sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | Justiça 2 – Aguardada Continuação de Série de Sucesso Eleva o Debate Através da Tensão Social

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Por mais que a ficção se esforce, é a realidade que consegue promover as histórias mais inimagináveis possíveis. É que enquanto o processo criativo acontece, é preciso pensar na coerência dos personagens, na lógica dos eventos, na precisão em que os eventos ocorrem, ou, do contrário, o espectador não irá acreditar. A vida real, ao contrário, é imprevisível, e é justamente esta imprevisibilidade – pro bem ou pro mal – que a torna a principal fonte de inspiração para as criações artísticas, como a sérieJustiça 2’, a aguardada sequência de ‘Justiça’, de 2016, e que chegou recentemente à plataforma da Globoplay.

justiça2.3



Assim como na primeira versão, aqui são quatro histórias, quatro protagonistas diferentes. Conhecemos Balthazar (Juan Paiva), um jovem batalhador, que trabalha como entregador de um restaurante no Distrito Federal e que, diante do iminente fechamento do restaurante e o agravamento da doença de sua avó, se vê obrigado a buscar outras formas de se sustentar… até que é acusado de ter assaltado o restaurante e, portanto, é preso. Em outro núcleo, Carolina (Alice Wegmann), uma jovem que fora violentada pelo tio Jayme (Murilo Benício) e que retorna agora para cuidar da saúde da mãe (Julia Lemmertz), mas que diante das novas investidas do tio, decide denunciá-lo à polícia. Conhecemos também Geíza (Belize Pombal), mãe solo, trabalhadora, moradora de Ceilândia, que tenta dar todo o suporte para a filha prestar o ENEM até o dia que um filhinho de papai, Renato (Filipe Bragança), decide se mudar para um local em frente ao seu apartamento e passa literalmente 24 horas com o som alto ligado; diante do estresse crescente, ela busca se defender, mas acaba matando o rapaz e é presa. Por fim, a morte do pai de Jordana (Paolla Oliveira) a faz conhecer Diuzinho (Alexandre Rodrigues), filho extraconjugal do pai. Desesperada com a possibilidade de dividir a herança, Jordana decide matar o rapaz e despachar o corpo, só que no caminho Milena (Nanda Costa) acaba roubando o carro e, por isso, é incriminada pelo assassinato.

Justiça 2’ tem uma estrutura interessante. Os primeiros quatro episódios iniciais apresentam os personagens e as histórias por trás deles; ao final de cada um, o espectador começa a ter um panorama de como essas histórias vão se entrelaçar no presente-futuro do enredo, pois todos os eventos acontecem numa mesma noite em Brasília. Criada e escrita por Manuela Dias, que foi responsável pela primeira temporada também, nesta segunda parte o desenvolvimento dos personagens e das tramas andam em dois movimentos paralelos: ao mesmo tempo em que os núcleos individuais se desdobram, as tramas se embolam dentro do enredo maior, mostrando, num aspecto macro, que quem é de má índole acaba invariavelmente andando com quem é de má índole, cedo ou tarde.

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kellen (leandra leal)

O que mais impressiona aqui é que embora dividido em 28 episódios, que variam entre 40 minutos e uma hora de duração, o roteiro consegue manter um clima de tensão constante e intenso, fazendo com que o espectador não tenha outra opção se não a de continuar assistindo. Em especial, o primeiro episódio, centrado em Balthazar, consegue manter um clima de “vai dar ruim” tão constante, que é agoniante. Poucas ficções conseguem atingir esse nível de entrega e conexão, o que demonstra a competência do elenco e também da criadora, em medir certinho como entregar a história ao público.

Justiça 2’ não é uma série fácil, pois mostra um lado de Brasil latente e difícil de olhar. Mas é o Brasil do dia a dia, que pergunta: justiça pra quem?

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Por mais que a ficção se esforce, é a realidade que consegue promover as histórias mais inimagináveis possíveis. É que enquanto o processo criativo acontece, é preciso pensar na coerência dos personagens, na lógica dos eventos, na precisão em que os eventos ocorrem, ou, do contrário, o espectador não irá acreditar. A vida real, ao contrário, é imprevisível, e é justamente esta imprevisibilidade – pro bem ou pro mal – que a torna a principal fonte de inspiração para as criações artísticas, como a sérieJustiça 2’, a aguardada sequência de ‘Justiça’, de 2016, e que chegou recentemente à plataforma da Globoplay.

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Assim como na primeira versão, aqui são quatro histórias, quatro protagonistas diferentes. Conhecemos Balthazar (Juan Paiva), um jovem batalhador, que trabalha como entregador de um restaurante no Distrito Federal e que, diante do iminente fechamento do restaurante e o agravamento da doença de sua avó, se vê obrigado a buscar outras formas de se sustentar… até que é acusado de ter assaltado o restaurante e, portanto, é preso. Em outro núcleo, Carolina (Alice Wegmann), uma jovem que fora violentada pelo tio Jayme (Murilo Benício) e que retorna agora para cuidar da saúde da mãe (Julia Lemmertz), mas que diante das novas investidas do tio, decide denunciá-lo à polícia. Conhecemos também Geíza (Belize Pombal), mãe solo, trabalhadora, moradora de Ceilândia, que tenta dar todo o suporte para a filha prestar o ENEM até o dia que um filhinho de papai, Renato (Filipe Bragança), decide se mudar para um local em frente ao seu apartamento e passa literalmente 24 horas com o som alto ligado; diante do estresse crescente, ela busca se defender, mas acaba matando o rapaz e é presa. Por fim, a morte do pai de Jordana (Paolla Oliveira) a faz conhecer Diuzinho (Alexandre Rodrigues), filho extraconjugal do pai. Desesperada com a possibilidade de dividir a herança, Jordana decide matar o rapaz e despachar o corpo, só que no caminho Milena (Nanda Costa) acaba roubando o carro e, por isso, é incriminada pelo assassinato.

Justiça 2’ tem uma estrutura interessante. Os primeiros quatro episódios iniciais apresentam os personagens e as histórias por trás deles; ao final de cada um, o espectador começa a ter um panorama de como essas histórias vão se entrelaçar no presente-futuro do enredo, pois todos os eventos acontecem numa mesma noite em Brasília. Criada e escrita por Manuela Dias, que foi responsável pela primeira temporada também, nesta segunda parte o desenvolvimento dos personagens e das tramas andam em dois movimentos paralelos: ao mesmo tempo em que os núcleos individuais se desdobram, as tramas se embolam dentro do enredo maior, mostrando, num aspecto macro, que quem é de má índole acaba invariavelmente andando com quem é de má índole, cedo ou tarde.

kellen (leandra leal)

O que mais impressiona aqui é que embora dividido em 28 episódios, que variam entre 40 minutos e uma hora de duração, o roteiro consegue manter um clima de tensão constante e intenso, fazendo com que o espectador não tenha outra opção se não a de continuar assistindo. Em especial, o primeiro episódio, centrado em Balthazar, consegue manter um clima de “vai dar ruim” tão constante, que é agoniante. Poucas ficções conseguem atingir esse nível de entrega e conexão, o que demonstra a competência do elenco e também da criadora, em medir certinho como entregar a história ao público.

Justiça 2’ não é uma série fácil, pois mostra um lado de Brasil latente e difícil de olhar. Mas é o Brasil do dia a dia, que pergunta: justiça pra quem?

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