Filme assistido durante o Festival de Sundance 2023
É impossível assistir L’immensità e não se assustar com a exagerada exposição corporal de uma criança de cinco anos. Inexplicavelmente, Emanuele Crialese faz uso de ângulos e enquadramentos constrangedores, que destacam no centro da tela uma garotinha seminua.
O chocante “detalhe” da direção do cineasta italiano – que aparece em três ocasiões específicas – é desconfortável, desnecessário e compromete até mesmo a premissa original do drama, que é desenhar o escapismo infantil como uma metáfora para a dor de seus protagonistas. Aqui, uma mãe e seus três filhos lutam contra os abusos de um pai e esposo ausente.
Toda a mensagem de L’immensità se perde nesses três closes específicos – que visam mostrar o cotidiano da relação entre essa mãe dona de casa e seus filhos. Mas ao deliberadamente se furtar da responsabilidade de proteger a integridade de uma atriz mirim, o Crialese evidencia um problema crônico na indústria cinematográfica, que é a exploração e adultização da infância, sob a premissa de se fazer “arte”.
Indignante, os rápidos momentos – estranhamente ignorados por outros membros da imprensa – fazem com que o filme se auto destrua, invalidando todo o seu valor sentimental e o retrato da pureza pueril. E segurando essa batida narrativa de família desestruturada está Penélope Cruz, que faz das tripas coração em um filme que, por ser melodramático demais, ainda beira o piegas e blasé.
Em tese, a trama tem seu valor e quando não explora a inocência de uma pequena garota, é capaz de nos cativar a reter nossa atenção. Mas a verdade é que de filmes como L’immensità, Hollywood está cheia. Com um roteiro que abusa dos tropos estereotípicos e tenta trazer uma conversa sensível sobre identidade de gênero – mas falha miseravelmente -, o longa não consegue ser memorável.
Marcado por uma direção duvidosa e por um conceito artístico comum, nada em L’immensità faz a experiência realmente valer a pena – principalmente diante das péssimas escolhas do diretor. Não fosse por Cruz, que emana profundidade em tela, Emanuele e sua pseudo alegoria juvenil seriam apagadas pelos tempo, como de fato merecem. Trazendo referências à cultura italiana e se apoiando em uma estética delicada e em uma belíssima fotografia solar, o longa italiano é uma boa ideia, executada por alguém que eu pensaria duas vezes antes de deixar se aproximar de uma criança novamente.