Não é de hoje que o próprio público vem debatido a saturação do mercado dos super-heróis. Com tanto filme, universos, franquias, colecionáveis e personagens sendo injetados pela indústria anualmente, os consumidores estão com cada vez menos tempo para desfrutar um novo lançamento desse tipo. Mas, mesmo assim, quando a história ou o personagem são bons, mesmo com a saturação do mercado o filme consegue se destacar, como aconteceu com os últimos ‘Homem-Aranha: Através do Aranhaverso’. Infelizmente, não é o caso do lançamento da semana nos cinemas, ‘Kraven: O Caçador’, filme solo do universo da Marvel mas que não chega perto das outras produções da marca.
Sergei (Levi Miller) e Dimitri (Billy Barratt) acabaram de perder a mãe, por isso o pai deles, Nikolai Kravinoff (Russell Crowe), decide levá-los em uma caçada na África. Durante a viagem, Sergei sofre um acidente e o sangue de um leão é misturado com o seu, conjuntamente com um líquido milagroso oferecido pela jovem Calypso (Diaana Babnicova). Anos se passam e por ter sobrevivido a esse acidente Sergei hoje tem meio que superpoderes e atende pelo nome de Kraven (Aaron Taylor-Johnson, só que sua relação com seu pai grosseiro está cada vez pior. Quando descobre uma lista de criminosos que caçam animais e seu irmão Dimitri (Fred Hechinger) é sequestrado pelo grupo de Rino (Alessandro Nivola), Kraven vai atrás de Calypso (Ariana DeBose) para pedir sua ajuda para conseguir mais antídoto que o deixe indestrutível e, assim, consiga derrotar os vilões.
‘Kraven: O Caçador’ teve exibição prévia de trechos na CCXP este ano, onde basicamente mostrou apenas as cenas de ação. E foi uma escolha acertada, pois as cenas de luta, perseguição e ação são realmente a melhor coisa do filme. Bem coreografadas envoltas num ambiente luxuoso de grande investimento. Nestas sequências dá para ver o empenho do elenco em entregar tudo de si em músculos e socos.
Infelizmente, a pancadaria não segura a onda do filme, e o espectador provavelmente se sentirá entre o confuso e o entediado. O roteiro de Richard Wenk, Art Marcum e Matt Holloway passa a sensação de que o filme está sempre começando, sempre na introdução, e não começa efetivamente. Ao chegarmos no fim, a impressão é que o filme só vai começar num próximo – caso haja um próximo.
Dividido basicamente em dois tempos – adolescência e adulto – o roteiro é confuso, recheado de diálogos e situações previsíveis até mesmo para quem não acompanha as histórias da Marvel. E aí entra o diretor J.C. Chandor que tomou decisões curiosas para o projeto, conferindo ao tempo adolescente uma recriação da saga Crepúsculo (sério, os efeitos são os mesmos, a gelatina azul para empalidecer a pele, o protagonista correndo pela floresta e subindo nas árvores) com um quê de ‘Mutantes’ da Record; para a fase adulta, o diretor optou por uma vibe das novelas turcas, colocando homens de terno caro quase sensualizando em cena, mas com cara de mau o suficiente para distinguirmos quem é vilão e quem é bem-intencionado. Mas nenhum dos personagens tem valores confiáveis, então, fica difícil até de torcer pro protagonista.
Aleatório e perdido em si mesmo, ‘Kraven: O Caçador’ entrega cenas de ação bem-feitas e a beleza abdominal de Aaron Taylor-Johnson como atrativos para o espectador conhecer o universo paralelo desse herói-vilão da Marvel.