sábado , 2 novembro , 2024

Crítica | Joe Bell: Drama sobre homofobia com Mark Wahlberg tem potencial, mas é cheio de falhas

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Filme assistido durante o Festival de Toronto 2020

As pressões naturais nascidas na adolescência já sufocam por si só. Quando adicionadas à uma penosa carga que pode acompanhar a identidade de gênero, o seu peso escalona a níveis desproporcionais demais para que qualquer mente jovem e inocente possa aguentar. Joe Bell é um drama baseado em fatos reais que tenta extrair essa inexprimível dor dilacerada, cujas consequências drásticas deixaram marcas eternas em uma família norte-americana de classe média.

O silêncio das verdades não ditas, o medo de dizê-las e a solidão de uma vida rejeitada em virtude da homofobia são as impressões efêmeras de um drama que é cheio de potencial e que possui alguns dos confrontos mais necessários da atualidade. No entanto, o longa estrelado por Mark Wahlberg e Connie Britton se perde em uma trama que prefere explorar as sequelas na vida de um pai, ao invés de abordar a profunda dor de um rapaz que não viu saída em um mundo onde fora cruelmente excluído.

Dirigido por Reinaldo Marcus Green e roteirizado por Diana Ossana e Larry McMurtry (O Segredo de Brokeback Mountain), a cinebiografia possui em sua essência temas que são profundamente relevantes, como o bullying e a homofobia no ambiente estudantil, a rejeição paterna, a inércia escolar diante dos abusos físicos e mentais sofridos por alunos e o preconceito de maneira geral. Mas apenas apresentar os assuntos como parte inerente de sua trama não se torna o bastante para fazer de Joe Bell um drama memorável.

Tentando focar sua narrativa na luta de um pai com sua fracassada paternidade, o longa se entrega na mãos de Wahlberg, que embora tente romper as barreiras de uma atuação enrijecida e um tanto quadrada, é incapaz de cruzar suas limitações artísticas e caminhar em direção a uma caracterização mais delicada, sensível e sutil. Como de costume, tudo parece um tanto forçado no ator, que funciona bem em filmes de ação hiperbólicos – que distraem a audiência de sua performance bem mediana.

E perdendo em si mesmo, o longa muitas vezes parece se passar dentro da mente de seu protagonista e patina em sua própria argumentação, com a evolução do personagem acontecendo de forma muito tardia e fugaz. Insosso diante de uma história tão rica e dolorosa, Joe Bell corre o grande risco de se perder ao longo do tempo com uma facilidade absurda. E ainda que flerte com flashbacks do passado, que tentam dar voz aos anseios do jovem vítima de crimes homofóbicos, tudo isso ainda permanece abafado, com o cerne do filme ficando em segundo plano, sendo usado apenas para ancorar a história de um pai que não soube lidar com um filho gay. Aqui, a dor de quem perde parece ser pior do que daquele que se perdeu por não ser amado e respeitado.

Raso ao abordar a homofobia presente até mesmo dentro do ambiente familiar, o drama traz uma série de questionamentos reflexivos fundamentais para a construção de uma sociedade mais compassiva e acolhedora, mas não entrega as respostas para os seus confrontos, deixando a audiência à deriva em meio a uma experiência que poderia ter sido categórica e até mesmo catártica. Delicado em alguns breves momentos, mas pouco substancial, Joe Bell é a promessa feita por um pai em luto que infelizmente não foi cumprida.

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O silêncio das verdades não ditas, o medo de dizê-las e a solidão de uma vida rejeitada em virtude da homofobia são as impressões efêmeras de um drama que é cheio de potencial e que possui alguns dos confrontos mais necessários da atualidade. No entanto, o longa estrelado por Mark Wahlberg e Connie Britton se perde em uma trama que prefere explorar as sequelas na vida de um pai, ao invés de abordar a profunda dor de um rapaz que não viu saída em um mundo onde fora cruelmente excluído.

Dirigido por Reinaldo Marcus Green e roteirizado por Diana Ossana e Larry McMurtry (O Segredo de Brokeback Mountain), a cinebiografia possui em sua essência temas que são profundamente relevantes, como o bullying e a homofobia no ambiente estudantil, a rejeição paterna, a inércia escolar diante dos abusos físicos e mentais sofridos por alunos e o preconceito de maneira geral. Mas apenas apresentar os assuntos como parte inerente de sua trama não se torna o bastante para fazer de Joe Bell um drama memorável.

Tentando focar sua narrativa na luta de um pai com sua fracassada paternidade, o longa se entrega na mãos de Wahlberg, que embora tente romper as barreiras de uma atuação enrijecida e um tanto quadrada, é incapaz de cruzar suas limitações artísticas e caminhar em direção a uma caracterização mais delicada, sensível e sutil. Como de costume, tudo parece um tanto forçado no ator, que funciona bem em filmes de ação hiperbólicos – que distraem a audiência de sua performance bem mediana.

E perdendo em si mesmo, o longa muitas vezes parece se passar dentro da mente de seu protagonista e patina em sua própria argumentação, com a evolução do personagem acontecendo de forma muito tardia e fugaz. Insosso diante de uma história tão rica e dolorosa, Joe Bell corre o grande risco de se perder ao longo do tempo com uma facilidade absurda. E ainda que flerte com flashbacks do passado, que tentam dar voz aos anseios do jovem vítima de crimes homofóbicos, tudo isso ainda permanece abafado, com o cerne do filme ficando em segundo plano, sendo usado apenas para ancorar a história de um pai que não soube lidar com um filho gay. Aqui, a dor de quem perde parece ser pior do que daquele que se perdeu por não ser amado e respeitado.

Raso ao abordar a homofobia presente até mesmo dentro do ambiente familiar, o drama traz uma série de questionamentos reflexivos fundamentais para a construção de uma sociedade mais compassiva e acolhedora, mas não entrega as respostas para os seus confrontos, deixando a audiência à deriva em meio a uma experiência que poderia ter sido categórica e até mesmo catártica. Delicado em alguns breves momentos, mas pouco substancial, Joe Bell é a promessa feita por um pai em luto que infelizmente não foi cumprida.

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