sábado , 2 novembro , 2024

Crítica | Kathryn Newton e Kyle Allen brilham no despretensioso sci-fi romântico ‘The Map of Tiny Perfect Things’

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O gênero sci-fi caiu no gosto popular desde seu humilde nascimento no final do século XIX e, desde então, passou por diversas revoluções. Desde as profundas críticas sociais à ambição desmedida do homem até as anomalias que se escondem nas profundezas do universo, romances, livros e séries parecem ter um apreço interessante por narrativas desse tipo. Temos as construções clássicas como ‘Admirável Mundo Novo’ e ‘Blade Runner – O Caçador de Androides’, até comoventes rom-coms como ‘Questão de Tempo’ e irreverentes terrores como ‘A Morte Te Dá Parabéns’. Agora, a Amazon Prime Video nos presenteia com um divertido e tocante longa-metragem intitulado The Map of Tiny Perfect Things.

A premissa é bastante simples e parte de uma homenagem a ‘Feitiço do Tempo’, icônica obra estrelada por Bill Murray e Andie MacDowell que inclusive é diretamente referenciada aqui. Kyle Allen vive Mark, um jovem adolescente que está preso em um looping temporal e parece ter se acostumado com isso – aproveitando essa anormalidade para fazer o que bem entender (no caso, ajudar seus vizinhos e tentar conquistar uma menina que vê todos os dias na piscina local). Resignado em uma trágica credulidade de que as coisas não vão melhorar, ele faz o máximo para aproveitar um tempo que, outrora escorrendo por entre os dedos como areia, agora está imobilizado em um ciclo sem fim. Ele acredita que está sozinho – até as coisas mudarem drasticamente.

A verdade é que Mark está acompanhado de uma jovem garota chamada Margaret (Kathryn Newton em mais uma adição ao seu crescente e exponencial currículo), que muda a trajetória de seu dia e o leva a perceber que a dormente solidão pode, enfim, ser varrida para debaixo do tapete. É claro que, levando em conta que estamos falando de um romance cômico adolescente, a dupla constrói uma altercada amizade que logo se transforma em paixão e, obviamente, traz uma série de obstáculos que convergem para um final feliz – ou ao menos a um apaziguamento entre personalidades tão distintas. A princípio aproveitando esse relacionamento recém-formado em breves viagens de carro e em exageradas paradas em um restaurante de estrada, eles logo tentam descobrir o motivo de estarem revivendo o mesmo dia, compreendendo que, talvez, devam encontrar as pequenas coisas perfeitas que se escondem bem à vista.

Entre altos e baixos, o filme comandado por Ian Samuels não é uma ambiciosa amálgama de ambiguidades e de delineações escondidas em segundo plano – e nem quer ser. Sua propriocepção de uma construção metódica e formulaica é o que permite que nos conectemos a ele, ainda mais com uma charmosa química que se desenrola entre Newton e Allen. Por incrível que pareça, não lidamos com os extenuantes clichês de um capitão do time de futebol e uma garota nerd que se atraem por serem opostos e colocam tudo em xeque; pelo contrário, Mark e Margaret são parecidos em diversos âmbitos, ambos apaixonados por ficção científica e por teorias que vão para além da compreensão humana – além de serem boas pessoas que não perdem a chance de fazer uma ou outra piada com aqueles que conhecem.

À medida que se correlacionam em vários aspectos, também divergem quanto a planos futuros – se é que o futuro dará as caras em algum momento. Mark lida com a necessidade de sair desse looping e ajudar a família, que vem se desmantelando há alguns meses pela demissão injusta do pai e pelo afastamento involuntário da mãe, que passa horas e mais horas no hospital; enquanto isso, Margaret pretende ficar nesse ciclo inquebrável por um motivo compreensível: sua mãe está morrendo de câncer e ela não sabe mais quanto tempo terá ao lado dela. A jovem mantém isso em segredo até o final do segundo ato, contribuindo para a interessante reviravolta que espera o público no grand finale.

Enquanto o desnivelado roteiro de Lev Grossman acerta quando transfere seu foco para os protagonistas, peca em querer incrementar a trama principal com uma terminologia científico-quântica desnecessária e que pesa de uma forma equivocada no saldo final. A partir de certo momento, Margaret começa a falar sobre a possibilidade dos dois estarem presos na quarta dimensão, em uma espécie de hipercubo temporal no qual existe uma saída – e eles só precisam encontrar. Mas tais inflexões nunca seguem em frente do modo que deveriam, valendo-se do deus ex machina para carregá-los até um final previsível, mas bastante prático. Inclusive, a personagem de Newton parece cair em si em uma inexplicável e circinal realização que é sutil demais para ser compreendida com clareza.

De qualquer forma, os deslizes não apagam a atmosfera refrescante e convidativa é o suficiente para nos manter vidrados na tela até os créditos subirem. A atenuação dramática promovida pela sóbria fotografia de Andrew Wehde e a constância sonora da trilha construída por Tom Bromley permitem que embarquemos em uma segura montanha-russa emocional, transformando The Map of Tiny Perfect Things na pedida certa para o final de semana.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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A premissa é bastante simples e parte de uma homenagem a ‘Feitiço do Tempo’, icônica obra estrelada por Bill Murray e Andie MacDowell que inclusive é diretamente referenciada aqui. Kyle Allen vive Mark, um jovem adolescente que está preso em um looping temporal e parece ter se acostumado com isso – aproveitando essa anormalidade para fazer o que bem entender (no caso, ajudar seus vizinhos e tentar conquistar uma menina que vê todos os dias na piscina local). Resignado em uma trágica credulidade de que as coisas não vão melhorar, ele faz o máximo para aproveitar um tempo que, outrora escorrendo por entre os dedos como areia, agora está imobilizado em um ciclo sem fim. Ele acredita que está sozinho – até as coisas mudarem drasticamente.

A verdade é que Mark está acompanhado de uma jovem garota chamada Margaret (Kathryn Newton em mais uma adição ao seu crescente e exponencial currículo), que muda a trajetória de seu dia e o leva a perceber que a dormente solidão pode, enfim, ser varrida para debaixo do tapete. É claro que, levando em conta que estamos falando de um romance cômico adolescente, a dupla constrói uma altercada amizade que logo se transforma em paixão e, obviamente, traz uma série de obstáculos que convergem para um final feliz – ou ao menos a um apaziguamento entre personalidades tão distintas. A princípio aproveitando esse relacionamento recém-formado em breves viagens de carro e em exageradas paradas em um restaurante de estrada, eles logo tentam descobrir o motivo de estarem revivendo o mesmo dia, compreendendo que, talvez, devam encontrar as pequenas coisas perfeitas que se escondem bem à vista.

Entre altos e baixos, o filme comandado por Ian Samuels não é uma ambiciosa amálgama de ambiguidades e de delineações escondidas em segundo plano – e nem quer ser. Sua propriocepção de uma construção metódica e formulaica é o que permite que nos conectemos a ele, ainda mais com uma charmosa química que se desenrola entre Newton e Allen. Por incrível que pareça, não lidamos com os extenuantes clichês de um capitão do time de futebol e uma garota nerd que se atraem por serem opostos e colocam tudo em xeque; pelo contrário, Mark e Margaret são parecidos em diversos âmbitos, ambos apaixonados por ficção científica e por teorias que vão para além da compreensão humana – além de serem boas pessoas que não perdem a chance de fazer uma ou outra piada com aqueles que conhecem.

À medida que se correlacionam em vários aspectos, também divergem quanto a planos futuros – se é que o futuro dará as caras em algum momento. Mark lida com a necessidade de sair desse looping e ajudar a família, que vem se desmantelando há alguns meses pela demissão injusta do pai e pelo afastamento involuntário da mãe, que passa horas e mais horas no hospital; enquanto isso, Margaret pretende ficar nesse ciclo inquebrável por um motivo compreensível: sua mãe está morrendo de câncer e ela não sabe mais quanto tempo terá ao lado dela. A jovem mantém isso em segredo até o final do segundo ato, contribuindo para a interessante reviravolta que espera o público no grand finale.

Enquanto o desnivelado roteiro de Lev Grossman acerta quando transfere seu foco para os protagonistas, peca em querer incrementar a trama principal com uma terminologia científico-quântica desnecessária e que pesa de uma forma equivocada no saldo final. A partir de certo momento, Margaret começa a falar sobre a possibilidade dos dois estarem presos na quarta dimensão, em uma espécie de hipercubo temporal no qual existe uma saída – e eles só precisam encontrar. Mas tais inflexões nunca seguem em frente do modo que deveriam, valendo-se do deus ex machina para carregá-los até um final previsível, mas bastante prático. Inclusive, a personagem de Newton parece cair em si em uma inexplicável e circinal realização que é sutil demais para ser compreendida com clareza.

De qualquer forma, os deslizes não apagam a atmosfera refrescante e convidativa é o suficiente para nos manter vidrados na tela até os créditos subirem. A atenuação dramática promovida pela sóbria fotografia de Andrew Wehde e a constância sonora da trilha construída por Tom Bromley permitem que embarquemos em uma segura montanha-russa emocional, transformando The Map of Tiny Perfect Things na pedida certa para o final de semana.

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