Para uma franquia cinematográfica que chega ao seu décimo filme em uma série ininterrupta, ou seja, sem reboots ou remakes, isso certamente só pode ser mérito de um fator: uma base de fãs fiéis e um retorno lucrativo altíssimo nas bilheterias. É o caso de ‘Jogos Mortais’, que mesmo tendo seu “final” proclamado lá em 2010, no sétimo filme, ainda conseguiu encontrar (ou não) justificativas para mais três entradas durante esse meio-tempo, sendo ‘Jogos Mortais X’, o décimo da saga, seu mais novo lançamento.
‘Jogos Mortais X’ é uma prequela da grande maioria de seus filmes, e situa-se entre os acontecimentos de ‘Jogos Mortais’ (2004) e ‘Jogos Mortais 2’ (2005). John Kramer (Tobin Bell), também conhecido como o serial killer Jigsaw, encontra-se lutando contra um câncer no cérebro, e com as esperanças já desfalcadas, recorre a um tratamento alternativo com um grupo de médicos que estão situados no México. Quando ele percebe que a operação cirúrgica de remoção do tumor foi uma farsa, Kramer busca vingança contra aqueles que lhe passaram a perna, e é aí que os jogos começam. Uma premissa um pouco mais diferente e que chama atenção daqueles já familiarizados com a franquia.
Os filmes de ‘Jogos Mortais’ nunca foram um exemplo de aclamação pela crítica, mas sempre teve uma fanbase consolidada ao redor do mundo, então é fácil apostar no sucesso de suas iterações. Mas óbvio, para uma saga cujo chamariz sempre foi o gore e torture porn, não são todos os públicos que aderem à esses filmes, mesmo os que estão inseridos no gênero do terror. ‘X’ se propõe a trazer um frescor à franquia, mas sem deixar seus principais atrativos de lado, assim como alguns de seus problemas.
A decisão de ter um protagonismo focado em John Kramer, que sempre foi o antagonista dos principais filmes, indica um senso de novidade que não se via há muito tempo nas produções da franquia. O ator Tobin Bell reprisa seu icônico papel e consegue carregar bem a trama, mas nota-se que, ao tentar inovar dentro de seu próprio jogo, a produção acaba por trilhar caminhos previsíveis e extremamente convencionais para o desdobramento de seus conflitos, assim como um terceiro ato sem grandes surpresas. Porém, nessa altura, é improvável que os fãs se importem com os furos de roteiro, visto que já são bem presentes pela saga.
O diretor Kevin Greutert, que já trabalhou na franquia anteriormente, conduz a primeira metade da trama para estabelecer e apresentar os elementos dramáticos e os personagens que serão trabalhados ao decorrer do filme. Como já mencionado, Bell consegue sustentar a narrativa e se destaca por ser a espinha dorsal do enredo, além de mostrar um lado mais “humano” (que não fora muito explorado anteriormente) de Kramer.
Quanto ao resto do elenco, ter a veterana da saga Shawnee Smith de volta como Amanda Young é de grande agrado, e sua personagem consegue ser bem aproveitada mesmo aparecendo apenas a partir do segundo ato do longa e também como sustento para o arco do personagem interpretado por Tobin Bell. Aos personagens periféricos, já é de praxe na franquia: personalidades unidimensionais que evidentemente vão servir apenas como peças no sádico jogo de Jigsaw.
Outra novidade no longa é a ambientação do filme, que dessa vez se passa em boa parte no México, mas não agrega em nada à trama. Se não fosse pela etnia de alguns atores e o incessante filtro amarelo, que já virou clichê em produções estadunidenses ao retratar o país, não seria nem notado pelo espectador. Para as armadilhas inéditas de Jigsaw, elas com certeza irão render momentos de agonia e repulsa até mesmo àqueles com estômago de ferro, com uma sequência que possivelmente irá entrar no hall das mais memoráveis da saga.
‘Jogos Mortais X’ é mais uma entrada na franquia que busca expandir o universo tão reverenciado pelos fãs com mais cenas violentas e macabras. Apesar de ter um roteiro com inconsistências mesmo ao tentar justificar-se como uma ideia diferente, é notável que o longa consegue ser melhor do que muitas das iterações que foram lançadas desde 2005.