quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Linda de Morrer

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Linda de Morrer‘ não se trata de um desastre absoluto, mas com frequência se aproxima bastante desta condição. Os realizadores parecem estar satisfeitos em realizar uma obra que apresente nenhuma sensibilidade, em todos os sentidos da palavra. Caracterizações pífias, humor risível e uma narrativa que anda cambaleando são os aspectos que mais se sobressaem no filme, para o imenso desgosto do espectador. Este é o tipo de filme que te faz, como brasileiro, não rir ou aproveitar um filme, mas sim se questionar: o que estamos fazendo com o nosso cinema?

Nada contra comédias, longe de mim. Eu mesmo sou um grande fã de Chaplin, mas se for fazer uma comédia, faça-a com competência, pensando-a e realizando-a de uma maneira extensiva e articulada. Não recorra abordagens e tratamentos que são rasteiros e desonestos de forma conveniente e preguiçosa.



lindademorrer_2

Por conta dessa pobreza de pensamento no filme, no final da projeção me encontrava um pouco triste e preocupado com o nosso cinema. Já sei que, enquanto filmes bastante ambiciosos e comprometidos com a arte como ‘O Som ao Redor‘ (Kleber Mendonça filho, 2013) e ‘Sangue Azul‘ (Líriro Ferreira, 2015) não ficaram em cartaz por mais de duas semanas e com salas nunca lotadas, ‘Linda de Morrer‘ ficará por pelo menos um mês (pela média Globo Filmes). Mudanças precisam ser feitas. Está se privilegiando a mediocridade, em todos os sentidos, em vez da inovação e do cinema bem feito (importante ressaltar que este filme foi beneficiado com o fundo setorial do audiovisual, ao mesmo tempo que é coproduzido pela Globo Filmes e distribuído pela 20th Century Fox).

A narrativa é a de Paula (Glória Pires), que criou uma espécie de comprimido que elimina celulites. Ela resolve se automedicar, e acaba falecendo em razão de um efeito colateral do produto, a clássica história de redenção post mortem. Obviamente, não há nenhuma análise ou discussão sobre a indústria da saúde ou sobre a vaidade e a repulsa ao envelhecimento no século XXI, o filme se limita a um ou dois diálogos bestinhas em relação a isso. Nos primeiros minutos, uma grande falha no roteiro ajuda a aumentar ainda mais o afastamento e descrença do espectador.

lindademorrer_4

A grande questão do roteiro, a de que o remédio tem efeitos colaterais que causam a morte é incrivelmente implausível. Como alguém, em sã consciência, pode ter deixado isto passar? E, por acaso, neste universo ficcional que se assemelha muito ao Brasil, não há ninguém que regule medicamentos? Alguém pode simplesmente lançar um medicamento que tenha como efeito colateral a morte com tanta facilidade assim? Essas são questões que surgiram no decorrer do filme e que enfraquecem e muito a credibilidade do filme para com o espectador. É difícil acreditar nesta história.

As caracterizações são as mais pedestres possíveis: a mãe que é viciada em trabalho, a adolescente excêntrica que não é entendida e a empregada alívio cômico sempre atrapalhada são exemplos. Junto com os diálogos pavorosos que quase nunca contém contrações e são mal articulados, onde se predomina o “onde você está?” ao invés do “onde cê tá?” (mas sério, quem é que fala assim? Ainda mais numa conversa informal…), este filme consegue trazer níveis de vergonha alheia altíssimos, de forma que esta sensação é a que predomina.

lindademorrer_5

Uma das coisas que mais me chamaram atenção no longa foi um comprometimento insano com o “ritmo”, chegando-se até a atropelar o tempo que uma cena exige para que se troque os planos de uma maneira que soa aleatória. O comprometimento com esse ideário de ritmo é preocupante, a ideia de que não se pode manter um plano por um determinado tempo senão o espectador irá “enjoar”, ainda mais vindo de um país que não tem tanta pressão para se realizar um filme comercial. Em um momento, chega-se a comprimir o fechar de uma porta, que duraria três ou quatro segundos, no máximo, para que se torne mais rápido, numa concepção irracional de montagem. Os planos não são mantidos por mais de dois segundos e isso compromete ainda mais os já despedaçados ritmo cômico e tensão das cenas, além de chamar atenção para a montagem de uma forma ruim, para o que os realizadores almejaram, soando como um videoclipe de duas horas.

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Nada contra comédias, longe de mim. Eu mesmo sou um grande fã de Chaplin, mas se for fazer uma comédia, faça-a com competência, pensando-a e realizando-a de uma maneira extensiva e articulada. Não recorra abordagens e tratamentos que são rasteiros e desonestos de forma conveniente e preguiçosa.

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Por conta dessa pobreza de pensamento no filme, no final da projeção me encontrava um pouco triste e preocupado com o nosso cinema. Já sei que, enquanto filmes bastante ambiciosos e comprometidos com a arte como ‘O Som ao Redor‘ (Kleber Mendonça filho, 2013) e ‘Sangue Azul‘ (Líriro Ferreira, 2015) não ficaram em cartaz por mais de duas semanas e com salas nunca lotadas, ‘Linda de Morrer‘ ficará por pelo menos um mês (pela média Globo Filmes). Mudanças precisam ser feitas. Está se privilegiando a mediocridade, em todos os sentidos, em vez da inovação e do cinema bem feito (importante ressaltar que este filme foi beneficiado com o fundo setorial do audiovisual, ao mesmo tempo que é coproduzido pela Globo Filmes e distribuído pela 20th Century Fox).

A narrativa é a de Paula (Glória Pires), que criou uma espécie de comprimido que elimina celulites. Ela resolve se automedicar, e acaba falecendo em razão de um efeito colateral do produto, a clássica história de redenção post mortem. Obviamente, não há nenhuma análise ou discussão sobre a indústria da saúde ou sobre a vaidade e a repulsa ao envelhecimento no século XXI, o filme se limita a um ou dois diálogos bestinhas em relação a isso. Nos primeiros minutos, uma grande falha no roteiro ajuda a aumentar ainda mais o afastamento e descrença do espectador.

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A grande questão do roteiro, a de que o remédio tem efeitos colaterais que causam a morte é incrivelmente implausível. Como alguém, em sã consciência, pode ter deixado isto passar? E, por acaso, neste universo ficcional que se assemelha muito ao Brasil, não há ninguém que regule medicamentos? Alguém pode simplesmente lançar um medicamento que tenha como efeito colateral a morte com tanta facilidade assim? Essas são questões que surgiram no decorrer do filme e que enfraquecem e muito a credibilidade do filme para com o espectador. É difícil acreditar nesta história.

As caracterizações são as mais pedestres possíveis: a mãe que é viciada em trabalho, a adolescente excêntrica que não é entendida e a empregada alívio cômico sempre atrapalhada são exemplos. Junto com os diálogos pavorosos que quase nunca contém contrações e são mal articulados, onde se predomina o “onde você está?” ao invés do “onde cê tá?” (mas sério, quem é que fala assim? Ainda mais numa conversa informal…), este filme consegue trazer níveis de vergonha alheia altíssimos, de forma que esta sensação é a que predomina.

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Uma das coisas que mais me chamaram atenção no longa foi um comprometimento insano com o “ritmo”, chegando-se até a atropelar o tempo que uma cena exige para que se troque os planos de uma maneira que soa aleatória. O comprometimento com esse ideário de ritmo é preocupante, a ideia de que não se pode manter um plano por um determinado tempo senão o espectador irá “enjoar”, ainda mais vindo de um país que não tem tanta pressão para se realizar um filme comercial. Em um momento, chega-se a comprimir o fechar de uma porta, que duraria três ou quatro segundos, no máximo, para que se torne mais rápido, numa concepção irracional de montagem. Os planos não são mantidos por mais de dois segundos e isso compromete ainda mais os já despedaçados ritmo cômico e tensão das cenas, além de chamar atenção para a montagem de uma forma ruim, para o que os realizadores almejaram, soando como um videoclipe de duas horas.

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