quarta-feira, abril 24, 2024

Crítica | Late Night: Emma Thompson é a Miranda Priesley dos talks shows em comédia hilária com cheiro de Globo de Ouro

O riso é um santo remédio. A arte de fazer rir, um desafio mais árduo do que se possa imaginar. E no Festival de Sundance, algumas das comédias mais inusitadas ganham espaço, trazendo ao público a chance de rir do peculiar, do estranho e do incomum. No caso de Late Night, nova comédia dirigida por Nisha Granata (Transparent), o assunto pode até ser bem comum – os bastidores de um talk show em frangalhos -, mas é na inteligência da construção cômica que o longa cresce, nos entregando uma Emma Thompson que deixa o drama de lado, para fazer rir até o mais sem graça dos seres humanos.

Com sacadas rápidas e um humor ácido temperado por uma sutileza inesperada, Late Night traz as características bem particulares da comédia de Mindy Kaling. Dona do seu próprio programa, The Mindy Project, ele assume à frente do roteiro, em uma espécie de reflexão saudosa e fictícia dos seus próprios primeiros anos como uma escritora cômica. Trazendo à tona a entusiasmada e efusiva demais Molly Patel, ela encara o texto e a atuação simultaneamente, em uma narrativa que conta a história de Katherine (Emma Thompson), a Miranda Priesley dos talk shows. Implacável e detestável, ela é um delírio para a audiência, que se esbalda com piadas que só uma mulher seria capaz de fazer. Transversal em suas tiradas ríspidas e sarcásticas, seu humor conquista a todos, sem distinção de gênero.

E na tentativa de recuperar seu fôlego como apresentadora, após incansáveis anos à frente do Tonight, a veterana vai – finalmente – romper algumas barreiras, a fim de manter sua audiência e o programa que tanto amou, à medida que lida com uma mesa de roteiristas machistas e pouco criativos e com a chegada da novata e falante Molly, contratada para cobrir a cota de mulheres “de cor”. Dentro desse simples contexto, o humor é escalonado em piadas que satirizam o sexismo, alfinetam a falta de representatividade nas grandes corporações, fazendo também duras críticas ao uso irresponsável dessa premissa, apenas para cumprir tabela.

Com uma dinâmica extasiante diante do público, o elenco se encaixa como uma luva. Embora se vejam como constantes adversários, cada qual é capaz de nos cativar por sua própria genialidade. Tentando salvar seus respectivos empregos e o de sua chefe, eles digladiam com ideias ruins, alternativas inovadoras e quebra de preconceitos e paradigmas no que tange essa tal arte de fazer rir. Deixando o vilanismo de lado, Late Night apresenta os personagens como essencialmente humanos, difíceis de lidar, cheios de complexos, mas dispostos a tentar melhorar.

Aproveitando a deixa como roteirista, Kaling faz suas próprias alfinetadas, fazendo referência ao fato de ser uma mulher de origem indiana, distante dos clássicos padrões de beleza impostos. Abordando também temáticas político sociais pertinentes ao contexto contemporâneo, a produção faz rir por sua substancialidade. Ao invés de partir para o campo da comédia escrachada, blasé e vazia – que se perde e é rapidamente esquecível, ela constrói uma narrativa sólida para além das risadinhas, proporcionando uma genuína experiência cômica em sua totalidade. Contracenando com Thompson com naturalidade, a abordagem do filme fica ainda melhor, fazendo das cenas compartilhadas um deleite para os olhos.

Inteligente e pontual, Late Night é o tipo de comédia que, quanto mais vista, melhor fica. Com cheiro de Globo de Ouro, a produção dominada por mulheres – tanto fora como dentro da trama – é hilária, aponta as rachaduras sociais que o ambiente de trabalho ainda resguarda para o sexo feminino e minorias em geral e mantém seu fôlego renovado a cada tirada. Hilário, o filme vale aquela sua melhor risada.

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