segunda-feira , 10 fevereiro , 2025

Crítica | Kaitlyn Dever entrega uma de suas MELHORES performances na interessante minissérie ‘Vinagre de Maçã’

Em 2015, um fraudulento esquema veio à tona e colocou a influenciadora de bem-estar Belle Gibson no centro dos holofotes – mas não do jeito que ela desejava. Gibson foi exposta por ter mentido sobre os múltiplos diagnósticos de câncer que recebeu durante a vida, que tratou através de um estilo de vida extremamente natural e alternativo (algo que, como bem sabemos, rema contra a ciência moderna e pode representar um grave perigo para quaisquer pessoas que adotassem essa “política” de cura). Porém, após ter suas falcatruas evidenciadas na mídia mainstream, bem como mentiras acerca do destino do lucro feito com seu livro e seu aplicativo culinário, Gibson foi processada pelos crimes cometidos.

Agora, a Netflix nos apresenta a uma adaptação livre da brevíssima fama da influencer com a minissérie ‘Vinagre de Maçã’, que chegou recentemente ao catálogo da plataforma de streaming. Através de seis episódios, Kaitlyn Dever (‘Ninguém Vai Te Salvar’) encarna uma versão um tanto quanto diferenciada de Gibson e nos guia com uma performance espetacular através de um enredo que pode ter suas falhas, mas cumpre com o prometido quando nos voltamos ao gênero de biografias audiovisuais. É claro que, ao longo dos capítulos, nos deparamos com vários convencionalismos rítmicos e artísticos, mas nada que nos deixe totalmente alheios à ideia proposta – e, caso compremos essa viagem, o resultado é aprazível o suficiente para prestarmos atenção aos talentos que dominam as telinhas.

vinagre de maçã

Criada por Samantha Strauss e inspirada no romance de não-ficção The Woman Who Fooled the World, a minissérie tem como objetivo principal denunciar influencers de bem-estar que se aproveitam da ingenuidade alheia para lucrarem e ganharem fama. Não é surpresa que, para além da história de Belle, também acompanhemos Milla Blake (Alycia Debnam-Carey). Inspirada em Jessica Ainscough, a personagem começa sua jornada sendo diagnosticada com um câncer maligno que só poderá ser contido caso ela ampute o braço e se livre dos tumores que crescem pelo corpo; porém, Milla se recusa a adotar os procedimentos padrões da medicina e apostando fichas em um errôneo estilo que preza pela alimentação saudável e pela utilização em massa de propriedades antioxidantes de frutas, verduras e legumes para se curar – e, ao que tudo indica, é o que acontece.

A trama envolvendo Milla é um espelho para o ambicioso e desmedido desejo de Belle em se tornar famosa e sair da miserável vida que leva trabalhando em um escritório onde ninguém parece se importar com ela e ao lado de um parceiro que está ao seu lado apenas por conveniência. Dessa forma, ela mergulha em uma mentira que escala a níveis desastrosos, alegando que os múltiplos diagnósticos de câncer que recebeu, como mencionado alguns parágrafos acima, foram tratados naturalmente – e dando início a uma onda de procedimentos alternativos que não tiveram e não têm qualquer base científica ou empírica para salvar as pessoas.

vinagre de maçã

Dever rende-se a uma das melhores atuações de sua carreira e encarna a protagonista com solidez admirável – chegando a um nível criativo que se assemelha ao de Julia Garner na recente ‘Inventando Anna’. Aliás, é possível traçar paralelos entre as personagens vividas por ambas, visto que ambas posam como golpistas dentro de espectros distintos: enquanto Anna Sorokin prezava pelo único propósito de conquistar a high society estadunidense e adentrar a elite, Belle fingia um interesse por curar as pessoas de doenças terminais apenas para conseguir o mesmo objetivo. Todavia, ambas convergem para uma mesma mentalidade, fruto de um capitalismo predatório e de uma luta pela sobrevivência em uma selva social, o que as torna similares de uma forma distorcida e chocante.

Assista nossa entrevista: 


Dever não é a única a dominar os holofotes, dividindo o brilho com um elenco de peso que também conta com a supracitada Debnam-Carey, bem como Aisha Dee, Tilda Cobham-Hervey, Mark Coles Smith, Ashley Zukerman e vários outros atores e atrizes que fornecem complexidade e permitem que os espectadores se envolvam por completo (ao menos na maior parte do tempo) à história contada. Como se não bastasse, percebemos um apreço significativo de Strauss por uma veia mais cômica – mas não da maneira a que estamos acostumados, e sim pincelada com uma acidez bem-vinda e que nos ajuda a conectar com cada um dos personagens (uma jogada sagaz e que, volta e meia, ofusca os momentâneos deslizes técnicos e estruturais da obra).

É claro que, em se tratando de uma biografia seriada, Strauss e seu time criativo não conseguem se desvencilhar de todas as fórmulas do gênero – mas fazem o possível para transmutar clichês em investidas artísticas interessantes, como a multiplicidade orgânica de linhas de tempo ou a quebra da quarta parede para nos introduzir a cada capítulo. Ora, até mesmo a montagem funciona como um artifício inteligente para polir a dureza das biopics e assegurar um ritmo mais dinâmico e fluido à atração.

‘Vinagre de Maçã’ pode não estar totalmente livre de problemas estruturais, porém, certamente vale a pena por um trabalho espetacular do elenco e pela plena ciência do material de que a criadora de vale para levar aos assinantes da Netflix. E, mergulhando um pouco mais fundo, é possível ver que Strauss carrega consigo a missão de denunciar o mundo dos influenciadores de bem-estar que, com uma retórica e um charme exemplares, vendem a mentira em seu estado mais puro.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Em 2015, um fraudulento esquema veio à tona e colocou a influenciadora de bem-estar Belle Gibson no centro dos holofotes – mas não do jeito que ela desejava. Gibson foi exposta por ter mentido sobre os múltiplos diagnósticos de câncer que recebeu durante a vida, que tratou através de um estilo de vida extremamente natural e alternativo (algo que, como bem sabemos, rema contra a ciência moderna e pode representar um grave perigo para quaisquer pessoas que adotassem essa “política” de cura). Porém, após ter suas falcatruas evidenciadas na mídia mainstream, bem como mentiras acerca do destino do lucro feito com seu livro e seu aplicativo culinário, Gibson foi processada pelos crimes cometidos.

Agora, a Netflix nos apresenta a uma adaptação livre da brevíssima fama da influencer com a minissérie ‘Vinagre de Maçã’, que chegou recentemente ao catálogo da plataforma de streaming. Através de seis episódios, Kaitlyn Dever (‘Ninguém Vai Te Salvar’) encarna uma versão um tanto quanto diferenciada de Gibson e nos guia com uma performance espetacular através de um enredo que pode ter suas falhas, mas cumpre com o prometido quando nos voltamos ao gênero de biografias audiovisuais. É claro que, ao longo dos capítulos, nos deparamos com vários convencionalismos rítmicos e artísticos, mas nada que nos deixe totalmente alheios à ideia proposta – e, caso compremos essa viagem, o resultado é aprazível o suficiente para prestarmos atenção aos talentos que dominam as telinhas.

vinagre de maçã

Criada por Samantha Strauss e inspirada no romance de não-ficção The Woman Who Fooled the World, a minissérie tem como objetivo principal denunciar influencers de bem-estar que se aproveitam da ingenuidade alheia para lucrarem e ganharem fama. Não é surpresa que, para além da história de Belle, também acompanhemos Milla Blake (Alycia Debnam-Carey). Inspirada em Jessica Ainscough, a personagem começa sua jornada sendo diagnosticada com um câncer maligno que só poderá ser contido caso ela ampute o braço e se livre dos tumores que crescem pelo corpo; porém, Milla se recusa a adotar os procedimentos padrões da medicina e apostando fichas em um errôneo estilo que preza pela alimentação saudável e pela utilização em massa de propriedades antioxidantes de frutas, verduras e legumes para se curar – e, ao que tudo indica, é o que acontece.

A trama envolvendo Milla é um espelho para o ambicioso e desmedido desejo de Belle em se tornar famosa e sair da miserável vida que leva trabalhando em um escritório onde ninguém parece se importar com ela e ao lado de um parceiro que está ao seu lado apenas por conveniência. Dessa forma, ela mergulha em uma mentira que escala a níveis desastrosos, alegando que os múltiplos diagnósticos de câncer que recebeu, como mencionado alguns parágrafos acima, foram tratados naturalmente – e dando início a uma onda de procedimentos alternativos que não tiveram e não têm qualquer base científica ou empírica para salvar as pessoas.

vinagre de maçã

Dever rende-se a uma das melhores atuações de sua carreira e encarna a protagonista com solidez admirável – chegando a um nível criativo que se assemelha ao de Julia Garner na recente ‘Inventando Anna’. Aliás, é possível traçar paralelos entre as personagens vividas por ambas, visto que ambas posam como golpistas dentro de espectros distintos: enquanto Anna Sorokin prezava pelo único propósito de conquistar a high society estadunidense e adentrar a elite, Belle fingia um interesse por curar as pessoas de doenças terminais apenas para conseguir o mesmo objetivo. Todavia, ambas convergem para uma mesma mentalidade, fruto de um capitalismo predatório e de uma luta pela sobrevivência em uma selva social, o que as torna similares de uma forma distorcida e chocante.

Dever não é a única a dominar os holofotes, dividindo o brilho com um elenco de peso que também conta com a supracitada Debnam-Carey, bem como Aisha Dee, Tilda Cobham-Hervey, Mark Coles Smith, Ashley Zukerman e vários outros atores e atrizes que fornecem complexidade e permitem que os espectadores se envolvam por completo (ao menos na maior parte do tempo) à história contada. Como se não bastasse, percebemos um apreço significativo de Strauss por uma veia mais cômica – mas não da maneira a que estamos acostumados, e sim pincelada com uma acidez bem-vinda e que nos ajuda a conectar com cada um dos personagens (uma jogada sagaz e que, volta e meia, ofusca os momentâneos deslizes técnicos e estruturais da obra).

É claro que, em se tratando de uma biografia seriada, Strauss e seu time criativo não conseguem se desvencilhar de todas as fórmulas do gênero – mas fazem o possível para transmutar clichês em investidas artísticas interessantes, como a multiplicidade orgânica de linhas de tempo ou a quebra da quarta parede para nos introduzir a cada capítulo. Ora, até mesmo a montagem funciona como um artifício inteligente para polir a dureza das biopics e assegurar um ritmo mais dinâmico e fluido à atração.

‘Vinagre de Maçã’ pode não estar totalmente livre de problemas estruturais, porém, certamente vale a pena por um trabalho espetacular do elenco e pela plena ciência do material de que a criadora de vale para levar aos assinantes da Netflix. E, mergulhando um pouco mais fundo, é possível ver que Strauss carrega consigo a missão de denunciar o mundo dos influenciadores de bem-estar que, com uma retórica e um charme exemplares, vendem a mentira em seu estado mais puro.

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