Filmes de assalto partem de uma premissa muito simples e que preza por reviravoltas inesperadas que mantêm o público envolvido do começo ao fim. Podemos citar, por exemplo, ‘O Plano Perfeito’, com Denzel Washington e Jodie Foster, a clássica franquia ‘Onze Homens e um Segredo’ e seu spin-off ‘Oito Mulheres e um Segredo’, e o atemporal ‘Um Peixe Chamado Wanda’ como alguns dos melhores títulos do gênero – cada qual com uma originalidade única que acrescenta mais e mais camadas a esse tipo de narrativa. Agora, no início de 2024, a Netflix nos convida a conhecer a uma nova iteração desse expansivo escopo com ‘Lift: Roubo Nas Alturas’.
A trama acompanha Cyrus (Kevin Hart), um conhecido ladrão de obras de arte que é contratado, ao lado de sua equipe, pela Interpol para impedir que uma carga de ouro de um gângster bioterrorista chegue a seu destino. Aliando-se à Agente Abby Caldwell (Gugu Mbatha-Raw), com quem teve um caso em um passado não muito distante e que agora nutre de certos ressentimentos pelo mestre do crime, ele constrói um complexo plano em que todos de seu time devem roubar o ouro, avaliado em quase US$500 milhões, enquanto ele estiver no avião que o transporta para a Itália. E, conhecendo as costumeiras incursões das produções do gênero, não é nenhuma surpresa que a atmosfera seja exagerada – mas, eventualmente, as boas intenções não conseguem mascarar o fraco resultado do longa-metragem.
Dirigido por F. Gary Gray, conhecido por seu trabalho em obras como ‘Straight Outta Compton’ e ‘Velozes e Furiosos 8’, o enredo é recheado de inúmeros convencionalismos que, em qualquer outro lugar, não seriam um problema. Todavia, esses clichês servem como estrutura e conteúdo do filme e não abrem espaço para quaisquer investidas inéditas; tudo bem, é notável que o objetivo da obra não reinventar a roda, mas é notável como Gray não está preocupado em mostrar nada inédito. Afinal, temos o carismático e sarcástico protagonista, interpretado por Hart (que tenta colocar alguns elementos de sua veia cômica em um roteiro que não vai a lugar nenhum), em contraposição ao calculismo de Abby, que tenta não ser levada pelos sentimentos conflitantes por Cyrus.
E isso não é tudo: os tropes também aparecem nos coadjuvantes, seja na construção desperdiçada da hacker Mi-Sun (Kim Yoon-ji), da astuta e prática pilota Camila (Úrsula Corberó) ou do arrombador de cofres Magnus (Billy Magnussen). Em outras palavras, lidamos com os arquétipos dos tipos de personagens que já apareceram em investidas similares – e que não fogem do óbvio. Em diversos momentos, é possível premeditar as ações do grupo caso tenhamos assistido ao menos um outro longa-metragem que parte dos mesmos princípios.
O máximo que Gray tenta fazer é apostar fichas em uma arquitetura de maior ação e de maior comédia – esquadrinhando sequências que parecem mais um rip-off de ‘A Espião que Sabia de Menos’ e ‘007’ do que outra coisa. O diretor preza por revelar os detalhes dos eventos que se desenrolam de forma redundante e desnecessárias, utilizando o zoom em demasia para se infiltrar nas engrenagens da pistola carregada pelos antagonistas ou até mesmo na estrutura frágil do avião, que se desmantela segundo a segundo. É claro que essas escolhas fazem parte da estética, mas emergem como um tapa-buracos esquecível e, de fato, sem muito sentido. Todavia, não posso tirar mérito do sólido ritmo calcado pela montagem, que nos impede de sermos engolfados em uma corda-bamba.
Nem mesmo o elenco, guiado por inúmeras estrelas bastante talentosas, parece trazer o carisma necessário para mostrarem que estão se divertindo com essa aventura. Como já mencionado, Hart procura abraçar as investidas cômicas que fazem parte de sua carreira como performer, porém, conforme ele percebe que está em um beco sem saída, mergulha em um drama descompensado que não condiz com a construção do personagem; além disso, a química do time de estrelas é um tanto quanto desbotada, arrastando-se por breves noventa minutos apenas para terminarem o projeto que começaram. Não obstante as falhas dos atores e atrizes, há a problemática de um roteiro unidimensional demais para ser levado a sério, assinado por Daniel Kunka.
‘Lift: Roubo nas Alturas’ é mais do mesmo e, ainda que revolto em entradas cansativas e familiares demais para nos entreterem por completo, ainda emerge como um filme para passar o tempo. Entretanto, se você procura alguma coisa para além das obviedades criativas, sugiro assistir a outros títulos.