quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Loja de Unicórnios – Brie Larson e Samuel L. Jackson em conto de fadas da vida adulta

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Lançado no Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF) em 2017, Loja de Unicórnios (Unicorn Store) apresentou-se com um roteiro perdido no propósito e uma tentativa de criatividade mágica forçada sobre uma jornada da adolescência à maturidade. Dirigida pela notável Brie Larson (O Quarto de Jack), como uma estreia experimental, a obra tenta ser uma comédia fantástica, mas não possui o brilhantismo dos diretores desse universo, tal como Spike Jonze (Ela), Charlie Kaufman (Anomalisa) e Michel Gondry (Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças).

Devido ao sucesso de Capitã Marvel (2019) e a repetição da dupla Brie Larson e Samuel L. Jackson, a Netflix comprou os direitos de exibição dessa pequena produção. O filme entretanto, limita-se a apresentar um enredo fantástico sem desenvolvê-lo substancialmente. Com roteiro da estreante Samantha McIntyre, o longa é um desencontro entre direção e narrativa, enquanto o script aposta nas nuvens, a câmera se mantém grudada ao solo.  



A protagonista Kit (Brie Larson) é uma jovem apaixonada por artes e trabalhos manuais, mas ela não consegue encontrar nada empolgante e útil para fazer com o seu “dom artístico”. Um dia assistindo televisão no sofá, como ela costuma passar os dias, ela vê um comercial sobre uma agência para ter um emprego, basta apresentar-se lá. Assim, ela começa a vida adulta de ter um trabalho maçante em uma agência de propaganda para pagar as contas.

Até esse ponto, é possível comprar a ideia do universo de possibilidades em uma realidade paralela com objetivo de provocar nossos instintos para uma mensagem escondida sob a narrativa figurativa. Para completar o enredo, uma loja chamada The Store (A Loja) surge para Kit e o vendedor (Samuel L. Jackson) promete lhe dar o que ela mais deseja no mundo.

Com uma vestimenta chamativa – à la Willy Wonka -, o vendedor garante que ela apenas precisa merecer o produto, sem pagar nada por ele. A partir de então, Kit resolve seguir todos os conselhos do homem a fim de merecer o seu unicórnio. Pois é, o que Kit mais quer no mundo é ter um unicórnio.

Sabemos que Kit vive em um mundo paralelo de tintas, purpurinas e paetês, portanto, o sonho infantil permanece como a realização de felicidade. A questão é: por quanto tempo ela vai acreditar nisso? Talvez, esta seja a representação da lição da menina que precisa crescer e encarar a realidade.

Seria uma ótima fábula de amadurecimento colocando em perspectiva o sonho de criança e o caminho para enxergar além do mundo infantil por meio de uma visão irrestrita da vida real, como em Sinédoque, Nova York (2008) e Quero Ser John Malkovich (1999). Contudo, a direção de Brie Larson não se conecta com esse mundo, a sua construção de fantasia não consegue trazer elementos figurativos ou personagens instigantes, no máximo, a protagonista sempre tem tinta no rosto.

É natural esperar pela reviravolta da ingênua Kit em uma adulta hábil a lidar com seus problemas, até com a estranha aparição de um interesse amoroso (Mamoudou Athie). Por outro lado, a história não finaliza essa jornada de fantasia e a mudança nunca ocorre, ou seja, o filme torna-se realmente uma fábula do mítico animal, sem mais explicações.

Loja de Unicórnios constrói um caminho de 90 minutos que não chega a um objetivo. A sensação de estranhamento percorre todo a obra e permanece com o desejo de que esta história fosse contada por outras pessoas, pois o personagens mereciam mais atenção e cuidado. Para fazer um filme fantástico ou distópico, assim como qualquer outro gênero, é preciso coerência.

 

* Visto em setembro de 2017 no Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF).

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Devido ao sucesso de Capitã Marvel (2019) e a repetição da dupla Brie Larson e Samuel L. Jackson, a Netflix comprou os direitos de exibição dessa pequena produção. O filme entretanto, limita-se a apresentar um enredo fantástico sem desenvolvê-lo substancialmente. Com roteiro da estreante Samantha McIntyre, o longa é um desencontro entre direção e narrativa, enquanto o script aposta nas nuvens, a câmera se mantém grudada ao solo.  

A protagonista Kit (Brie Larson) é uma jovem apaixonada por artes e trabalhos manuais, mas ela não consegue encontrar nada empolgante e útil para fazer com o seu “dom artístico”. Um dia assistindo televisão no sofá, como ela costuma passar os dias, ela vê um comercial sobre uma agência para ter um emprego, basta apresentar-se lá. Assim, ela começa a vida adulta de ter um trabalho maçante em uma agência de propaganda para pagar as contas.

Até esse ponto, é possível comprar a ideia do universo de possibilidades em uma realidade paralela com objetivo de provocar nossos instintos para uma mensagem escondida sob a narrativa figurativa. Para completar o enredo, uma loja chamada The Store (A Loja) surge para Kit e o vendedor (Samuel L. Jackson) promete lhe dar o que ela mais deseja no mundo.

Com uma vestimenta chamativa – à la Willy Wonka -, o vendedor garante que ela apenas precisa merecer o produto, sem pagar nada por ele. A partir de então, Kit resolve seguir todos os conselhos do homem a fim de merecer o seu unicórnio. Pois é, o que Kit mais quer no mundo é ter um unicórnio.

Sabemos que Kit vive em um mundo paralelo de tintas, purpurinas e paetês, portanto, o sonho infantil permanece como a realização de felicidade. A questão é: por quanto tempo ela vai acreditar nisso? Talvez, esta seja a representação da lição da menina que precisa crescer e encarar a realidade.

Seria uma ótima fábula de amadurecimento colocando em perspectiva o sonho de criança e o caminho para enxergar além do mundo infantil por meio de uma visão irrestrita da vida real, como em Sinédoque, Nova York (2008) e Quero Ser John Malkovich (1999). Contudo, a direção de Brie Larson não se conecta com esse mundo, a sua construção de fantasia não consegue trazer elementos figurativos ou personagens instigantes, no máximo, a protagonista sempre tem tinta no rosto.

É natural esperar pela reviravolta da ingênua Kit em uma adulta hábil a lidar com seus problemas, até com a estranha aparição de um interesse amoroso (Mamoudou Athie). Por outro lado, a história não finaliza essa jornada de fantasia e a mudança nunca ocorre, ou seja, o filme torna-se realmente uma fábula do mítico animal, sem mais explicações.

Loja de Unicórnios constrói um caminho de 90 minutos que não chega a um objetivo. A sensação de estranhamento percorre todo a obra e permanece com o desejo de que esta história fosse contada por outras pessoas, pois o personagens mereciam mais atenção e cuidado. Para fazer um filme fantástico ou distópico, assim como qualquer outro gênero, é preciso coerência.

 

* Visto em setembro de 2017 no Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF).

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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