domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Kristine Froseth e Diana Silvers brilham no irregular suspense dramático ‘Birds of Paradise’

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Em sua mais nova investida original, a Amazon Prime Video resolveu revisitar o conturbado mundo do balé artístico com o título Birds of Paradise. Pegando elementos do aclamado thriller psicológico ‘Cisne Negro’, que rendeu à Natalie Portman um Oscar de Melhor Atriz, o longa-metragem dirigido e escrito por Sarah Adina Smith gira em torno de duas meninas que disputam pelo grande prêmio de uma prestigiada academia de dança francesa – que lhes dá a oportunidade de concorrer a um sólido contrato de apresentação solo na Ópera Nacional de Paris. Entretanto, apesar de pontos muito concisos, o resultado da obra é um tanto aquém do esperado – não pelas mensagens que passa, mas sim pela frenética condução da narrativa e por elementos previsíveis demais para mergulharmos na catarse prometida.

Smith não é nenhuma estreante no cenário televisivo e fílmico, mesmo não tendo uma carreira tão prolífica quanto imaginamos. Ela já emprestou suas habilidades para as séries ‘Room 104’ e ‘Looking for Alasca’, além de ter comandado o conhecido drama ‘Hanna’, também da Amazon. Ao longo de sua carreira, a realizadora conquistou reconhecimento significativo e, retomando parceria com a gigante do streaming, tinha todos os ingredientes de que precisava para revitalizar o apunhalado mundo jovem-adulto. A ideia de ficar responsável pelo roteiro lhe deu liberdade para fazer o que bem quisesse, mas Smith acaba esbarrando em algumas fórmulas que mancham a estrutura da produção e que, ao garantir uma trama fora do comum, caiu nas próprias falácias e tropeçou no meio do caminho.



Birds of Paradise é baseado no ovacionado romance Bright Burning Stars, de A.K. Small, e acompanha a jornada de duas garotas que se tornam melhores amigas na companhia de dança e observam, impotentes, que os laços que criaram não são tão fortes para impedir as mazelas da ambição e da fama. Aqui, Kristine Froseth interpreta Marine Elise Durand, conhecida por sua iconográfica perfeição como bailarina, que carrega traumas do suicídio do irmão gêmeo e da pressão imposta por pais tóxicos e narcisistas; em outro espectro, Diana Silvers dá vida a Kate Sanders, estudante estadunidense que ganhou uma bolsa para estudar em Paris e que enfrenta os problemas de ser a “forasteira”, chamada pejorativamente de Virginia pela austera Madame Brunelleschi (Jacqueline Bisset), dona da escola.

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Enquanto esperávamos que os obstáculos se desenrolariam entre duas personagens tão diferentes, eles também aparecem na sistematização do enredo: Marine e Kate não se dão bem no princípio e ascendem a um relacionamento que não é explorado e que só deslancha depois de se tornarem confidentes uma da outra. Porém, essa delineação é jogada profusamente no primeiro ato, levando o público a ficar imaginando como elas viraram amigas – e quais seriam os corolários disso. Afinal, as duas fazem um juramento de que não aceitariam o prêmio caso ambas não fossem condecoradas, mas sabemos que as coisas não funcionam a si.

As protagonistas são movidas pela necessidade de se provarem, talvez não só a si mesmas, mas àqueles que as lembram o tempo todo de que não serão nada na vida caso não consigam a honraria. Marine é filha de um magnata da indústria e de uma embaixadora cuja ideia de sucesso é a submissão dos outros perante os desejos que têm; qual sua surpresa quando a jovem mostra um lado diferente daquele que esperaríamos, não sabendo lidar com o luto de ter perdido o irmão e desdenhando de um estrelato que nunca esteve sem seus planos. Suas inflexões cínicas são o que pincelam uma construção de ponta, auxiliadas de uma rendição memorável de Froseth (que, projeto após projeto, demonstra uma versatilidade invejável).

Kate, por sua vez, lida com a distância de seu pai e os olhares tortos que recebem dos outros alunos – como Gia (Eva Lomby), uma das melhores estudantes da academia que vê seu reino ameaçado e deve agira -, além do fato de não falar francês e de ter a anatomia corporal diferente das outras bailarinas. Assim como Froseth, Silvers mostra-se como uma tour-de-force a ser notada e se afasta de sua atuação no terror ‘Ma’ e da comédia ‘Space Force’ para uma complexa arquitetura que analisa todos os pontos da psique humana. Kate compra a ideia de ter uma melhor amiga e alguém com quem conversar – e até descobre os segredos do submundo artístico parisiense, mas logo mostra sua verdadeira faceta ao passar por cima de todos para se transformar numa pérola reluzente e mortal.

A verdade é que Smith não consegue trazer à vida uma reviravolta admirável o bastante para fisgar os espectadores por completo. A trama é apaixonada demais pelas reflexões psicológicas das quais se vale e, contraditoriamente, se esquece do lado mais humano – como se as criações fossem meros objetos de análise científica e nada além disso. Porém, na mesma medida que deixa as personas de lado, demonstra um afeto intrínseco por um espetáculo visual estonteante, que mistura cores complementares e usa um jogo de luzes narcótico e movido pelo desespero do fracasso.

Birds of Paradise encontra problemas de ritmo e de história e, por esse motivo, desliza nas irregularidades da própria ambição desmedida. Todavia, no final das contas, o longa vale a pena pelas incríveis atuações de um elenco irretocável e da gostinho de quero mais que deixa com a ambígua conclusão.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Em sua mais nova investida original, a Amazon Prime Video resolveu revisitar o conturbado mundo do balé artístico com o título Birds of Paradise. Pegando elementos do aclamado thriller psicológico ‘Cisne Negro’, que rendeu à Natalie Portman um Oscar de Melhor Atriz, o longa-metragem dirigido e escrito por Sarah Adina Smith gira em torno de duas meninas que disputam pelo grande prêmio de uma prestigiada academia de dança francesa – que lhes dá a oportunidade de concorrer a um sólido contrato de apresentação solo na Ópera Nacional de Paris. Entretanto, apesar de pontos muito concisos, o resultado da obra é um tanto aquém do esperado – não pelas mensagens que passa, mas sim pela frenética condução da narrativa e por elementos previsíveis demais para mergulharmos na catarse prometida.

Smith não é nenhuma estreante no cenário televisivo e fílmico, mesmo não tendo uma carreira tão prolífica quanto imaginamos. Ela já emprestou suas habilidades para as séries ‘Room 104’ e ‘Looking for Alasca’, além de ter comandado o conhecido drama ‘Hanna’, também da Amazon. Ao longo de sua carreira, a realizadora conquistou reconhecimento significativo e, retomando parceria com a gigante do streaming, tinha todos os ingredientes de que precisava para revitalizar o apunhalado mundo jovem-adulto. A ideia de ficar responsável pelo roteiro lhe deu liberdade para fazer o que bem quisesse, mas Smith acaba esbarrando em algumas fórmulas que mancham a estrutura da produção e que, ao garantir uma trama fora do comum, caiu nas próprias falácias e tropeçou no meio do caminho.

Birds of Paradise é baseado no ovacionado romance Bright Burning Stars, de A.K. Small, e acompanha a jornada de duas garotas que se tornam melhores amigas na companhia de dança e observam, impotentes, que os laços que criaram não são tão fortes para impedir as mazelas da ambição e da fama. Aqui, Kristine Froseth interpreta Marine Elise Durand, conhecida por sua iconográfica perfeição como bailarina, que carrega traumas do suicídio do irmão gêmeo e da pressão imposta por pais tóxicos e narcisistas; em outro espectro, Diana Silvers dá vida a Kate Sanders, estudante estadunidense que ganhou uma bolsa para estudar em Paris e que enfrenta os problemas de ser a “forasteira”, chamada pejorativamente de Virginia pela austera Madame Brunelleschi (Jacqueline Bisset), dona da escola.

Enquanto esperávamos que os obstáculos se desenrolariam entre duas personagens tão diferentes, eles também aparecem na sistematização do enredo: Marine e Kate não se dão bem no princípio e ascendem a um relacionamento que não é explorado e que só deslancha depois de se tornarem confidentes uma da outra. Porém, essa delineação é jogada profusamente no primeiro ato, levando o público a ficar imaginando como elas viraram amigas – e quais seriam os corolários disso. Afinal, as duas fazem um juramento de que não aceitariam o prêmio caso ambas não fossem condecoradas, mas sabemos que as coisas não funcionam a si.

As protagonistas são movidas pela necessidade de se provarem, talvez não só a si mesmas, mas àqueles que as lembram o tempo todo de que não serão nada na vida caso não consigam a honraria. Marine é filha de um magnata da indústria e de uma embaixadora cuja ideia de sucesso é a submissão dos outros perante os desejos que têm; qual sua surpresa quando a jovem mostra um lado diferente daquele que esperaríamos, não sabendo lidar com o luto de ter perdido o irmão e desdenhando de um estrelato que nunca esteve sem seus planos. Suas inflexões cínicas são o que pincelam uma construção de ponta, auxiliadas de uma rendição memorável de Froseth (que, projeto após projeto, demonstra uma versatilidade invejável).

Kate, por sua vez, lida com a distância de seu pai e os olhares tortos que recebem dos outros alunos – como Gia (Eva Lomby), uma das melhores estudantes da academia que vê seu reino ameaçado e deve agira -, além do fato de não falar francês e de ter a anatomia corporal diferente das outras bailarinas. Assim como Froseth, Silvers mostra-se como uma tour-de-force a ser notada e se afasta de sua atuação no terror ‘Ma’ e da comédia ‘Space Force’ para uma complexa arquitetura que analisa todos os pontos da psique humana. Kate compra a ideia de ter uma melhor amiga e alguém com quem conversar – e até descobre os segredos do submundo artístico parisiense, mas logo mostra sua verdadeira faceta ao passar por cima de todos para se transformar numa pérola reluzente e mortal.

A verdade é que Smith não consegue trazer à vida uma reviravolta admirável o bastante para fisgar os espectadores por completo. A trama é apaixonada demais pelas reflexões psicológicas das quais se vale e, contraditoriamente, se esquece do lado mais humano – como se as criações fossem meros objetos de análise científica e nada além disso. Porém, na mesma medida que deixa as personas de lado, demonstra um afeto intrínseco por um espetáculo visual estonteante, que mistura cores complementares e usa um jogo de luzes narcótico e movido pelo desespero do fracasso.

Birds of Paradise encontra problemas de ritmo e de história e, por esse motivo, desliza nas irregularidades da própria ambição desmedida. Todavia, no final das contas, o longa vale a pena pelas incríveis atuações de um elenco irretocável e da gostinho de quero mais que deixa com a ambígua conclusão.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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