Na década passada, Katy Perry foi sagrada um dos pilares do pop contemporâneo ao aliar-se a produtores e compositores de alto escalão para faixas memoráveis e atemporais e que a firmariam como uma das maiores hitmakers de todos os tempos. Afinal, quando pensamos no nome da performer, automaticamente nos lembramos das dançantes faixas “Roar”, “Dark Horse”, “Last Friday Night”, “Teenage Dream” e tantas outras que, até hoje, permanecem nas nossas playlists e na memória da cultura pop.
Todavia, é inegável que Perry passou por uma dura fase com o lançamento de ‘Witness’, seu quinto álbum de estúdio, apostando fichas no deep-house e no synth-pop para um subestimado compilado que, à parte de algumas tracks descartáveis, é sólido e apresenta uma faceta muito interessante e mais amadurecida de sua identidade sonora e visual. O fracasso crítico e comercial, entretanto, foi seguido de ‘Smile’, que mal conseguiu emplacar nas paradas norte-americanas e a trouxe de volta para sua estética circense e despreocupada – e muitos encararam essa como a última “pá de cal” na carreira de Perry.
Eventualmente, é notável como a fanbase da artista permanece fiel a suas incursões – e, quatro anos depois de seu último compilado de originais, ela está pronta para abrir um novo capítulo. E a primeira incursão vem com a aguardada “Woman’s World”, que a reúne com seu colaborador de longa data, o controverso Dr. Luke, para uma infusão reverberante de puro escapismo musical.
A faixa é permeada pelas conhecidas progressões do synth-pop, nutrindo de similaridades com as demarcações pungentes de faixas como “Stupid Love” e “Enigma”, presentes no álbum ‘Chromatica’, de Lady Gaga, pinceladas com versos antêmicos que prezam pela força e pelo empoderamento femininos em um convite às pistas de dança e à uma saudosita jornada por aquilo que Perry já nos entregou em sua carreira. Enquanto as estrofes que precedem o refrão partem de construções mais óbvias, o chorus explode em um frenético up-tempo que nos rememora do motivo de conseguirmos nos conectar com tanta força com as músicas da performer.
É claro que, considerando o escopo fonográfixo dos últimos anos, não há muito de novo a ser visto por aqui – mas isso não importa: Katy sabe que não irá reinventar a roda, e sim promover um discurso testamentário a si própria e às influências oitentistas que traz para a faixa, à medida que aposta em uma fórmula familiar e narcótica do início ao fim (e, como destaque, temos o mimético verso “é um mundo de mulheres, e você tem sorte de viver nele“).
Abrindo espaço para uma celebração de artistas como Diana Ross e Gloria Gaynor em uma revitalização atemporal e contínua de uma das melhores épocas da música, “Woman’s World” cumpre com o que promete e reflete um sólido início para o que pode ser uma das eras mais bem-sucedidas de Katy Perry.