimas, em uma longa conversa em que Jane reconstrói fotos familiares e um extenso acervo de filmagens que atravessam as décadas. Por ter sua vida sempre documentada, seja a partir da perspectiva de seu pai e ex-maridos, seja a partir de seu engajamento com o ativismo ou dos filmes que produziu e estrelou, Jane Fonda em Cinco Atos conta com um material fonte surpreendente, que nos leva em uma viagem pela infância e juventude da atriz, percorrendo cada mudança de comportamento, estilo e posicionamento. Como uma máquina do tempo, o documentário abusa – com propriedade – da história visual que o próprio tempo proporcionou, trazendo a atriz para o centro em monólogos precisos sobre a dor de ter nascido com o sobrenome Fonda.

Sua conturbada relação familiar e as pressões que seus relacionamentos a impuseram explicam seu comportamento como uma mãe que negligenciou sua primeira filha e o desapego daquela versão a que foi imposta, a partir da sensualidade desmedida do clássico cult Barbarella. Aprendemos que o filme só fora executado com ela porque seu marido, o cineasta Roger Vadim, lhe impôs. Descobrimos que a famosa cena de abertura foi gravada enquanto ela estava bêbada, tamanho constrangimento de ter que ficar nua nos primeiros cinco minutos de produção. E assim foram os quatros atos de sua vida, cercados pela validação masculina, em virtude de um trauma (in)consciente da rejeição que sofrera de seu pai. Lutando contra distúrbios alimentares, à medida que também lutava junto aos vietcongues na Guerra do Vietnã, ela chegou a ser considerada traidora pelo presidente Richard Nixon. Mas como camaleoa que era, foi capaz de ressurgir como a fênix, todas as vezes.

A surpreendente história de Fonda traz uma sensibilidade profunda, capturada por Lacy com precisão. Não desperdiçando as francas e dolorosas reflexões sobre sua vida enquanto filha que rejeitara a mãe, filha rejeitada pelo pai, esposa que se anulava e ativista que se emponderava, o documentário extrai as percepções mais profundas da atriz, que rasga seu coração e vai além daquela bela mulher de postura impecável, trajando peças de estilistas, que tanto nos acostumamos a ver nos tapetes vermelhos. Admitindo seus erros, pedindo perdão por eles e ponderando seu passado, Jane Fonda se revela tão machucada quanto todos nós, fazendo ruir as muralhas que essa cultura do culto à celebridades ergue desde o star system.

E talvez seja pela real proximidade com o espectador que o gênero documental permanece tão fascinante. Olhando pelo buraco da fechadura e trazendo à luz histórias mal contadas ou jamais reveladas, ele é o que torna o ramo do entretenimento tão identificável. E Jane Fonda em Cinco Atos é a consumação das verdades que amamos ouvir. Sem medo de julgamentos e delicado como ela, bem ou mal, sempre foi, o documentário ainda prova a atemporalidade da atriz, que aos 80 anos não mais teme o futuro, finalmente aceitou o seu passado e vive o presente como uma mulher integral, que após anos tentando se descobrir, eventualmente aprendeu a não se definir pelo que os outros esperam de si.

 

 

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