terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica | Jason Bourne

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O novo velho Bourne

Uma breve volta no tempo para 2007. Após o lançamento de O Ultimato Bourne, desfecho da trilogia confeccionado por Paul Greengrass e Doug Liman, baseada nos livros de Robert Ludlum, o astro Matt Damon se despedia da série, prometendo não retornar para possíveis sequências. Todo ator consagrado almeja novos desafios e ficar preso a um personagem não recai no quesito. Assim, a Universal (estúdio retentor dos direitos da franquia) precisou tirar da cartola O Legado Bourne, que derivava da trama principal, aplicando um novo protagonista (nas formas de Jeremy Renner). O Legado Bourne não colou junto aos fãs, apesar de não ser um filme ruim, em especial pela barreira criada ao não se ter Damon encabeçando a franquia. Rumores apontavam para um crossover entre Damon e Renner, mas a volta do intérprete de Bourne ainda era incerta.

Corta para 2016, onde vivemos numa era em que marcas pré-estabelecidas ditam regra em Hollywood, exibindo cada vez mais a latente falta de ideias. Se algo deu certo no passado e ainda existe certa associação no consciente coletivo, pode ter certeza de que produto voltará remodelado (e às vezes nem isso) para uma nova geração. Este mês tivemos, por exemplo, as voltas de Caça-Fantasmas e Tarzan, só para citar dois dos mais recentes produtos da cultura pop a ganhar novas roupagens.

Jason Bourne - CinePOP 2

A remodelagem de uma franquia não é necessariamente algo ruim, desde que o trabalho impresso na obra tenha criatividade e qualidade, e tais adjetivos podem ser facilmente empregados a Jason Bourne, quinto filme na franquia da Universal, e o quarto protagonizado por Damon. Quase dez anos após o afastamento e a rejeição em vestir novamente a pele do espião desmemoriado, o astro volta atrás dando aos fãs exatamente o que eles querem (recebendo o $eu, obviamente, em retribuição).

Dessa vez, a ação encontra Bourne a la Sylvester Stallone em Rambo 3 (1988), lutando de forma clandestina pelos submundos. Logo o herói é contatado por Nicky Parsons, personagem vivida pela quarta vez por Julia Stiles. A moça virou a típica whistleblower, no melhor estilo Edward Snowden (figura que além de servir de molde para a nova trama, é mencionada mais de uma vez ao longo do filme). A delatora possui inclusive seu próprio Julian Assange, na forma de Christian Dassault (Vinzenz Kiefer) – sentiram a analogia nada sutil dos nomes? No entanto, não pense você que Bourne se tornou um símbolo anti-americano. O personagem pode ser perseguido e escorraçado por seu governo, mas ao deparar-se com Dessault em determinada cena e ouvir do sujeito: “queremos as mesmas coisas”, Bourne não hesita ao disparar: “não estou do seu lado”, enfatizando a reprovação de tais ações na visão dos realizadores (roteiro de Paul Greengrass e Christopher Rouse).

Jason Bourne - CinePOP 3

Naturalmente, a personagem de Stiles se tornou a inimiga pública número 1 dos EUA, e consegue arrastar o desmemoriado espião de volta ao jogo, o mote para a trama parte daí. Em breve, Bourne terá em sua cola o novo diretor da CIA, Robert Dewey (Tommy Lee Jones), sua protegida, Heather Lee (Alicia Vikander) e o cão bravo da agência (Vincent Cassel). Porém, as coisas podem não ser tão simples, guardando para essa história algumas reviravoltas e revelações do passado, presente e futuro – incluindo surpresas com o próprio protagonista (não pense você que Bourne já lembrou de tudo sobre seu passado, sua mente é uma verdadeira caixinha de surpresas).

Jason Bourne - CinePOP 4

Contra o novo filme está a estrutura na qual se vê preso. Essa é essencialmente a mesma história que vimos nos filmes anteriores, contada pela quarta vez, o que resume-se em “Bourne é perseguido e foge pelo mundo”. É bem verdade que O Legado Bourne tentou quebrar esse molde, sem sucesso. Já que o povo queria mais do mesmo, aqui está. Mas Jason Bourne também possui um número significativo de prós, que sobressaem (e muito) os elementos negativos. Entre eles, o posicionamento do novo longa no cenário atual da política de segurança norte-americana. É incrível perceber os avanços que o mundo deu em menos de dez anos. Temos, por exemplo, um personagem que reflete Mark Zuckerberg e os barões das mídias sociais, vivido por Riz Ahmed (da série The Night Of). Seu personagem e o de Julia Stiles propõem discussões atuais interessantes, inexistentes nas produções anteriores. Outro aspecto vencedor do novo longa é seu elenco, que apresenta personagens complexos e suculentos, mais bem trabalhados do que esperaríamos, em especial os de Alicia Vikander (a nova queridinha de Hollywood) e do citado Ahmed. Tommy Lee Jones e Vincent Cassel estão descontraídos e parecendo se divertir, o que termina como forma de presente para nós.

No quesito adrenalina, Jason Bourne tampouco decepciona. O clímax de uma perseguição envolvendo um tanque da Swat em Las Vegas nos lembra porquê adoramos cinema entretenimento de verdade, criando uma sequência eletrizante e feita na marra, exaltando a grande diferença para os blockbusters tela verde da geração atual. Confesso não ser grande entusiasta da série de Bourne no cinema, mas o novo exemplar trouxe sabor agradável ao meu paladar, me fazendo desejar inclusive novos episódios. Se coubesse a mim o pitch para uma continuação, sem titubear tiraria do papel o crossover Bourne & Cross.

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Corta para 2016, onde vivemos numa era em que marcas pré-estabelecidas ditam regra em Hollywood, exibindo cada vez mais a latente falta de ideias. Se algo deu certo no passado e ainda existe certa associação no consciente coletivo, pode ter certeza de que produto voltará remodelado (e às vezes nem isso) para uma nova geração. Este mês tivemos, por exemplo, as voltas de Caça-Fantasmas e Tarzan, só para citar dois dos mais recentes produtos da cultura pop a ganhar novas roupagens.

Jason Bourne - CinePOP 2

A remodelagem de uma franquia não é necessariamente algo ruim, desde que o trabalho impresso na obra tenha criatividade e qualidade, e tais adjetivos podem ser facilmente empregados a Jason Bourne, quinto filme na franquia da Universal, e o quarto protagonizado por Damon. Quase dez anos após o afastamento e a rejeição em vestir novamente a pele do espião desmemoriado, o astro volta atrás dando aos fãs exatamente o que eles querem (recebendo o $eu, obviamente, em retribuição).

Dessa vez, a ação encontra Bourne a la Sylvester Stallone em Rambo 3 (1988), lutando de forma clandestina pelos submundos. Logo o herói é contatado por Nicky Parsons, personagem vivida pela quarta vez por Julia Stiles. A moça virou a típica whistleblower, no melhor estilo Edward Snowden (figura que além de servir de molde para a nova trama, é mencionada mais de uma vez ao longo do filme). A delatora possui inclusive seu próprio Julian Assange, na forma de Christian Dassault (Vinzenz Kiefer) – sentiram a analogia nada sutil dos nomes? No entanto, não pense você que Bourne se tornou um símbolo anti-americano. O personagem pode ser perseguido e escorraçado por seu governo, mas ao deparar-se com Dessault em determinada cena e ouvir do sujeito: “queremos as mesmas coisas”, Bourne não hesita ao disparar: “não estou do seu lado”, enfatizando a reprovação de tais ações na visão dos realizadores (roteiro de Paul Greengrass e Christopher Rouse).

Jason Bourne - CinePOP 3

Naturalmente, a personagem de Stiles se tornou a inimiga pública número 1 dos EUA, e consegue arrastar o desmemoriado espião de volta ao jogo, o mote para a trama parte daí. Em breve, Bourne terá em sua cola o novo diretor da CIA, Robert Dewey (Tommy Lee Jones), sua protegida, Heather Lee (Alicia Vikander) e o cão bravo da agência (Vincent Cassel). Porém, as coisas podem não ser tão simples, guardando para essa história algumas reviravoltas e revelações do passado, presente e futuro – incluindo surpresas com o próprio protagonista (não pense você que Bourne já lembrou de tudo sobre seu passado, sua mente é uma verdadeira caixinha de surpresas).

Jason Bourne - CinePOP 4

Contra o novo filme está a estrutura na qual se vê preso. Essa é essencialmente a mesma história que vimos nos filmes anteriores, contada pela quarta vez, o que resume-se em “Bourne é perseguido e foge pelo mundo”. É bem verdade que O Legado Bourne tentou quebrar esse molde, sem sucesso. Já que o povo queria mais do mesmo, aqui está. Mas Jason Bourne também possui um número significativo de prós, que sobressaem (e muito) os elementos negativos. Entre eles, o posicionamento do novo longa no cenário atual da política de segurança norte-americana. É incrível perceber os avanços que o mundo deu em menos de dez anos. Temos, por exemplo, um personagem que reflete Mark Zuckerberg e os barões das mídias sociais, vivido por Riz Ahmed (da série The Night Of). Seu personagem e o de Julia Stiles propõem discussões atuais interessantes, inexistentes nas produções anteriores. Outro aspecto vencedor do novo longa é seu elenco, que apresenta personagens complexos e suculentos, mais bem trabalhados do que esperaríamos, em especial os de Alicia Vikander (a nova queridinha de Hollywood) e do citado Ahmed. Tommy Lee Jones e Vincent Cassel estão descontraídos e parecendo se divertir, o que termina como forma de presente para nós.

No quesito adrenalina, Jason Bourne tampouco decepciona. O clímax de uma perseguição envolvendo um tanque da Swat em Las Vegas nos lembra porquê adoramos cinema entretenimento de verdade, criando uma sequência eletrizante e feita na marra, exaltando a grande diferença para os blockbusters tela verde da geração atual. Confesso não ser grande entusiasta da série de Bourne no cinema, mas o novo exemplar trouxe sabor agradável ao meu paladar, me fazendo desejar inclusive novos episódios. Se coubesse a mim o pitch para uma continuação, sem titubear tiraria do papel o crossover Bourne & Cross.

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