Quem acompanha o que há de melhor na cultura pop (e, especificamente, os lançamentos de terror) lembra quando, em 2016, um determinado filminho de zumbi fez inesperado sucesso dentre o público. De lá pra cá, a galera pediu (e ganhou) a aguardada continuação do sucesso ‘Invasão Zumbi’, do diretor sul-coreano Sang-ho Yeon, quatro anos depois. Então, veio aquele vazio, de não sabermos mais o que esse diretor em ascensão estava planejando para a gente. Bom, após mais um hiato (prolongado pela pandemia, é verdade), chegou este ano, na plataforma da Netflix, o mais novo lançamento desse ótimo realizador: a ficção científica apocalíptica ‘Jung_e’.
Em um futuro pós-apocalíptico, no ano de 2135, o planeta Terra sucumbiu à destruição dos seres humanos. O que sobrou da humanidade tenta encontrar saídas para sobreviver em outros planetas e em outras condições, e uma guerra se formou entre os seres humanos e os robôs, confeccionados no período de transição. Rebeldes fundaram o que autodenominam como país de Adrian. Nessa guerra, foi de fundamental importância a desenvoltura da capitã Yung (Kim Hyun-joo), herói do povo. Porém, com sua morte em um momento crucial, cientistas conseguiram recuperar o cérebro da capitã, e passaram a desenvolver uma pesquisa para transferir a inteligência da capitã em uma nova versão robótica dela que fosse capaz de superar seu próprio desafio e acabar com a guerra. Anos se passaram e pouco se avançou na pesquisa, hoje chefiada pela cientista Seohyun (Kang Soo-youn, primeira sul-coreana a ser premiada em um festival europeu e que faleceu antes do lançamento desse filme), filha da capitã. Porém, quando os CEOs da empresa financiadora decidem descontinuar o projeto, um senso de urgência se apodera de Seohyun para salvar muito além do que sua pesquisa.
É inevitável falar que o que mais chama a atenção em ‘Jung_e’ é a qualidade impressionante dos efeitos visuais. Tudo é feito com tamanha técnica e perfeição, que nos faz imaginar quanto dinheiro foi gasto para confeccionar esse mundo pós-apocalíptico (e também nos faz pensar que esse seria um filme bom para ver na tela grande). Entretanto, se por um lado sobra efeito especial, por outro falta o principal: história.
Escrito e dirigido pelo próprio Sang-ho Yeon, o roteiro de ‘Jung_e’ passa a sensação de possuir apenas dois arcos dramáticos: o primeiro, com quase uma hora de duração, contextualiza a trama e fica num lenga-lenga sem fim da tal pesquisadora fazendo inúmeras simulações com o robô e falhando sempre no mesmo ponto, como se estivéssemos acompanhando o dia a dia dos personagens; o segundo arco, que acaba sendo super acelerado, traz a explicação da coisa toda, o desenvolvimento e a conclusão, tudo espremido num espaço de menos de quarenta minutos.
Muito bonito e impressionante, ‘Jung_e’ falha na sua desenvoltura, trazendo muita maquiagem e pouco conteúdo. O clima de ficção científica e ação ambientam bem o espectador dentro de uma história a la videogame, entretanto, é como se, ao jogarmos, ficássemos rodando em círculos voltando sempre ao início da partida sem conseguir avançar de fase.