Em tempo de Copa do Mundo, boa parte dos brasileiros só quer saber, falar e viver para o futebol. Em pleno 2022 o Brasil ainda dá feriado para dia dos jogos em que a seleção masculina de futebol entra em campo. Mesmo em tempo de pandemia, de recessão, de inflação alta: nada disso é capaz de frear o amor que os brasileiros têm por esse esporte. Entretanto, a relação que nós temos com o futebol e toda a incrível ascensão do time e seus dirigentes em se tornar uma das principais equipes do mundo não foi baseada apenas no talento. O porquê e o como dessa história toda chegou recentemente na plataforma da Prime Video com a série ‘Jogo da Corrupção’, uma temporada derivada da série ‘El Presidente’, que iniciou a investigação através da ficção sobre o que rola por debaixo das cartolas do futebol mundial.
Durante a Copa do Mundo de 1966, sediada na Inglaterra, o então presidente da CBD, Jean-Marie Havelange (Albano Jerónimo) percebe que enquanto a FIFA for presidida por europeus e sediada em países europeus, o Brasil será mero fantoche no jogo. Determinado a mudar as regras, Havelange tenta se aproximar dos dirigentes do continente, mas é sutilmente rechaçado por ser de um país emergente. Indignado com o que vê – e após os dirigentes roubarem sua ideia de implementação dos cartões vermelho e amarelo como punição em campo – Havelange decide concorrer à presidência da FIFA, e, para tal, começa uma campanha de uma década conquistando a confiança e o voto de todos os dirigentes africanos e sul-americanos, usando o Rei Pelé e a seleção como forma de moeda de troca. Após conseguir a presidência, Havelange não freia suas ambições, nem as formas corruptas de garantir resultados, esquemas e favores dentro do universo do futebol de maneira a atender suas aspirações pessoais, disfarçadas de boas intenções para o coletivo da seleção, que mais tarde explodiria como o escândalo do FIFAGATE.
Dividido em oito episódios com quase uma hora de duração cada, ‘Jogo da Corrupção’ é uma sórdida história de como até mesmo nosso amor pelo futebol é algo manipulado por pessoas que têm interesse que a gente se sinta assim. Absolutamente tudo é manipulável na série do Oscarizado Armando Bó (‘Birdman’), desde a escolha das sedes da Copa a uma viagem de turnê na África com a seleção brasileira tão somente para que Havelange ganhasse votos. Inspirado em eventos e pessoas reais, o roteiro de Bó não salva ninguém, mostrando, inclusive, como o submundo do crime e do jogo do bicho – encabeçado pelo bicheiro Castor de Andrade (Eduardo Moscovis) – são peças fundamentais de amparo ao sucesso desses cartolas.
Além da história suja da corrupção, o que chama a atenção em ‘Jogo da Corrupção’ é a caracterização dos personagens, cujas maquiagens tornam Andrés Parra e Albano Jerónimo irreconhecíveis, além de ambientar muito bem Maria Fernanda Cândido e Bukassa Kabengele ao longo das décadas. A direção de arte consegue recriar uma África em ebulição dos anos 1970 com riqueza de detalhes, bem como uma Europa em transformação e um Rio de Janeiro fervilhante nas noites cariocas.
Bem construído e viciante, ‘Jogo da Corrupção’ faz sentido para quem sabe e acompanhou os eventos reais que inspiraram a série. De fato, faz o espectador repensar a paixão cega pelo futebol e o fanatismo pela Copa do Mundo. Quer saber mais? Confira as entrevistas com o elenco aqui.