Se o dark pop possui um grande nome, este é o de Lady Gaga.
Desde sua estreia oficial no circuito fonográfico com ‘The Fame’ até os dias de hoje, a titânica musicista nunca pensou duas vezes antes de se jogar de cabeça na transformação do grotesco e do sombrio em arte. Através de uma discografia quase imaculada, a cantora, compositora e produtora já nos entregou peças musicais memoráveis que partiram dessas inflexões, como “Bad Romance”, “Judas”, “Bloody Mary” e tantas outras – pincelando tais escopos narrativos e estéticos com instrumentais pesados e provocantes.
Qual foi nossa alegria quando, quatro anos depois de seu último compilado de originais, ela anunciou que estava pronta para oficializar uma nova era – tendo como carro-chefe a aguardada faixa “Disease”. Gaga havia confirmado o lançamento do lead single de seu sétimo álbum de estúdio (ainda sem título oficial) há algum tempo, durante a turnê de promoção de ‘Coringa: Delírio a Dois’ – e, neste último dia 25 de outubro, a performer concretizou o debute do que apenas podemos encarar como uma das melhores canções de 2024 e uma das mais bem estruturadas de sua carreira.
Ao longo de 3 minutos e 49 segundos, Gaga nos guia a uma jornada que emula eras anteriores, mas sem deixar de apostar em uma originalidade empolgante. Ao aliar-se com nomes como Michael Polansky, Andrew Watt e Cirkut para uma arquitetura de tirar o fôlego, ela aposta fichas numa mistura de pop industrial, electro-clash e synth-pop que urgem em uma exploração inesperada do significado do amor. Versos como “veneno por dentro, eu poderia ser seu antídoto essa noite” e “posso sentir o cheiro da sua doença”, de fato, não poderiam ser entregues com tanta vontade e fervor por ninguém além dessa artista única
É notável como Gaga brinca dentro de sua zona de conforto em um retorno drástico às raízes que a colocaram no centro dos holofotes – mas faz isso de modo inesperado, amadurecido e revolucionário dentro das bases que ajudou a repopularizar no final dos anos 2000 e começo dos anos 2010. Desde o impactante arranjo do baixo, dos sintetizadores e de uma bateria poderosa, às incríveis camadas vocais (que misturam rendições quase teatrais e fraseamentos falados que já se tornaram marca registrada de sua identidade) e a uma performance aplaudível, todas as engrenagens se encaixam com perfeição invejável.
Apresentando uma amálgama diabolicamente equilibrada de referências a ‘The Fame Monster’ e a ‘Born This Way’, “Disease” abre a nova era de Lady Gaga com uma força irrefreável e um comprometimento arrepiante – sendo lançada em uma época certeira e revelando que nossa Mother Monster ainda tem muito a nos contar.