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Exibido no Festival de Berlim do ano passado, o longa-metragem sul-coreano, diretamente lançado na Netflix, Kill Boksoon nos leva até a história de uma mulher que vive da violência como seu ganha pão e em seu presente enfrenta um enorme conflito existencial já que na vida pessoal enfrenta uma luta onde sempre perde, no relacionamento conturbado com a filha adolescente. Escrito e dirigido pelo ator e cineasta sul-coreano Byun Sung-hyun, o projeto é recheado de camadas profundas, ironias do mundo, cenas de ação de tirar o fôlego, duelos entre mestre e aprendiz, tudo que um bom filme de ação pode oferecer e com uma narrativa que vai do conflito ao clímax com ótimo desenvolvimento, deixando muitas vezes a violência em segundo plano para dar espaço a conflitos maternais.
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Na trama, conhecemos uma impecável, e já experiente, matadora de aluguel chamada Gil Boksoon (Jeon Do-yeon), uma verdadeira lenda na organização que trabalha sem nunca ter falhado em uma única missão sequer. Ela é mãe da adolescente Gil Jae Yeong (Si-ah Kim), uma jovem que passa por alguns conflitos na escola por conta de sua sexualidade. Para a filha, Gil diz que trabalha em uma empresa de organização de eventos. Ambas vivem em um luxuoso apartamento e tem uma vida muito confortável. As duas tem uma relação complicada no presente, o que deixa Gil em grande conflito. Quando as coisas começam a dar errado no seu trabalho, ela se vê envolvida em uma cilada onde precisará encarar as consequências de seu atos a partir disso com o seu ex-mentor e dono da empresa de assassinos de aluguel Cha Min Kyu (Sol Kyung-gu).
Será que até a melhor faca fica cega com o tempo? Partindo da crise existencial de uma protagonista que não consegue anteceder os passos no relacionamento com a filha, Kill Boksoon é um filme que tem um arco introdutório dúbio mas logo as peças se encaixam. Então, paciência num primeiro momento é importante! Talvez seja pela troca de perspectiva, não é um filme onde a ação rola solta cheia de diálogos na linha da ironia. Tem isso tudo mas uma camada, ligada à maternidade, vai nascendo e se torna a base dos conflitos. O roteiro é muito bem escrito, vemos claramente uma definição dos conflitos que são bem desenvolvidos através da ótima construção dos personagens.
Violento sem perder a ternura jamais. Os laços aqui vão desde a relação entre mãe e filha, até mentor e aprendiz, ou mesmo na linha do ‘amigos, amigos, negócios à parte’. Sim, o projeto é também sobre laços que se quebram ou podem se quebrar! Se aprofundando no primeiro ponto, o conflito que mais se estabelece, encontramos a protagonista confortável na perigosa profissão que escolheu, só que essa perspectiva muda completamente quando está em casa e tenta uma relação mais próxima com a filha. Isso há coloca em conflito, dentro de um dilema: se larga ou não a vida que leva por conta da filha.
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Kill Boksoon não perde um segundo sua essência de filme de ação, mesmo ficando em segundo plano em alguns momentos. As cenas, muito bem dirigidas, devem empolgar o espectador. Com as duas facetas modeladas em um roteiro engenhoso, a do lado da violência e a do lado da ternura, quem ganha é o espectador.